Bichos feitos de Nós: Encontros com oBichoSusPensoNaPaisGen de Ernesto Neto

 

Os textos reunidos aqui são escritas de dentro encarnadas nos encontros com grupos especiais em torno da obra de Ernesto Neto oBichoSusPensoNaPaisaGen. Como o nome bem identifica, a escultura de rede de crochê feita de bolas e fios coloridos foi instalada suspensa na antiga estação de trem Leopoldina no Rio de Janeiro em setembro de 2012, convidando os visitantes a caminharem dentro daquela gigante teia. Os encontros foram parte de uma proposta chamada “Laboratório de Tear Poético”. Junto com os artistas educadores Anita Sobar, Bernardo Zabalaga e Bianca Bernardo e a pesquisadora Virginia Kastrup, a escultura do Neto foi explorada como tear – a estrutura e também o verbo tear (de conversas, percepções multissensoriais), dando atenção e cuidado ao tempo de experimentação compartilhada da obra como território relacional suspenso, gerador de sentidos, percepções e memórias.

A proposta deste Laboratório que se reinventa como “bichos entre nós” começou em uma conversa entusiasmada com Ernesto Neto e Carmen Riquelme, gerente de seu ateliê, provocando o artista a pensar sobre a potência invisível da vida pública de sua obra, como um outro tempo continuum composto de fluxos de interações criativas e afetivas. Este tempo de fluxos de conversas na obra do Neto se concretizou em encontros muito especiais com públicos diferentes – jovens da escola Spectaculu, cegos do Instituto Benjamin Constant e usuários do programa de saúde mental Papel Pinel – como uma escultura de vozes – um outro Bicho feito de Nós (literalmente) – composta pelo tear de falas suspensas na tessitura de Nós.

O que era “e-vidente” na forma monumental da obra deu lugar ao investimento do “tear” de falas e escutas, encarnadas como “e-viventes” instantes dentro do organismo vivo ativador de um Bicho de “Nós”, ou do tear de múltiplas vozes compartilhadas. Desde o início das conversas entre “Nós”, enfatizamos a importância conceitual do registro destes “encontros” e “respostas”, buscando tornar visível e e-vidente o que foi e-vivente, como dimensão crítica e fronteira vital da proposta. Os relatos desses pesquisadores e artistas reunidos a seguir dão testemunho profundo dessa travessia crítica do sentido público da arte.

– os editores