Inventário/Invenção com Cata-encontros de Ernesto Neto (2013). Encontro Internacional Cuidado como método # 2, Saracura, Rio de Janeiro, 29 de setembro, 2017. Foto: autor desconhedido.
Brasil e Escócia: Tecendo o cuidado como método
Por Izabela Pucu, Jessica Gogan, Alison Stirling e Kate Gray
Esta quinta edição especial da Revista MESA “Cuidado como método” reúne múltiplas vozes, práticas e experiências que nos convidam a refletir sobre o cuidado enquanto força micropolítica, prática artística e modo de reprodução social, dimensão que muitas vezes se perde nos empregos diversos e correntes da palavra; que é desvirtuada nas hierarquias que se estabelecem quando o cuidado é institucionalizado, nos discursos demagógicos e paternalistas de políticos e partidos. A partir desta noção de cuidado a revista busca abordar a complexidade de processos desenvolvidas em diferentes contextos sócio-culturais, que mobilizam o cuidado como método na contemporaneidade e em diversas formas de práticas artísticas. Resultado de uma intensa rede de trocas, trabalho e investigação que vem sendo tecida desde 2015 entre Brasil e Escócia, esta edição da Revista MESA afirma a dimensão política do cuidado indicada na origem da palavra no latim cogitare, cogitar o outro, que em português se aproxima da ideia de (co)moverse, de afetar e deixar-se afetar, de mover-se com, e a si mesmo, na relação com a coletividade.
Com a colaboração de mais de noventa pessoas de diferentes continentes, contextos e territórios sócio-culturais, MESA # 5 aposta no potencial dos encontros de criarem relações de afetos, de abraçarem as diferenças e abrirem novas formas de comunicação. Especialmente alimentada pelos desdobramentos do Encontro Internacional Cuidado como Método # 2, realizado no Rio de Janeiro nos meses de setembro e outubro de 2017, esta edição representa a culminância de três anos de diálogos. Reunindo diferentes experiências de pessoas, grupos e instituições, a presente edição aprofunda os debates, visitas e festividades que integraram este encontro internacional e também registra as iniciativas de diversos grupos do trabalho na Escócia e do Projeto arte_cuidado no Brasil. Aqui podemos reconhecer as ressonâncias geradoras dessa rede internacional de colaboração em artigos, na think piece, em diálogos, intervenções e estudos de caso reunidos pela primeira vez nesta publicação.
Nosso interesse com este esforço editorial visa apoiar a reflexão individual e coletiva sobre a natureza das práticas do cuidado em diversos contextos, tanto dentro de suas especificidades territoriais, quanto além delas, facilitando discussões e o trabalho entre pessoas, grupos e instituições, de modo a fortalecer essa rede internacional de colaboração que vem sendo tecida a muitas mãos.
Breve histórico
As ações que culminaram nesta edição da Revista MESA começaram a partir da iniciativa de colaboração entre Brasil e Escócia, Exchange of Method/ Troca de Métodos, iniciada em 2015 com a coordenação do Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica – CMAHO, no Brasil, e de duas instituições escocesas, Artlink e Collective, representadas respectivamente por suas diretoras Izabela Pucu (curadora e diretora do CMAHO 2013- 2016), Kate Gray e Alison Stirling, diretoras das duas instituições escocesas com sede em Edimburgo. Com patrocínio do British Council e da Creative Scotland e apoio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, foram realizados naquele ano uma série de encontros nos dois países. Em 2016, o Instituto Mesa passou a integrar também a coordenação do projeto, por meio de sua diretora Jessica Gogan, que havia participado dos encontros do projeto na Escócia em 2015, onde ela coincidentemente estava por ocasião de uma residência de pesquisa na Escola de Arte de Edimburgo.
Motivados pela vinda dos parceiros escoceses ao Brasil os encontros se seguiram após sua partida, dando origem ao projeto arte_cuidado que, através de debates, conferências, estudos de caso e experiências buscou manter o diálogo e colaboração com as instituições, pessoas e grupos participantes das atividades em 2015. Ao longo de 2016 outras pessoas de diferentes áreas foram se agregando aos encontros do Projeto arte_cuidado, o que ampliou a abrangência das discussões, inicialmente com foco nas relações entre arte e clínica, abrindo espaço para experiências realizadas na interface com a educação, a saúde coletiva, a produção de direitos, as lutas ambientais e comunitárias, entre outros movimentos. Em dezembro de 2016 esses encontros culminaram no primeiro seminário Cuidado como método # 1, realizado no CMAHO, e uma versão preliminar do vídeo Cuidado como método, dirigido por Jessica Gogan e Daniel Leão incluindo breves depoimentos de artistas, curadores, médicos, terapeutas, pesquisadores e agentes de saúde apoiado em parte por recursos do CMAHO. Uma versão especial do vídeo foi comissionada pelo Museu de Arte do Rio – MAR, a convite da curadora e psicanalista Tania Rivera para a exposição “Lugares do delírio” (MAR, 2017). Para esta edição especial da Revista MESA o vídeo foi reeditado com uma compilação de mais de 40 entrevistas formando um arquivo documentário de 90 minutos.
Paralelamente, em Edimburgo, a colaboração entre Artlink e Collective, que se uniram de fato a partir experiência da primeira viagem de pesquisa ao Brasil, mobilizou diferente grupos de estudos, o que a aprofundou o seu histórico de colaboração a partir de um profundo compromisso com as ideias dos artistas e do entendimento da arte como ferramenta fundamental para promover a reciprocidade entre as pessoas, sejam elas artistas, colaboradores ou participantes. Mas cada organização também trabalhava com diferentes perspectivas sobre o cuidado e seu significado em relação às pessoas e contextos envolvidos. O primeiro grupo de estudo foi ligado à pesquisa de Artlink em colaboração com a Universidade de Dundee para a discussão do impacto das práticas artísticas contemporâneas em pessoas com dificuldades complexas de aprendizagem. O segundo facilitado pelo Coletivo e a crítica acadêmica Kirsten Lloyd abordou questões de reprodução social inaugurando um Grupo de pesquisa Reprodução Social ainda em andamento. Este termo foi implantado no pensamento feminista a partir da década de 1970 para descrever a reprodução da vida cotidiana e a força de trabalho no capitalismo. Esse trabalho foi historicamente excluído das análises da economia produtiva e dos sistemas salariais. A Collective continua acolhendo este grupo de leitura facilitado por Lloyd, buscando expandir a compreensão do que a reprodução social abrange hoje e indaga ainda como ela é negociada no campo da arte. Estas abordagens começaram com Wages Against Housework (1975), de Silvia Federici, e abrangem futuros queer, trabalho sexual e feitiçaria.
Tanto em Edimburgo quanto no Rio de Janeiro a noção de Cuidado como método criou uma plataforma para múltiplas trocas, permitindo o estudo de uma ampla gama de práticas de cuidado na interface da arte contemporânea com a saúde mental, a produção de direitos, a ação ambiental e outros movimentos em diversos contextos comunitários. Reunidos de forma pioneira em torno da ideia de cuidado como método, artistas, pesquisadores, curadores, médicos e terapeutas de diferentes grupos e instituições puderam experimentar e refletir sobre a arte como uma prática do cuidado, enquanto força poética, social e política capaz de mobilizar outros arranjos para as relações que constituem territórios e sociedades.
Em 2017, a parceria entre Brasil e Escócia foi reforçada pelo apoio do British Council e da Creative Scotland e, depois de meses de planejamento, deu origem ao Encontro Internacional de Cuidado como método # 2, culminando também na presente edição da Revista MESA. O Encontro internacional aconteceu no Rio de Janeiro de 26 de setembro e 06 de outubro de 2017 como resultado de intensas trocas e colaborações. Sua realização foi possível, especialmente, pelo envolvimento fundamental de mais de quarenta pessoas, entre grupos e instituições vinculados ao projeto arte_cuidado, que se engajaram de forma generosa, investiram desejo, além de capital cultural e força de trabalho em cada uma das atividades. O compromisso deles também tem sido fundamental para tornar possível essa redes de trocas, e se faz visível com muita força nesta edição da Revista MESA.
Participantes
Além dos participantes de Artlink e Collective na Escócia se envolveram também no projeto outros parceiros institucionais e diversos artistas, curadores e pesquisadores, entre eles: Edinburgh University, Edinburgh College, Shona McNaughton, Petra Bauer, Claire Barclay, James McLardy, Kevin Hutchineson, Kevin McPhee, Laura Spring, Trevor Cromie, Anne Elliot, Francescca Nobolluchi, Steve Hollingsworth, Laura Aldridge, Wendy Jacob, Kirsten Lloyd, colaboradores presentes e muitos outros não presentes nesta edição da Revista MESA. Nas atividades do Encontro Internacional Cuidado como método # 2 veio ao Brasil um grupo de cinco artistas colaboradores de Artlink e Collective, que representaram os parceiros escoceses. Shona McNaughton, Claire Barclay, Laura Spring, Wendy Jacob e James Bell participaram intensamente das atividades da programação, o que fica evidente pelas suas contribuições para a presente edição.
Entre os projetos e instituições envolvidas nos primeiros encontros promovidos pelo CMAHO a partir da vinda de representantes de Collective e Art Link no Brasil em 2015, estão os artistas e curadores que participaram do projeto de residência no Hospital da Mulher Heloneida Studart, Projeto Arte, mulher, sociedade, coordenado pela Tania Rivera também professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pela médica Ana Teresa Derraik. Este projeto experimental, tendo o envolvimento direto de professores, artistas e mestrandas da Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da UFF, gerou a exposição “Nos limites do Corpo”, realizada no CMAHO em 2016. Assim também, foram visitados os diversos grupos atuantes no Instituto Municipal Nise da Silveira, como o Coletivo Norte comum, que havia realizado ações como Sarau Tropicaus e a residência no Hotel da Loucura, projeto de Victor Pordeus; Museu de Imagens do Inconsciente, coordenado por Gladys Schincariol; Projeto arte, corpo, subjetividade, coordenado por Gina Ferreira; Bloco de Carnaval e Ponto de Cultura Loucura Suburbana, coordenado por Ariadne Moura e Abel Luiz. As visitas também incluíram encontros com os artistas e gestores ligados ao Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea e ao Atelier Gaia, na Colônia Juliano Moreira, em especial com a diretora Raquel Fernandes, o curador Ricardo Resende e então gerente de educação Bianca Bernardo, posição assumida em 2017 por Diana Kolker, que acompanhou as atividades do encontro internacional. Em 2016 acrescentou-se ainda o caso do MAC Niterói e do Macquinho Plataforma Urbana Digital, através da contribuição de Luiz Guilherme Vergara, a época diretor do museu, e de Josemais Moreira Filho, co-coordenador de arte, cultura e cidadania daquele centro comunitário. O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica – CMAHO continuou seu apoio e sediou a maioria dos encontros do Projeto arte_cuidado até o final de 2016.
A maioria dessas pessoas, grupos e instituições se mantiveram no projeto e participaram intensamente do encontro internacional Cuidado como método # 2 em 2017, a partir do qual se integraram também no projeto outros representantes do Macquinho Plataforma Urbana Digital, além de Josemais, Elielton Rocha e William Moreira, respectivamente co-coordenador de arte cultural e cidadania e coordenador de estúdio. Também outros colaboradores foram especialmente convidados, tais como, Ana Kemper, Angela Carneiro, Emília Miterofe, Magda Chagas, Mário Chagas, Tânia Marins, Thelma Vilas Boas, Túlio Franco, entre outros, que trouxeram consigo também o apoio de instituições como o Programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da UFF e o Programa Médico de Família de Niterói; do mesmo modo, a psicóloga e professora Virginia Kastrup (UFRJ) participou em várias iniciativas do projeto. Ao mesmo tempo, contamos também com a colaboração mútua do grupo TRANS coordenado por Eduardo Passos, professor da psicologia na UFF e Noelle Resende, ativista e militante de direitos humanos, unindo uma outra rede motivada pelo compartilhamento de métodos e cuidados, os quais convidamos a contribuir para o Glossário que acompanha a presente edição da Revista MESA. Com participações de quase vinte pessoas, o Glossário nos ajudou a estabelecer um vocabulário de múltiplas perspectivas para manejar a ideia de cuidado como método, aberto permanentemente a contribuições.
Como resultado de tantos encontros e múltiplas vozes, podemos dizer que a tessitura desta edição é em si um exercício do cuidado como método, o que se reflete também na maneira artesanal, digamos assim, como está sendo editada esta revista. Como uma iniciativa de colaboração tanto na pesquisa quanto na publicação, nosso interesse foi fazer da revista uma plataforma de ações coadjuvantes, de apoio à documentação e à reflexão para as várias organizações e indivíduos envolvidos, especialmente diante a precariedade dos contextos em que muitas vezes essas práticas acontecem. Constante e crescente na experiência desoladora das instituições brasileiras, a precarização das instituições operada pelas políticas neo-liberais globais começa também a impactar os contextos artístico-culturais na Escócia. Desta maneira, nossas escolhas editoriais abraçaram territorialidades, contextos e possibilidades diferentes. Buscamos um inventário polifônico, em diversos sentidos, uma plataforma de reflexão crítica composta por múltiplas vozes e práticas conectadas com as urgências de diferentes mundos e realidades.
A edição: Sobre a questão do cuidado como método
Se é comum associarmos a palavra método a um sujeito que domina, analisa, divide e clarifica o seu objeto a partir de um conjunto de regras, como nos lembra Rafael Zacca no seu think piece, “na origem, método não designava uma legislação com a qual o sujeito enquadra o seu objeto, mas o desvelamento de um caminho a ser percorrido na construção do conhecimento, portanto, não tinha uma natureza normativa, mas motora: não é a estática que determina o procedimento metódico, mas a dinâmica, o caminhar”. Como diria Walter Benjamin, citado por Zacca, “método é desvio”, no caso de tais práticas, desvio da ordem estabelecida, da tendência entrópica das instituições no Brasil; desvio dos pactos sociais que historicamente garantiram a manutenção de profundas desigualdades; desvio das hierarquias entre cuidadores e cuidado, contra a qual se contrapõe a psicanálise, como escreveu Tania Rivera em seu artigo para revista, para quem a psicanálise não se configura simplesmente como uma prática de cuidado dentro do campo dos serviços institucionais, mas como uma prática crítica do ‘cuidado’”. Rivera traz ainda em seu artigo a ideia de delírio como abertura da possibilidade de surgirem “caminhos desviantes, deslocamentos em relação a padrões já estabelecidos, numa espécie de noção performativa ou metodológica que carregaria em si uma potência de subversão política e de defesa radical da singularidade, contra toda padronização autoritária e universalizante”.
Se é verdade que as práticas do cuidado estão se disseminando no campo da arte contemporânea nos últimos dez anos, podemos dizer que isso se refere ao necessário reposicionamento sócio-cultural de artistas, curadores e demais agentes desse campo diante do acirramento de desigualdades e do crescimento dos autoritarismos no mundo. No entanto, para além desta constatação, é preciso complexificar o paradigma do cuidado, que queremos estabelecer como cerne de discussão deste número da Revista MESA, e ir além, como sugerido pela crítica e professora escocesa Kirsten Lloyd em seu artigo, e nos indagarmos acerca das formas que as relações de cuidado assumem nos encontros produzidos pela arte contemporânea e em torno dela. “O que significa incluir o cuidado em uma economia de arte capitalista”, como diria Lloyd, na qual inegavelmente a arte está inserida? “Críticas são compatíveis com a reprodução das relações que estão sendo criticadas?“, complementa Lloyd. Esta questão está no cerne da pesquisa de Lloyd sobre “reprodução social”, um tema que também ressoa nesta edição especial da MESA, em particular, com o artigo e o diálogo das artistas Cristina Ribas, Shona Macnaughton e Millena Lízia.
Estudos de casos brasileiros e escoceses: diferentes contextos e territórios
Nos estudos de caso brasileiros apresentados nesta edição da Revista MESA estão reunidos documentos sobre o histórico e a atuação de espaços e instituições que promovem a convivência entre “diferentes e diferenças”, como observa o músico e professor Abel Luiz, freqüente em contextos adversos de grande precariedade. Dois destes estudos de caso tem com foco projetos que atuam no Instituto Municipal Nise da Silveira, no bairro do Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. Antigo hospital psiquiátrico Pedro II, o Instituto foi o local onde trabalhou a Dra. Nise da Silveira, a partir de meados da década de 1940, uma referência fundamental da luta anti-manicomial no Brasil, e que, de forma pioneira, lutou contra os tratamentos bárbaros a que eram submetidos os pacientes psiquiátricos. Com o apoio de funcionários do hospital, de artistas como Almir Mavignier e do crítico Mario Pedrosa (nos anos inaugurais entre 1946-1951), Dra. Nise colocou a prática artística e o papel fundamental do afeto no centro dos processos terapêuticos nos Ateliês de Terapia Ocupacional processo que culminou com a fundação do Museu de imagens do inconsciente – MII em 1952, seguido da criação da chamada Casa das Palmeiras em 1956. O MII foi um dos importantes parceiros do Projeto arte_cuidado, e também presente no vídeo Cuidado como método, em atividade contínua até hoje, apesar das dificuldades sempre acirradas.
Entre os casos relacionados ao Instituto Municipal Nise da Silveira estão o Espaço Aberto ao Tempo (EAT), definido por Lula Wanderley, seu coordenador, em breve ensaio e vídeo entrevista, como uma “instituição em busca de uma psiquiatria poética”, Além de abrigar o trabalho de Lula com esquizofrênicos, são desenvolvidas outras atividades tais como a oficina de música coordenada por Leandro Freixo, “um espaço de encontros, trocas de afetos e experiências onde o tempo não assume contorno pré-estabelecido com tarefas rotineiras, mas onde o tempo é o próprio espaço para o devir, para a intuição e para o prazer da criação”, como definiu Freixo. Este estudo também incluiu uma breve reflexão sobre a influência da artista Lygia Clark. Desde a sua fundação, há exatos trinta anos, o EAT tem sido um espaço importante de resgate e reprodução dos Objetos relacionais da Clark, usados no set terapêutico conhecido como Estruturação do self, processo apoiado inclusive pelo crítico britânico Guy Brett, como relatado na revista.
Ainda como parte da constelação das múltiplas atividades entorno do Instituto Nise da Silveira, o Ponto de Cultura e Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana vem produzindo através do carnaval “a transformação do preconceito contra a loucura em admiração, respeito e desejo de integrar-se”, como escreveu Ariadne Moura, sua coordenadora. Como parte das ações do encontro internacional Cuidado como método #2, EAT e Loucura, como é carinhosamente conhecida, se envolveram na realização do sarau poético-musical “Hoje é o dia do sonho”, atividades que reuniu também pessoas ligadas ao CAPS Clarisse Lispector e a Banda 762, cuidadosamente registrada em vídeo por Pâmela Perez e em foto por Denise Adams. Como bem pontuou Ariadne em seu depoimento no vídeo Cuidado como método, essas práticas apontam também para a importância do cuidado com as instituições, na medida em que nos ajudam a reconhecer as possibilidades e a necessidade de instituir, no âmbito das políticas públicas, os métodos e resultados alcançados por essas práticas experimentais produzidas na interface entre a saúde mental e a arte.
Outro estudo de caso importante, também baseado em um rico contexto histórico, é o do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea (mBrac). Situado na Colônia Juliana Moreia – em um antigo complexo asilar de saúde mental localizado na zona oeste do Rio de Janeiro – o museu carrega o nome do artista Arthur Bispo do Rosário que esteve internado na colônia por quase cinquenta anos. O museu também administra o centro de convivência para usuários de saúde mental e suas famílias, chamado Polo Experimental, que também inclui o Atelier Gaia – um estúdio coletivo para residência de artistas e ex-internos do antigo asilo. O trabalho de dois dos artistas do Gaia – Arlindo e Clovis – são apresentados nesta edição por meio de ensaios, intervenções e vídeos incluindo seus depoimentos e de outros artistas do Ateliê no vídeo do Cuidado como método. Em suas reflexões, diretora Raquel Fernandes, curador Ricardo Resende e Diana Kolker, gerente de educação do mBrac, apresentam em seus ensaios o museu compreendido como ferramenta de transformação social, como institucionalidade moldada pelas práticas do cuidado “na medida em que também se deixa afetar e transformar pela sociedade e pelo território do qual é parte”. Em uma indagação chave eles perguntam: “Como pode um museu de arte que funciona num antigo manicômio ser um espaço de liberdade, criação, contato, afeto, potência, intimidade e cuidado?” Os desdobramentos deste cuidado institucional ficaram visivelmente presentes no Encontro Internacional Cuidado como método # 2, em dois momentos especialmente marcantes: o encontro com a catalogação e conservação das obras do Arthur Bispo do Rosário, abertas ao público e sendo feitas no principal espaço destinado à exposição; e também a performance de Arlindo na antiga cela em que ele esteve internado ao lado de Bispo, que misturava memórias e experiências de seu tempo internado, da figura de Bispo e do próprio sistema asilar de internação. A partir do convite feito pela organização do encontro em colaboração com mBrac para que os artistas do Gaia protagonizassem as atividades na Colônia, como um gesto de inversão das hierarquias entre cuidadores e pacientes, Arlindo – certamente inspirado numa recente exposição explorando a vida e obra do Bispo com performance – criou um novo trabalho para a ocasião sem qualquer tutela institucional, produção da sua própria autonomia como sujeito-artista. Uma aposta simultânea no risco e cuidado singular da instituição. Esses dois momentos nos oferecem uma lente sobre o potencial das práticas de cuidados em contextos institucionais, por um lado, demonstrando as possibilidades criativas do tradicional “cuidado” de conservação e preservação da memória e, por outro, um gesto coadjuvante radical e afetivo de apoio e experimentação fomentando a liberdade de Arlindo em construir suas próprias narrativas tanto em inverter as hierarquias tradicionais entre cuidadores e pacientes quanto em desafiar o lugar de fala institucional.
Também como parte da estratégia do encontro Cuidado como método # 2, foram reunidos pela primeira vez um grupo de artistas que participou em diferentes ocasiões das residências e projetos do mBrac com os artistas do Atelier Gaia, muitos dos quais nunca mais haviam retornado. A ideia seria discutir o dispositivo da residência em contextos em que essa palavra é entendida de diferentes formas, e engendra também práticas diversas, mas que podem ser aproximadas a partir da ideia de cuidado como método. Entre eles a artista Fernanda Magalhães, cujo trabalho nunca foi esquecido pelos funcionários na Colônia porque os permitiu ver as pacientes sem os rótulos que as estigmatizavam e as mantinham sempre nos mesmos lugares. Nem pacientes nem, esquizofrênicas, o que o trabalho de Fernanda revelou foi simplesmente mulheres, com seus problemas, potência e desejos, como diria em depoimento no vídeo Cuidado como método. Daniel Murgel, Gustavo Speridião e Lívia Flores também foram convidados a voltar a Colônia. Murgel, um dos residentes pioneiros, tinha construído ao longo de uma residência de seis meses uma casa de adobe / ruína feita de tijolos com a própria terra da Colônia, que ainda está presente no pátio do Polo Experimental (onde Ateliê Gaia também está baseado). Inaugurava poeticamente uma prática, como Diana Kolker e Raquel Fernandes notam em seu texto, que qualquer residência deve ser feita da própria terra e contexto da Colônia. Foi Murgel quem filmou e editou o vídeo da performance de Arlindo, lançado neste número da revista na seção Intervenções, junto com um texto de Ricardo Resende. Outro vídeo inédito Carro-coração, foi feito pela artista Lívia Flores e apresenta a sutileza da convivência e da comunicação entre ela e o artista Clóvis Aparecido, também membro do Gaia, com quem ela já havia trabalhado em outras ocasiões. A performance azul, azul, azul e azul realizada por Eleonora Fabião como parte de uma exposição “De virgens em cardumes e a cor das auras” com curadoria de Daniela Labra também foi integrada ao estudo de caso do mBrac, na medida em que produziu no âmbito daquela instituição um desvio, “uma ordem extraordinária”, como diria a artista, um estranhamento que segundo Fabião também é cuidar, “estranhar é método”. Gustavo Speridião, que residiu na colônia a convite de Tania Rivera como parte da exposição “Lugares do Delírio”, assim como Lívia, também participou do encontro. Ele retornou à Colônia outras vezes motivado pelo encontro, colheu imagens e iniciou um filme muito bonito chamado 60 minutos por segundo, nome retirado de um depoimento de Arlindo, sem conclusão até o fechamento da revista, como se nos indicasse a impossibilidade de dar forma final à experiência vivenciada na colônia que, segundo depoimento do artista durante os debates do encontro internacional, incidiu radicalmente sobre seu processo de trabalho.
O último estudo de caso brasileiro é no centro cultural comunitário Macquinho Plataforma Urbana Digital, no Morro do Palácio, em Niterói, do outro lado da Baía de Guanabara. O ex-diretor do Museu Contemporânea de Arte de Niterói, Luiz Guilherme Vergara, reflete sobre a história do Macquinho, e sua genealogia como parte do projeto Arte Ação Ambiental, iniciado quando dirigia o departamento da educação do museu em 1999, com jovens da comunidade do Morro do Palácio – onde o Macquinho foi construído, contando com a colaboração de artistas educadores, e organizações envolvidas em agenciamentos sociais na cidade. Este projeto e o próprio Macquinho foram inspirados nos modelos clínicos da iniciativa conhecida como Programa Medico Família, baseado no sistema cubano de saúde preventiva, representado na revista pelos depoimentos de Maria Celia Vasconcellos, coordenadora da implantação do Programa no Brasil, e de Emília Miterofe, assistente social do Programa. As reflexões de Vergara são acompanhadas por alguns dos diversos artistas e educadores envolvidos na história do projeto: Bia Jabor, Carlos Arthur Felipe, Eliane Carapateira, Leandro Baptista Almeida, Luiz Hubner, Marcos Barreto, Marcia Campos e Thatiana Diniz, além de Nuno Sacramento que discute um projeto mais recente de escultura social apresentado em colaboração com MAC e Macquinho. Uma outra contribuição importante para este estudo é o ensaio fotográfico de Josemais Moreira Filho. Participante da iniciativa Arte Ação Ambiental desde o inicio em 99, sua recente descoberta da fotografia com a colaboração do fotógrafo e educador Paulo Batelli oferece uma lente sensível e vital para a vida na favela. Josemais também fotografou vários contextos e oficinas do encontro Cuidado com método # 2. Por fim, Elielton Rocha (também participante no projeto Arte Ação desde seu início) nos leva ao presente através da série mensal de música / performance do centro Macquinho ON, um evento de microfone aberto que reúne músicos, djs entre outros jovens artistas, na maioria moradores do morro e de outras zonas periféricas, entre os quais muitos se formaram ou gravaram seus primeiros trabalhos no estúdio do próprio Macquinho. A serie que Elielton chama de “improvisação responsável” é organizada por ele, Wiliam Moreira e Josemias Moreira Filho, moradores do Palácio e coordenadores do Macquinho responsáveis pelas suas atividades. Como parte das atividades do encontro internacional Cuidado como método # 2 foi realizada uma edição especial do Macquinho ON – evento mensal. O estudo de caso sobre Maquinho, sua condição atual, a iniciativa da colaboração inaugural entre o museu e um programa público de saúde coletiva, nos permite pensar na transmissão do cuidado como método enquanto política cultural comunitária e ferramenta de produção de direitos.
Os escoceses apresentam na seção Estudos de caso o trabalho da organização de arte e saúde mental Artlink e do centro de arte contemporânea Collective. Em processo de reforma organizacional desde 2013, a galeria Collective transformou-se em centro de arte e mudou-se para o observatório da cidade, localizado no icônico Calton Hill, em Edimburgo, onde funcionava há centenas de anos atrás o observatório astronômico da cidade. Nesse sentido, a contribuição da Collective para a revista se alimenta do trabalho feito por Shona Macnaughton a convite desta organização – uma avaliação artístico-crítica do processo de transformação e mudança daquele centro de arte, o que resultou em documentos, em uma performance e um site na internet. A prática de Shona explora as condições políticas em torno de arquiteturas específicas, tal como aquela ocupada agora pela Collective no Calton Hill, e das estruturas institucionais. Examinando os arquivos da Collective, Shona se concentrou em mudanças na linguagem, design gráfico, diferentes ideias de coletividade e de cuidado colocadas em práticas pela Collective nos seus 34 anos de história. Participante ativa do encontro Cuidado como método #2 e das reuniões do grupo de estudo sobre reprodução social [social reproduction], Shona nos pergunta: “como diferentes corpos são tratados em um contexto carregado de simbolismo iluminista e das armadilhas de uma instituição neoliberal?”.
Um ensaio fotográfico feito a partir do filme Workers! que surgiu ao longo do projeto de colaboração e pesquisa Nothing About Us Without Us [Nada sobre nós sem nós] iniciado com o apoio da Collective em 2016 entre a artista, a cineasta sueca Petra Bauer e a SCOT-PEP, uma organização liderada por trabalhadoras do sexo em Edimburgo, na Escócia. O grupo compartilhou suas experiências diárias de trabalho, organização política e os desafios estruturais enfrentados ao tentar mudar as condições para as profissionais do sexo na Escócia. Através deste processo contínuo de ouvir e compartilhar ideias, o grupo nos pergunta: como você age politicamente quando o estigma impede que você se coloque publicamente? O que é considerado trabalho e quem tem o direito de trabalhar? Como o trabalho (de mulheres) foi representado historicamente e que novas estratégias podem ser usadas hoje para fazer um cinema feminista? Nesse sentido, pensando em novas formas de comunicação, aprendizado, produção e partilha de conhecimento, James Bell, produtor da Collective, reflete sobre o papel do não-saber, do desaprendizagem [un-learning] nos processos de aprendizagem.
Para Artlink, a retórica tem pouco significado na realidade das pessoas com deficiências complexas de aprendizado. Suas necessidades exigem que procuremos uma alternativa à linguagem limitadora e limitada atual, como afirma a escritora Nicola White em sua introdução: “as palavras não são suficientes. Eu encontrei a mim mesma tentando alcançar, me desdobrando para descrever encontros que estão além da linguagem convencional, encontros baseados em formas de comunicação diferentes e discutivelmente mais profundas; comunicação incorporada nos sentidos do corpo, ou na linguagem compartilhada do fazer.”
A necessidade de encontrar uma forma relevante de recursos de comunicação também está presente nos textos de Laura Spring e Claire Barclay que integram os estudos de caso escoceses. Elas destacam uma semelhança entre encontrar uma linguagem para se conectar com as pessoas para quem a linguagem não tem significado – como elas fazem o seu trabalho com a Artlink – e as formas criativas que encontraram para superar barreiras de idioma quando estavam no Brasil. A moral sendo tirada de que existem sempre paralelos dentro das diferenças. Para Claire, comunicação é algo que diz respeito ao toque, “a sensação do desenho nas costas e no braço é terapêutica, como uma espécie de massagem, e percebo que há uma forma de troca acontecendo”. Nesse sentido, como colocado por Laura Spring em seu depoimento, reservar um tempo para aprender um com o outro é fundamental: “A linguagem regular não parece relevante, nós criamos uma nova linguagem juntos através de tentativa e erro ao longo de meses e anos de trabalho em conjunto“. Em seu texto a artista Wendy Jacob olha de fora para dentro – um olhar sensível para pessoas com complexas dificuldades de aprendizagem enquanto elas interagem com uma obra de arte que elas em parte fizeram a curadoria.
O trabalho de Artlink existe nas margens ofuscadas por grandes questões sociais, mas sua prática representa algo muito mais amplo. Ao longo de trinta anos de trabalho, a Artlink busca atravessar os abismos criados por uma política desigual que alimenta o medo do “outro”, para criar novos entendimentos baseados no cuidado, com ênfase na escuta e na atenção àqueles que são excluídos do mainstream.
Diálogos e intervenções
A revista se fez também como lugar de aprofundamento dos diálogos públicos e dos grupos de trabalho chamados Inventário e invenção, realizado no contexto do encontro internacional, que deram origem a textos e intervenções, como citado anteriormente, no caso da performance do artista Arlindo. Entre os diálogos está o texto escrito a quatro mãos pela estudante do Colégio Pedro II de Realengo, zona norte do Rio de Janeiro, Isabella Dias, e seu professor, Luiz Guilherme Barbosa, sobre as ocupações das escolas pelos estudantes secundaristas no Brasil. Como desdobramento dos movimentos que tomaram as ruas no Brasil em 2013, em face ao desmonte da educação no país, os estudantes ocuparam, viveram, programaram e cuidaram da escola como forma de aprender a fazer outra escola, a escola-casa, a escola-floresta, ou como eles disseram, a “escola de corredor” feita nos intervalos entre as disciplinas e as obrigações; integra também a seção Diálogos a entrevista feita por Mario Chagas e Izabela Pucu com Luiza Andrade, Luiz Claudio e Maria da Penha Macena no seu quintal na Vila Autódromo. Nessa conversa, que trata da experiência do Museu das Remoções e da luta de mais de 600 famílias removidas da sua comunidade em função da realização dos jogos olímpicos no Brasil em 2016, a Vila Autódromo desponta como laboratório para uma nova democracia, território de exercício do cuidado e de novas formas de vida inventadas pela luta.
Como parte das atividades do encontro Internacional cuidado como método #2 no Instituto Nise da Silveira, Izabela Pucu, Jessica Gogan e os membros da delegação escocesa participaram de uma sessão da Rosácea, coordenada por Gina Ferreira, em colaboração com a bailarina Ana Vitória Freire e a museóloga Marcia Proença, registrada de forma muito delicada pela artista Denise Adams. As imagens desse dia, junto com um texto de Gina e Ana Vitória integram a sessão Diálogos da revista.
A interlocução entre as artistas Shona Macnaughton, escocesa, e a brasileira Milena Lízia foi disparada por sua convivência no encontro internacional. Elas conectam-se em torno de seu uso de desempenho e seu interesse conjunto em questionar contextos sócio-domésticos por meio de aparatos críticos de desempenho, seja abordando questões domésticas ou de cuidado infantil e suas associações tradicionais de raça e gênero. Sua correspondência via e-mail explora esse campo minado e pergunta como “é possível ser um artista dissidente saudável? Como diria a artista Cristina Ribas em seu artigo, também trazendo uma perspectiva feminista para criticar a associação tradicionalmente naturalizada de práticas de cuidado como sendo o trabalho de mulheres e populações negras e minoritárias, desafiando estas estruturas, é complexo: “o trabalho dos cuidados está pleno de uma fusão e confusão porque extrapola nossas individualidades, atravessando e ativando aquilo que é inter subjetivo e pré individual”, e, em sua melhor condição, pode estabelecer entre as pessoas e grupos, na diferença, uma espécie de comum, de comunidade.
A seleção de filmes feita por João Vitos Santos, o JV, foi apresentada no contexto do Macquinho ON e entrou como intervenção da revista. JV apresentou a produção de autoras e autores negros, entre eles, as mulheres do coletivo Mulheres de Pedra, que participaram do encontro por meio da contribuição de Dai Ramos, que escreveu o verbete ritual como método para o Glossário publicado nesta edição da revista, e participou dos grupos de trabalho chamados “Inventário e invenção”. O registro da festa de natal da Lanchonete<>Lanchonete de 2017 também entrou como intervenção na revista, junto com um texto da artista Thelma Villas Boas, que discute o cuidado como método a partir de sua prática junto às crianças e adultos moradores da região portuária do Rio de janeiro em uma ocupação cultural mobilizada por ela no Espaço Saracura entre 2016 e 2017. De forma delicada e honesta, Thelma partilha em seu relato e no vídeo as contradições e desafios dessa proposição feita nos limites da arte. Outra intervenção que não procura encobrir as contradições das práticas que tomam o cuidado como método é o texto lido pela médica-artista Ana Kemper sobre seu cotidiano como médica de família nos Morros do Palácio e da Mangueira ou melhor, como ela diria, sobre “como ocupar o SUS” (sistema único de saúde). Realizada numa das sessões públicas do encontro no CMAHO, a contribuição de Kemper deu origem também a um vídeo na seção Intervenções da revista. Finalmente, o “sensorium” do artista Steven Hollingsworth reforça uma compreensão do potencial criativo, sensorial e conceitual de “intervir” em modos normativos de prática. Trabalhando intuitiva e sensivelmente, o artista e seu colaborador Ben (um jovem com complexas deficiências físicas e de aprendizado) construíram uma ponte conceitual que impulsiona Ben em uma jornada profunda, criando significado para ele (e outros) além das estruturas institucionais de cuidado.
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Lançada em dezembro 2018, a presente edição bilíngüe da Revista MESA configura-se como um arquivo comum – um plataforma de documentação, colaboração e reflexão – produzido por artistas, terapeutas, médicos, enfermeiras, curadores, pesquisadores, bailarinas, psicólogos, pacientes, atores, participantes da favela, pessoas com deficiências, brasileiros e escoceses em suas práticas cotidianas e coletivas, aqui devidamente reconhecidas e celebradas.