Lanchonete com Thelma Vilas Boas. Foto: autor não conhecido.

10 meses de festa: Texto introdutório para o filme Festa de Natal da Lanchonete<>Lanchonete

Thelma Vilas Boas

A festa começou quando a Lanchonete< ainda nem se chamava >Lanchonete. Eu a sentia; podia dar exemplos que ajudassem a explicá-la mas sua definição escapava para longe das palavras.

Certa vez, recebi o convite das curadoras Paula Borghi e Bianca Bernardo para alugar a garagem no andar térreo do espaço independente Saracura1 e montar meu atelier. O fato é que não estou mais uma artista de atelier, estou uma artista da coisa pública.

Em 2016, no Capacete 2, outro espaço independente de longo prazo, havia ativado o La Boca, uma cozinha relacional.

Depois cozinhei na rua sobre as sobras dos materiais de pavimentação do “Porto maravilha” que empilhados se transformavam em fogões à lenha a céu aberto. A região é uma importante zona portuária vinculada à história da escravidão no Brasil ameaçada pela gentrificação e interesses do capital. Era uma cozinha pública mesmo, na rua e no mundo. Uma práxis que veio a fazer parte do primeiro programa de Residência Artística do Espaço Saracura 3.

Após meses de ativações no espaço público, pareceu fazer sentido dar início à composição de um espaço aberto para o mundo, mas protegido do sol e da chuva, e onde houvesse uma cozinha funcionando com mesas em volta para desenrolar uma boa conversa, com livros por perto, podendo tocar e ouvir música, com canetas e papéis para quem desejasse escrever ou desenhar, bancos e cadeiras para se sentar, copos para beber e gentes para ocupar.

Sempre trabalhei com a potência da comensalidade, capaz de reunir diferenças e diferentes em volta de uma mesa com comida boa, abrindo terreno para diálogos e trocas.

E ali, para aquela garagem, havia apenas a imagem de algo por vir. Já conhecia várias pessoas da comunidade, muitos moradores de rua e alguns comerciantes que não participavam e desconheciam por completo a agenda do Espaço Saracura.

Sendo assim, aceitei alugar a garagem e apresentei à Paula Borghi4, Bianca Bernardo5 e Cesar Jordão6 – os três gestores do espaço – uma proposta com este objetivo: provocar na garagem a instituição espontânea de algo que viesse a corroborar com a permeabilidade do projeto Saracura através da aproximação e escuta das gentes do entorno, do contexto onde se encontra e que se tornasse um vetor de cultura mais público.

Não havia uma certeza do que esta proposta viria a ser, pois era necessário deixar que as urgências e demandas percebidas a compusessem pouco a pouco durante a experimentação.

Foi assim que começou a “festa”.

O primeiro dia já foi uma grande comemoração. Levantar a porta de garagem da L<>L foi como abrir as janelas de casa pra entrar claridade, pra ver a rua, para acenar aos passantes, pra respirar e pra dizer ao mundo: Olá! Estamos aqui! E vemos que vocês também estão!!

Era um dia de sol, ventava, fazia muito calor e as pessoas passavam na calçada pra lá e pra cá. Muitos notaram a novidade, perguntaram do que se tratava aquele lugar e o movimento começou naturalmente.

Uma porta de garagem aberta no rés do chão é um portal para o mundo. É como uma tela de cinema projetando um filme em tempo real, com sons naturais e muitos roteiros paralelos. E no seu interior, como uma sala de projeção, há um lugar para assistir, conversar e pensar o mundo.

Várias narrativas entram para a garagem então Lanchonete<>Lanchonete, ficam, saem, voltam, duram algum tempo ou permanecem para sempre. E as histórias da Lanchonete também saem para o mundo e se entrelaçam com muitas outras.


Fig 1. Lanchonete: Assistindo o filme. Foto: Thelma Vilas Boas

A L<>L é um espaço onde muitas histórias se dão, é um lugar para cozinhar, para conversas e encontros. Um lugar acontecendo e se compondo aos poucos e espontaneamente por todas as gentes e suas múltiplas vozes. E o mundo, as escolhas e as prioridades definindo a direção a se tomar. Ela é composta constantemente por muitas gentes, pela programação do Saracura, pelas urgências e pelas demandas locais. Sensibilizou o entorno, a mim, o próprio Saracura e seus gestores, afetando as pessoas, as estruturas, as crenças, as agendas e as redes.

O Saracura em cima e a Lanchonete embaixo. Dois vetores de cultura, complementares, se reconhecendo como vizinhos alinhados na ideia de experimentar novas proposições e correr o risco de abrir terreno para o desconhecido e para o imprevisível.


Fig 2. Interior da Lanchonete. Foto: Thelma Vilas Boas

Um dispositivo totalmente afetado pelo mundo, pelo bairro, pelas questões econômicas e políticas atuais, pelo Saracura e seu público, seus amigos e sua rotina. Um constante movimento de afetar e ser afetado.

A garagem tinha uns 35m2 e servia de depósito. Quando cheguei e iniciei a limpeza, encontrei uma mapoteca, uma estante de ferro, duas mesas de alumínio com tampo de madeira e que se tornaram o seu mobiliário. Havia também um equipamento construído pelo coletivo Opavivará que resolveu a área de pia e bancada. Trouxe banquinhos, ganhei outros, levei louças e talheres, panelas e cafeteiras, Marine Lévesque me emprestou um fogão elétrico e o Cesar uma geladeira. Enfim havia uma Lanchonete montada com o que havia sido encontrado no caminho. Seu letreiro foi encontrado a poucos metros da garagem, em um imóvel lacrado pela vigilância sanitária há muitos anos e jazia na fachada como que esperando cair com algum temporal.

Incrível como não se mede a potência de um espaço pelo seu tamanho, mas por sua resistência.

Do surgimento da Lanchonete<>Lanchonete, passando pela ocupação e limpeza do espaço, a montagem da cozinha com o que se tinha à mão de mobiliário e equipamentos cedidos por amigos, a inauguração, todos os dias de portas abertas com o crescente envolvimento da comunidade e de parceiros, até a nossa festa de Natal, foi sempre uma festa.

Festas pelo direito de luta e uma luta constante contra o silenciamento das gentes e o apagamento dos fatos. Festas para simplesmente sentar em volta da mesa e jantarmos juntos, com as crianças e amigos do bairro, reconstituindo momentos de afeto, do estar junto com alegria, encenar alguns ritos e construir coletivamente nosso repertório afetivo.


Fig 3. Lanchonete: Festa e bolo. Foto: Thelma Vilas Boas

Foram inúmeros os deslizamentos, as falhas, as situações de conflitos e as perguntas sem respostas. Mas foram em maior número os encontros bons, potentes e que sensibilizaram positivamente todos os envolvidos.

Durante os 10 meses de festa aconteceram muitos episódios que tensionaram a composição da L<>L, que questionaram suas crenças e forçaram suas paredes. Sempre um movimento de revisão e abertura para ser pensado e repensado em seu formato e modelo. E a preparação da Festa de Natal colaborou para mais uma reflexão sobre o que a L<>L é e significa para todos os seus compositores.

Havia um enorme desejo de festejar nossa composição enquanto vetor de cultura, mas principalmente como um espaço comum, como a lanchonete da criançada, dos amigos, dos apoiadores, do Saracura, das nossas famílias expandidas, da comunidade. Não há uma só vez que a Lanchonete abriu e não festejamos. Então começamos a planejar a festa de Natal.


Fig 4. Lanchonete: Atividade com os artistas Marcos Cardoso e Edmilson Nunes. Foto: Thelma Vilas Boas


Fig 5. Lanchonete: Datilografia. Foto: Thelma Vilas Boas

Discutimos o tema “dar ou não presentes” para as 25 crianças compositoras da L<>L no grupo de estudos “Ações estético-políticas” ministrado pelos professores Jorge Vasconcelos, Mariana Pimentel e Marcia Bianchi todas as sextas-feiras também na Lanchonete. Concluímos que seria maravilhoso presenteá-los, apesar de não concordarmos com a comercialização do Natal.

Nos orientamos pelo desejo de agradá-los e pelo amor cultivado e tão sincero. Reunimos recursos e compramos presentes para cada um deles, escolhendo um por um, de acordo com seus interesses.

O Thiago, Miguel, Junior, Samuel e Miguelzinho ganharam patinetes. Alexia, a mais mocinha da turma, ganhou uma caixa de som. Os meninos apaixonados por futebol – Kauan, Kaique, Eduardo, Lohan, Matheus, Derik – receberam um meião, uma chuteira e uma bola. A Rayane e a Andriene ganharam bonecas. Os adolescentes – Buiú, Gabriel, Eduardo, Gustavo, Bruna, Brenda, Alexandra, Mariana, Nathalia – ganharam fones de ouvido. Dona Natalice, avó de três crianças, ganhou uma garrafa térmica. Maria, mãe do Miguel, um conjunto de copos para sua casa nova.

O pai da Andriene, o André, se ofereceu para se vestir de Papai Noel e entregar os presentes para as crianças. Havia o receio que muitas crianças da comunidade que não frequentavam a L<>L surgissem e se frustrassem por não ganharem presentes. Compramos algumas lembranças caso isso viesse acontecer. E aconteceu. Algumas crianças que não conhecíamos vieram e se frustraram por receberem presentes diferentes dos demais, presentes na verdade mais simples que os outros. A questão era se a distribuição de presentes poderia vir a fragilizar o que conquistamos durante todo tempo que cultivamos as relações e os afetos sem qualquer apelo material.

Havia também a incerteza quanto à reprodução de uma prática tão comercial como “o Papai Noel da Coca-Cola distribuindo presentes”, porém era uma proposta de um compositor da L<>L, pai de uma criança também compositora, morador da comunidade e envolvido na gestão das atividades. Era totalmente legítimo realizar seu desejo.


Fig 6. Lanchonete: Na calçada. Foto: Thelma Vilas Boas

Outras particularidades também surgiram quando começou a distribuição dos presentes e as (in)certezas trincaram. Algumas crianças compararam os seus presentes com os dos outros. Algumas se frustraram a ponto de entristecer. Uns fizeram escambo de imediato. Outros agradeceram de coração.

Enfim aconteceu a Festa de Natal da Lanchonete<>Lanchonete com um jantar inesquecível que foi preparado por todos durante toda semana. O pernil foi assado no forno à lenha do supermercado e o bolo, feito também pelo André que mora no alto do Morro da Providência, foi trazido por um motorista de taxi da comunidade. A Izabela Pucu trouxe os panetones, o Marcelo Oliveira comprou as uvas, a Maria mãe do Miguel providenciou os refrigerantes, o Roberto Somlo trouxe os frangos assados, outros amigos contribuíram e todos nós desfrutamos da nossa pequena casa Lanchonete<>Lanchonete em festa.

Devoramos com alegria e fome o que havia de comer, brindamos com sede o que havia de beber, comemos o bolo e dançamos na rua com as crianças até tarde da noite. Foi o último dia que nos encontramos em 2017 na Lanchonete<>Lanchonete. Foi o último dia de 10 meses de festa neste endereço!!

Os fragmentos filmados durante a festa de Natal foram gravados para constituir minha contribuição com o nº5 Cuidado como método da Revista Mesa. O texto acima é apenas introdutório, uma vez que o filme dá conta de apresentar o espaço da L<>L e do Saracura, os compositores, a atmosfera, as crianças, os conflitos, e a festa.

Em janeiro deste ano, 2018, a Lanchonete migrou para outro endereço distante apenas duas quadras do Saracura.

O bairro da Gamboa, região conhecida como Pequena África, tem vários imóveis ocupados por cidadãos sem moradia. Um deles, ocupado há 40 anos, na Rua Pedro Ernesto, é um sobrado de esquina construído em 1907, com moradia no andar superior, gráficas artesanais ocupando o que em outra época foi o quintal do casarão e um bar no térreo.

Com o objetivo de avançar na discussão sobre as práticas artísticas e sua responsabilidade na construção do tecido social, a Lanchonete<>Lanchonete migrou para o bar desta ocupação e desde então tem desenvolvido uma série de intervenções em parceria com a liderança, seus participantes, a comunidade, as crianças, os artistas, professores, pesquisadores e o mundo.

Para maiores informações, consultar o link:
https://www.facebook.com/lanchonetelanchoneteocupacaobardelas
https://www.instagram.com/lanchonete.lanchonete/

Filme da festa de Natal Lanchonete<>Lanchonete, 2017

 

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Thelma Vilas Boas
É artista paulista caipira, residente no Rio de Janeiro, com graduação em Pedagogia, estudos em Fine Art Photography na Sir John Cass College (Londres), Pós Grad em Cinema Documentário na FGV, Pós Grad em Arte e Filosofia na PUC RJ e em andamento mestrado em Artes Visuais na EBA UFRJ. Atualmente, é professora estagiária na Universidade Federal Fluminense dentro do Instituto de Arte e Comunicação Social e está em pleno curso de uma residência artística; leia-se resistência artística; batizada de Lanchonete<>Lanchonete no Espaço Saracura.
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1 SARACURA é um espaço de arte independente fundado por Bianca Bernardo, Cesar Jordão e Paula Borghi em 2016. Reúne artistas, educadores, arquitetos, curadores, pesquisadores, produtores independentes, professores universitários, vizinhos e público espontâneo. Realiza exposições de arte, conversas com artistas, lançamento e distribuição gratuita de publicações, eventos dedicados à performance, programa de residência, encontros de arquitetura e urbanismo, oficinas livres e cursos de formação, festas e apresentações musicais. Localizado em um antigo sobrado na Rua Sacadura Cabral, 219, zona portuária do Rio de Janeiro, integra o conjunto de prédios históricos edificados no começo do século XX, entre os anos de 1900 e 1906, ocupando a franja entre o morro da Providência e o mar, que na época chegava até a Rua Sacadura Cabral. A zona portuária do Rio de Janeiro vem sofrendo grandes transformações nos últimos anos, agravadas pela urgência de megaeventos que trouxeram profundas mudanças na sua malha urbana, como a demolição do viaduto Perimetral em nome da reforma dos antigos armazéns e de uma rua de pedestres – o Boulevard Olímpico. Infelizmente, as propostas de conservação e renovação norteadas pela Prefeitura no projeto “Porto Maravilha” – realizado com cerca de R$8 bilhões em investimentos durante 15 anos – negligenciam o legado da herança africana da região, marcada pelos longos anos da história da escravidão. A história negra dessa localidade permanece amplamente desconhecida, e os seus aparelhos culturais de memória e resistência não recebem a merecida atenção do estado, correndo sempre o risco de desaparecimento. Para mais informação: https://www.facebook.com/espacosaracura/

2 CAPACETE é um espaço de arte e pesquisa aberto ao público, sem fins lucrativos. Ele promove o pensamento contemporâneo através de residências de pesquisa, oficinas, workshops, seminários e palestras semanais. Com 20 anos de existência, o CAPACETE realizou inúmeros projetos de profissionais nacionais e internacionais na cidade do Rio de Janeiro, em outras cidades do Brasil e também no exterior. Para mais informação: http://capacete.org/

3 A 1# Residência Artística do SARACURA aconteceu entre os dias 5 de julho e 19 de agosto de 2016. A chamada selecionou 2 artistas que viviam no Rio de Janeiro, Ana Matheus Abbade e Thelma Vilas Boas, e 1 artista de outra cidade, Cleverson Salvaro. Tratou-se de uma residência piloto, autônoma e sem fins lucrativos, incentivando a troca artística de contextos e regiões distintas. As inscrições foram destinadas exclusivamente a artistas visuais da América Latina, de 21 a 80 anos. A seleção foi realizada por dois curadores convidados (Marcio Harum e Ricardo Resende) e o núcleo gestor do Saracura (Bianca Bernardo, Cesar Jordão e Paula Borghi).

4 Paula Borghi (1986, São Paulo) nesse exato momento vive no Parque Nacional de Itatiaia. Foi curadora adjunta da 11# Bienal do Mercosul 2018, assistente curatorial da 12# Bienal de La Havana 2015 e curadora da Residência Artística do Red Bull Station 20013/2014. Foi integrante do grupo de crítica do Centro Cultural São Paulo 2011/2012/ 2013 e do Paço das Artes 2012/2013. De 2016 a 2017 se dedica ao SARACURA, projeto que ajudou a idealizar. Em 2011 cria o Projecto MULTIPLO, uma biblioteca de arte impressa latino-americana que esteve em Cuba, Chile, Uruguai, Equador, Argentina, México, Colômbia e algumas cidades do Brasil, até ser doada em 2017 para o CCSP. Em 2016 é contemplada com o MULTIPLO pelo Rumos Itaú Cultural. Atualmente colabora com a Lanchonete <> Lanchonete e a Casero Residência.

5 Bianca Bernardo (1982, Rio de Janeiro) é artista, arte-educadora e co-fundadora do espaço independente SARACURA. Mestre em Artes pelo Ppgartes-UERJ, envolve-se com projetos educativos em instituições culturais desde 2010. Gerente de Educação do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea entre 2013-17, coordenou os projetos voltados à infância e adolescência “O Museu que nós queremos!” e “Merendeira Cor-de-Rosa: Rumo à expedição!”. Artista-educadora do Núcleo Experimental de Educação e Arte do MAM-Rio entre 2011-13. Coordenou o programa de formação da exposição “Diásporas Africanas en América del Sur: Brasil en la lente de Januário Garcias” no Museo Nacional de Las Culturas na Cidade do México/México; em parceria com o SESC lançou o material pedagógico “Caixa dos Escolhidos” e a exposição educativa “O grande veleiro”, a partir da coleção do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea. Em 2017 foi artista residente no Hyde Park Art Center em Chicago/EUA com o projeto “At the studio with mommy”, investigando os lugares da criação entre mãe e filho. Em 2018, realizou a Coordenação Pedagógica da 11a Bienal de Artes Visuais do Mercosul.

6Cesar Jordão, (1983, Rio de Janeiro). É arquiteto urbanista formado pela FAU UFRJ [2008] e mestre em urbanismo pelo PROURB [2015]. Possui experiência profissional em escritórios de médio e grande porte com projetos em diferentes escalas e propósitos multidisciplinares. Participou de grupos de pesquisa urbana e desenvolveu iniciativas na área de mobiliário e processos em fabricação digital. Atualmente se dedica a projetos de arquitetura autorais.

7 Curso da Disciplina “Processos Artísticos” do Programa de Pós-graduação em Estudos Contemporâneos das Artes/PPGCA-UFF, 2017.2, no qual a partir da ideia-força que norteia as práticas estético-políticas na arte contemporânea, questionamos: como se engendram “ações estético-políticas”? Os encontros de conversação aconteceram fundamentalmente no SARACURA e Lanchonete<>Lanchonete. As ações foram, justamente, nessa que é a região mais gentrificada da Cidade do Rio de Janeiro. Escolheu-se para tal um espaço autogerido operando com arte e com sociabilidades locais desconectadas da geopolítica artística consagrada, visando problematizar as operações urbanísticas espectaculares e desapropriadoras que o Rio de Janeiro testemunha. Será explorada a idéia de hospitalidade como modus operandi da insistência/resistência. Interessa o ato de abrir suas portas, aqui literalmente ao “rés-do-chão” aos habitantes que tal como Michel de Certeau chamava, são os “praticantes ordinários” da cidade ou os “homens lentos” de Milton Santos.