Vídeo entrevista Lula Wanderley, Instituto Municipal Nise da Silveira, 2016. Frame: Daniel Leão

Entrevista Lula Wanderley: Sensibilidade como instrumento de trabalho

Por Jessica Gogan

O artista e psiquiatra Lula Wanderley, nos anos 70 e 80, colaborou com figuras revolucionárias no campo de arte e psiquiatria no século XX no Brasil, tais como a psiquiatra Nise da Silveira, o crítico Mário Pedrosa e a artista Lygia Clark. Radicalizando e entrelaçando seus legados, Lula criou o Espaço Aberto ao Tempo (EAT), uma clínica inaugurada em 1988 no antigo Centro Psiquiátrico Pedro II (atual Instituto Municipal Nise da Silveira) no Engenho do Dentro, zona norte do Rio de Janeiro, que se tornou uma referência importante para a Reforma Psiquiátrica no Brasil.

Desenvolvendo uma clínica inovadora que, Lula chama de “psiquiatria poética”, ele abraça a potência do “entre”, do processo criativo e do relacional, de um estado de “não afirmação”, do “e” entre arte e terapia. Assim incorpora o que Lygia falava sobre “a magia” possível que reside nos seus experimentos terapêuticos como “singular estado de arte sem arte.”1 E também responde ao que Nise da Silveira sugeriu para Lula no início de sua carreira, quando falou que não tinha a menor vocação de ser médico, de “tomar sua sensibilidade como instrumento de trabalho” e ao que Mário já apontava nos anos 50 e 60 como a única revolução, “a revolução da sensibilidade”.2

Esta entrevista tem aproximadamente 30 minutos de duração e reúne alguns trechos de vídeos, mostrando vários aspetos da prática da “psiquiatria poética” de Lula Wanderley.

 

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Lula Wanderley
Artista, nascido em Pernambuco, vive no Rio desde 1976. Em Recife, colaborou como artista gráfico em jornais e revistas e fez experiências com poesia visual. Simultaneamente, estudou medicina formando-se pela Universidade Federal de Pernambuco. No Rio de Janeiro, colaborou com Nise da Silveira na Casa das Palmeiras, e com ela e Mario Pedrosa realizou o projeto de reformulação do Museu de Imagens do Inconsciente, patrocinado pela FINEP. Participou de mostras e realizou exposições individuais, entre elas A estratégia angular de um poema (CMAHO, curadoria Izabela Pucu, 2016). Colaborou também com Lygia Clark na pesquisa sobre arte/corpo/psiquismo. Criou o Espaço Aberto ao Tempo, do qual é coordenador técnico, onde desenvolve, há 25 anos, trabalho com psicóticos, tendo como meta principal a busca de uma clínica experimental e poética.

Jessica Gogan
Curadora e educadora e diretora do Instituto MESA e co-editora da Revista MESA. Doutora em História da Arte pela Universidade de Pittsburgh nos EUA (2016). Pesquisa e atua nas interfaces entre arte e sociedade com foco nos paradigmas e práticas contemporâneas éticas e estéticas que atravessam os campos de arte, curadoria e educação. Em 2017, lançou a publicação Domingos da criação: Uma coleta do experimental em arte e educação premiado pelo Itaú Rumos. Atualmente é bolsista de pós-doutorado PNPD no Programa Pós-graduação em Estudos Contemporâneas das Artes da UFF e coordena o projeto Arte_Cuidado com Izabela Pucu.
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1 Lygia Clark. “A propósito da magia do objeto,” 1965. Livro Obra.

2 A citação da Nise sobre “toma sua sensibilidade como instrumento de trabalho” aparece no início desta entrevista; a citação do Mário Pedrosa é do ensaio “Arte e revolução”, originalmente publicado no Jornal do Brasil, 16 de abril, 1967 republicado em Mário Pedrosa: Mundo, homem, arte em crise, org. Aracy Amaral. São Paulo: Perspectiva, 1986, 247.