British museum_image_right click
Antiga Moeda Romana (época Augustus 19 AC). Cortesia British Museum © Trustees of the British Museum

Caranguejos e Borboletas: Casa Daros, Rio de Janeiro
Introdução e vídeo

O que se prende e o que se suspende nos processos de vida? Para onde a borboleta pode levar o caranguejo?”

Janis Clémen, educadora1

O projeto O Sentido do Público na Arte assumiu como proposição a importância de se refletir sobre a complexidade estética e ética envolvendo as interações públicas entre a produção artística contemporânea e a sociedade, envolvendo as singularidades regionais brasileiras em três distintos contextos nacionais: Rio de Janeiro, Porto Alegre e Juazeiro, Sertão.2

O primeiro encontro da série “Caranguejos e Borboletas” foi realizado em colaboração com a Casa Daros, no Rio de Janeiro, em setembro de 2013. Antigas moedas romanas, do período do imperador Augusto, tinham uma imagem enigmática de um caranguejo segurando as asas de uma borboleta, interpretada por vários acadêmicos como moral de “festina lente” ou avanço cuidadoso.3

G. Simeoni. “Le sententiose imprese”. Lyons, Rouillé, 1561. Cortesia Warburg Institute Library
G. Simeoni. “Le sententiose imprese”. Lyons, Rouillé, 1561. Cortesia Warburg Institute Library

A imagem surpreende pela convergência entre delicadeza e força nessa justaposição quase impossível e nos ofereceu, especialmente no contexto das manifestações no Brasil em 2013, um paralelo enigmático à presença nas ruas – entre a leveza da juventude e a força ameaçadora da polícia. Inspirados por essa história recente e pelo compromisso da Casa Daros com a transformação da educação para a arte e da arte para a educação, aquela imagem foi tomada para questionar as dicotomias contemporâneas, tais como as que envolvem arte e público, arte e mercado e cidade e instituição, e explorar novas possibilidades para repensar a ideia do público na arte e na sociedade contemporânea.

Encontro regional, O Sentido do Público na Arte: Caranguejos e Borboletas, 28 de setembro de2013, Casa Daros. Fotos: Delmar Mavignier Encontro regional, O Sentido do Público na Arte: Caranguejos e Borboletas, 28 de setembro de2013, Casa Daros. Fotos: Delmar Mavignier
Encontro regional, O Sentido do Público na Arte: Caranguejos e Borboletas, 28 de setembro de2013, Casa Daros.
Fotos: Delmar Mavignier

Anita Sobar. Chão no Ar. Lambe-Lambe levado à Casa Daros para o encontro, 2013. Foto: Delmar Mavignier Vivian Caccuri. Desenho de caderno no encontro de Caranguejos e Borboletas, 2013
Imagem 1: Anita Sobar. Chão no Ar. Lambe-Lambe levado à Casa Daros para o encontro, 2013. Foto: Delmar Mavignier
Imagem 2: Vivian Caccuri. Desenho de caderno no encontro de Caranguejos e Borboletas, 2013

Mais de 30 artistas, críticos, educadores e pesquisadores participaram desse debate. O encontro foi filmado e editado em uma breve compilação das discussões e citações dos participantes, com aproximadamente 25 minutos de duração.

Agradecimentos a Casa Daros, aos nossos colaboradores Bia Jabor, Eugenio Valdés Figueroa e Roberta Condeixa e a todos os participantes: Analu Cunha, Anita Sobar, Barbara Szaniecki, Bianca Bernardo, Beá Meira, Carlos Vergara, Daniel Whitaker, Davi Marcos, Eduardo Machado, Felipe Scovino, Flavia Oliveira, Giuseppe Cocco, Iole de Freitas, Janis Clémen, Joana Mazza, Kátia Maciel, Leandra Plaza, Lígia Dabul, Márcia Ferran, Pablo Ramoz, Pedro Duncan, Pedro Hussak, Ricardo Ventura, Ronaldo Lemos, Sérgio Martins, Tatiana Altberg, Teresa Gil, Sheila Geraldo e Vivian Caccuri.

Um agradecimento especial a Elisa Pessoa, pela edição e montagem do vídeo, Taisa Moreno, pela assistência na pesquisa e produção do evento, e Barbara Szaniecki, que contribuiu com um ensaio a partir das discussões do encontro.

Também gostaríamos de manifestar reconhecimento especial ao ex-diretor de arte e educação da Casa Daros, Eugenio Valdés Figueroa, cujo sonho de um jantar vibrante, delicioso e performático, combinando caranguejos com arte, boa comida e discurso crítico, impulsionou o pensar inicial sobre os caranguejos e os debates contemporâneos – e nos levou a essa imagem enigmática do caranguejo e da borboleta. Eugenio contribuiu com uma breve reflexão para a revista sobre sua ideia inicial, lembrando-nos o papel do enigma na arte e na educação e a importância de buscar contextos diversos, descontraídos, informais e animados para conversas críticas sobre os temas contemporâneos.

_
1 Depoimento registrado no encontro “Caranguejos e Borboletas”, 28 de setembro de 2014.

2 O projeto, coordenado pelo Instituto MESA e premiado pela 10ª edição Redes de Encontros nas Artes Visuais da Funarte, promoveu uma série de encontros, abrigando o intercâmbio de ideias e experiências que vêm ressignificando o sentido de público na arte e na cultura brasileira. Partindo dessa premissa, criamos um fórum itinerante reunindo múltiplas perspectivas presentes no horizonte das práticas culturais nacionais em três regiões distintas: Rio de Janeiro/RJ, Porto Alegre/RS e Juazeiro do Norte/CE. A série de encontros foi planejada em colaboração com instituições, artistas, curadores e educadores locais: Rio de Janeiro/Casa Daros, com a gerente de arte e educação, Bia Jabor, o ex-diretor de arte e educação, Eugenio Valdés Figueroa, e a coordenadora do programa Arte é Educação, Roberta Condeixa; Porto Alegre/Bienal do Mercosul, com a curadora/educadora independente Mônica Hoff, também ex-coordenadora do projeto pedagógico da Fundação da Bienal do Mercosul e uma das curadoras da 9ª Bienal do Mercosul, e os artistas/educadores Diana Kolker e Rafa Éis, integrantes do Coletivo E, que também colaboraram com o projeto pedagógico desta e outras bienais; Juazeiro do Norte/Cariri no Centro Cultural do Banco do Nordeste, com a gerente do Centro Cultural do Banco do Nordeste em Fortaleza, Jacqueline Medeiros, o artista José Rufino, o diretor do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) e professor de arte da Universidade Federal Fluminense (UFF), Luiz Guilherme Vergara, o pesquisador da cultura popular com foco no Sertão e diretor do Centro de Artes UFF, Leonardo Guelman, o curador e diretor do Scottish Sculpture Workshop, Nuno Sacramento, e participação e colaboração especial de Felipe Caixeta, pesquisador do Sertão e mestrando da UFF e do documentarista Daniel Leão. No final, foi organizado um Encontro Nacional, realizado em parceria com o MAC, que reuniu as perspectivas regionais que atravessaram o projeto no decorrer de todo o processo. Além dos colaboradores institucionais e regionais, participaram desse encontro as pesquisadoras Sabrina Marques Parracho Sant’anna e Tania Rivera, o crítico/curador Frederico Morais, que falou pela primeira vez sobre a Bienal inaugural do Mercosul em 1997, a artista Katie Van Scherpenberg, que fez a intervenção 14+1: sal grosso sobre areia, na praia da Boa Viagem de Niterói, e o Coletivo ¡NoPasaran!, que exibiu no pátio do museu o filme É tudo mentira.

3 W. Deonna .“The Crab and the Butterfly: A Study in Animal Symbolism”. Journal of the Warburg and Courtauld Institutes, Vol. 17, No. 1/2 (1954), pp. 47-86. Published by: The Warburg Institute. (Accessed June 2013)