Brasil pais do futuro. Intervenção inspirada na frase de Stefan Zweig e na caligrafia de Gentileza na Praia de Boa Viagem, Niterói, c.1998.

Genealogia da Arte Ação Ambiental: Dobras e desdobras do cuidado no elo MAC-Macquinho

Luiz Guilherme Vergara

A derrubada de preconceitos sociais, das barreiras de grupos, classes etc., seria inevitável e essencial na realização dessa experiência vital. Descobri aí a conexão entre o coletivo e a expressão individual – o passo mais importante para tal – ou seja, o desconhecimento de níveis abstratos, “camadas” sociais, para uma compreensão de uma totalidade. O condicionamento burguês a que estava eu submetido desde que nasci desfez-se como que por encanto…

Hélio Oiticica1

“Começamos sem nada”: Futurum, Front e Novum

Tal como Ernst Bloch inicia seu livro Princípio Esperança2, abrem-se estas anotações pela referência ao “começar sem nada” do estado inaugural-experimental do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói (1996) como uma obra-acontecimento de arte pública vivida desde o seu ponto zero para transformações completamente imprevisíveis de futuros para a Boa Viagem de onde nasce o projeto Arte Ação Ambiental (1999) e o Macquinho (2008)3. É deste lugar de fala que se inaugura esta escrita encarnada, participante da genealogia dos processos de convergências e contingências, dobras e desdobras de duas esculturas sociais, estruturas vivas abertas à vida, elo MAC-Macquinho, através de uma série de viradas geopoéticas atravessadas por macro e micro-políticas locais. Observa-se ao rés do chão as geografia das ações ambientais desde o ato criador das duas arquiteturas visionárias de Oscar Niemeyer para a Boa Viagem, ambas concepções que incorporam formas intuitivas de novos imaginários radicais diante da vista de 360º da Baía de Guanabara, mas também do reconhecimento de 180º de desigualdade social com a sua vizinhança com o Morro do Palácio. Duas formas simbólicas do acontecer de imaginários arquitetônicos 4, um cálice e um arco (bumerangue) suspendem futuros enigmáticos sobre a paisagem exigindo invenções instituintes do experimental – ambiental da arte em ação e revolução permanente.


Fig 1. Museu de Arte Contemporânea de Niterói. (MAC) Panorama.


Fig 2. MAC. Olhando a Baia de Guanabara.


Fig 3. Macquinho na sua inauguração em 2008 (em 2014 passou a ser nomeado Macquinho: Plataforma Urbana Digital)


Fig.4. MAC visto do Macquinho.

É desta contextualização com a paisagem palimpséstica da Boa Viagem que se invoca a função utópica concreta da arte proposta por Bloch como antecipatória de futuros ainda-não-acabados – futurum, front e novum (Ibid. p.18) – o estado de transformação (recuperando Marx) – os sonhos diurnos – diante do que “ainda não” se conhece ou se tem consciência. “..desse modo, as divisões rígidas entre futuro e passado desabam por si mesmas: o futuro que ainda não veio a ser torna-se visível no passado…” (Ibid. p.19) É também desta configuração de futurum que se projeta uma virada ética da arte em ação ambiental como linha de fuga e rupturas curatoriais e museais com o sentido de exposição para o estado de “saber contemplativo” passivo, rompendo com o “contemplar” com lentes do passado o “que-não-veio-ainda-a-ser”. Adotou-se uma escrita fenomenológica do tempo zero do lugar-acontecer da criação pelo resgate de memórias de futuros antecipatórios de micro-geografias de afetos da Arte Ação Ambiental. O foco na territorialidade do experimental é o instrumento e o método da intuição e do afeto em jogo na potência de agir autônomo decolonial, incorporando o devir na genealogia do elo ético entre MAC-Macquinho.

O projeto Arte Ação Ambiental nascia primeiramente da necessidade de se criar um programa especialmente dedicado a construção de vínculos de educação e cidadania entre “museu-cidade-comunidade” de Niterói, iniciando em 1999 com os jovens do Morro do Palácio. Em 2008, quando o Macquinho foi inaugurado, duas formas arquitetônicas intuitivas de Niemeyer passaram a conclamar na paisagem por futuros de novas fronteiras imaginárias da arte em ação ambiental. Formaram dois centros gravitacionais dinâmicos, duas formas simbólicas que não apenas coroavam uma década de colaborações pedagógicas e sócio-culturais de enfrentamentos das adversidades, mas que se impunham como marcos e abrigos-mundos indagadores do futurum-front-novum nesta visão de paraíso. Este acontecer imprevisível exteriorizava e incorporava um processo colaborativo e afetivo de dobraduras geopoéticas que apoiaram as irradiações ambientais do MAC – comunidade do Palácio como mútuas causalidades de futuros em aberto, “ainda-não-concluídos”, por isso “escola-floresta”. O museu passava a ser mais como uma concha acústica para outras vozes sociais e presenças instituintes do lugar ao que Lucy Lippard chamou de “narrativas herméticas”: “Toda paisagem é uma narrativa hermética: encontrar um local ideal para si no mundo é encontrar um local para si em uma história.”5

Estas inquietações também inauguraram as motivações para o projeto Arte Ação Ambiental no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Como instituir a posição ética que envolvia o Programa Ambiental e o Parangolé de Oiticica, dando bases epistêmicas e ontológicas para uma abordagem pragmática instituinte das desobediências da contra-cultura dominante e da antiarte pela crescente vontade de co-criação coletiva e atravessamentos de camadas sociais? A imaginação-transformação social e o tecido cultural do simbólico estavam em jogo nos processos de reconfiguração de novas institucionalidades de acolhimentos vivenciais da transfiguração do ato expressivo em compartilhamento de subjetivações e significações de imaginários não ainda conscientes e instituídos. Por outro lado, a prática de novas interlocuções sociais está sempre confrontada pelos riscos e necessidades de se romper com os distanciamentos entre a realidade fragmentada da sociedade de classes e a produção artística confinada nos museus e circuitos alternativos da arte.

Em sintonia com as idéias de Bloch de “levar a filosofia até a esperança” (Ibid. p.17), o devir MAC-Macquinho é experimental como dobradura ou dobradiça escola-floresta, da ambivalência de um “lugar do mundo tão habitado quanto as terras mais cultivadas e tão inexplorado quanto a Antártida”. 6 Da mesma forma, trata-se também da Arte Ação Ambiental como parte de um processo catalisador de redes de cuidados constituintes de uma “consciência antecipadora”, “ainda-não-consciente”, por isso instituinte da dimensão do que Bloch elabora como “inconclusa da existência”, na possibilidade que ainda não veio-a-ser” para a desdobra MAC-Macquinho. Esta genealogia, mesmo sendo escrita hoje, é atravessada pelo espírito dos impulsos intuitivos (pensamento floresta – pensamento decolonial) que incorporavam o experimental na experimentação das práticas do espaço aberto a colaborações para futuros inaugurais, não pré-determinados, por isso geopoéticos 7, que desvelam alma e corpo em processos de vir-a-ser coletivo vibrátil no mundo8.

Provoca-se aí o primeiro situamento fenomenológico para a territorialização (desalienação) da instituição como um movimento geopoético multidirecional de Arte Ação Ambiental, escola-floresta, com coordenadas éticas geopolíticas do “acontecer solidário” situado e compartilhado da produção de sentidos e conhecimentos do museu.9

Futurum: Micro-geografias de afetos em ação
Sandálias do morro livres no MAC

Trata-se de um abrigo poético onde o habitar é equivalente do comunicar. Os movimentos do homem constroem esse abrigo celular habitável, partindo de um núcleo que se mistura aos outros.

Lygia Clark10

Cabe resgatar nesta genealogia do futuro a primeira visita ao MAC em 1998 dos jovens que viriam a formar o projeto Arte Ação Ambiental, lembrada por Telto(membro do projeto e hoje, participante da gestão atual do Macquinho). Um grupo de jovens entre 15 e 17 anos, todos moradores do Morro do Palácio 11, visitou o museu como atividade de encerramento de um programa Comunidade Solidária. Grandes altos e magros, todos de shorts e sandálias de dedo (tipo havaiana), bem gastas pelo uso, a maioria homens e negros, assim lembro quando fui recebê-los no pátio do MAC. Mesmo morando na comunidade em frente, nenhum deles tinha pisado nos salões do museu. A conversa era sobre o museu como um lugar de criação, o que era também um posicionamento da prática político-pedagógica da educação critica experimental adotada12. Assim costumávamos receber os grupos no pátio, percorrendo a subida da rampa como um ritual geopoético compartilhado de percepções dialogais, como um tapete vermelho para todos. Foi assim apresentado o processo de concepção da arquitetura do museu conforme a “explicação necessária” de Niemeyer, como um princípio esperança que fundava o lugar visionário onde “ricos e pobres”13 poderiam ter uma experiência criadora de conhecimento e beleza.

Ao entrar no salão principal, depois de deixá-los andar livremente pelo espaço circular com grandes pinturas expostas, pedimos para que um deles tirasse as sandálias (chinelos havaianos) e as posicionasse diante da obra que mais tivesse gostado tal como um espectador estaria. Enquanto isso permanecemos reunidos com o resto do grupo observando os movimentos de autonomia, emoção, indecisão e decisão do jovem, daquele que seria o primeiro ato criador do grupo no MAC. Deixando as sandálias descalçadas na posição de um espectador-invisível admirando a pintura, passamos a conversar sobre que percepções e sensações o grupo todo poderia responder àquela cena. A partir daí, foi desenvolvida uma série de deslocamentos de si e ocupações no salão principal do museu com todas as sandálias vazias, alinhadas ou amontoadas, em diferentes ordens e desordens diante das obras, formando imagens de um corpo coletivo de múltiplos corpos ausentes (invisíveis)14. Gradativamente a ausência e a presença marcada pelas sandálias ganhavam corporiedade e consciência pelo jogo poético de intervenções espaciais como coreografias espontâneas e experimentais de seus próprios corpos invisíveis.

Nesta primeira memória “das sandálias do morro no MAC”, tanto o museu era inaugurado para a vida deles, quanto eles experimentavam a percepção imaginativa-existencial de si mesmos como sujeitos plenos de energia vital, de subjetividades emergentes do devir “ainda-não conscientes” de possuir a potência do que pode o ato criador quando compartilhado e coletivo. Aquele momento lembrado por Telto, Jefferson e Douglas (todos ainda presentes no Macquinho) foi inaugural também de futuros compartilhados de micro-utopias e heterotopias ao rés do chão. Não se tratava mais de explicar as obras ou a exposição – estava então feita uma iniciação ao museu como lugar de criação por corpos de múltiplos corpos. Nesta fenomenologia, também os sentidos de arte como experiência de John Dewey eram atualizados na geopoética do jogo da ação ambiental coletiva, também inaugurando a espacialização conceitual de uma ética viva da potência de agir coletivo – “uma alegria em forma de arte”. Os futuros de tantos passados convergiam, tanto da Ética de Espinosa, quanto do pragmatismo da Arte como Experiência de Dewey. Ao rés do chão, as sandálias do morro traziam micro-utopias imprevisíveis dos abrigos poéticos da Lygia Clark, passando a habitar o destino intuitivo do MAC de Niemeyer.

Pode-se transpor esta narrativa da experiência coletiva dos jovens do morro no museu para a própria percepção de Lygia Clark, expressa por Suely Rolnik, sobre o desejo de impacto da sua obra sobre o espectador, para uma ética viva da produção de subjetividade: “O que Lygia quer produzir no espectador é que ele possa estar à altura da diferença que se apresenta na obra e cavar em sua alma a nova maneira de perceber e sentir de que a obra é portadora. Essa conquista poderá lançar o espectador em devires imprevisíveis.”15 Não era apenas o devir dos jovens espectadores, mas também o da instituição – um grande corpo arquitetônico que acolhia múltiplos corpos estranhos e instituintes de novas ressonâncias do destino coletivo do museu que estava em jogo.

Acredito que a abordagem sobre cuidado transcende esta experiência de novos modos de percepção e agir dos jovens do Palácio, pois prenuncia uma virada dupla existencial e institucional. Ao mesmo tempo que escavavam a si mesmos como co-criadores de significação e subjetividade, ativavam a própria alma selvagem da escola-floresta da Arte Ação Ambiental como território existencial de devires, onde se fecundava o desdobramento social do futurum-front-novum do Macquinho. Reconheceria neles, nas redes de colaborações e nesse acontecimento o deflagrar de agentes e agenciamentos de cuidadores e elos catalisadores do MAC-Macquinho como receptáculos da circularidade do tempo na forma-função intuitiva e afetiva do futurum do museu de ser “abrigo poético”, comunista-construtivista primitivo dos cuidados implícitos com o lugar de criação, do ato de ser além da “magia dos objetos”. O museu de múltiplas utopias, das vanguardas, do experimental, se dobrava e desdobrava para a condição de dispositivo de compartilhamentos sociais.

A partir dessa visita, formou-se a equipe do Projeto Arte Ação Ambiental que subiu o morro do Palácio pela primeira vez em 1999, desenvolvendo uma iniciativa totalmente experimental como comunidade de aprendizagem e cidadania através de diferentes práticas artísticas e educação ambiental. 16 Iniciava-se também a experiência de uma utopia pragmática ao rés do chão cruzando dois mundos e geografias sociais tão excluídas mutuamente, revelando a alma experimental-ambiental de liberdade e solidariedade do museu-escola-floresta para além da criação artística centrada nos objetos da coleção MAC João Sattamini17 e das exposições temporárias do MAC de Niterói.18

Nesta época, o projeto Arte Ação Ambiental tomou forma instituinte de uma filosofia de engajamento experimental e territorial de arte e educação para o programa museu-comunidade iniciado no Morro do Palácio19. O Programa Médico de Família foi reconhecido como um modelo de ação comunitária e parceria intersetorial a ser adotado pela filosofia e ações artísticas e educativas do MAC de Niterói em Comunidades (museu sem fronteiras).20 Nesta ocasião, já se vislumbravam os novos horizontes transdisciplinares e intersetoriais de irradiações e interlocuções das práticas artísticas sócio-ambientais para fora do museu, considerando o pioneirismo do Programa Módulos do Médico de Família para a cidade de Niterói e Brasil.

Ressaltava-se o interesse nas premissas cubanas de saúde pública envolvendo o acompanhamento terapêutico preventivo comunitário de base anti-hospitalar, com foco no agenciamento de cuidados cotidianos das famílias das comunidades. Arte Ambiental assumia também esta perspectiva expandida pela geografia de ações como agenciamentos em territórios existenciais tal como na saúde coletiva expressa por Luiz Hubner21, como conceitualizações éticas que “pressupõem …ir ao encontro do territórioonde as pessoas vivem, onde a vida pulsa, na busca permanente de parcerias intersetoriais, de construção de novos saberes, novas subjetividades, novos territórios existenciais, através da coprodução de saúde com qualidade de vida.”

Na verdade, foi a convivência com os jovens do programa Arte Ação Ambiental semanalmente que, após um primeiro momento de grande resistência e estranhamento desses corpos negros no museu, cativaram todos profissionais e direções, inclusive a diretora geral, Dora Silveira (durante sua gestão até 2004), que levou o projeto ao conhecimento de Oscar Niemeyer. O arquiteto imediatamente aceitou a proposta de fazer um projeto especial para o módulo de ação comunitária no Morro do Palácio.

Da mesma forma, a conceituação da Arte Ação Ambiental se inspirava também em um debate internacional corrente na época sobre “arte pública”, em especial os projetos e idéias da Mary Jane Jacob22 que desenvolveu em Chicago o projeto Culture in Action (Cultura em Ação). Desde então já se levava em consideração o diferencial ético que aproximava essas tendências, tendo em comum os cuidados e vínculos do que se chamava community based art (arte com base na comunidade) e a saúde na comunidade, a vida cotidiana como foco das práticas dialogais artísticas, terapêuticas e pedagógicas, tanto ligadas a uma perspectiva ambiental da arte quanto a um contra-fluxo de linhas de trocas de saberes, ampliando inclusive as bases de uma museologia social. Aqui pode-se mais uma vez relembrar também Castoriadis23 com o sentido de “imaginação radical”, e ainda a obra de arte como ação de imaginários instituintes flexibilizando e demandando reconfigurações entre autonomia e participação ao invés de alienação, para além do individualismo, e ainda sim indissociáveis da produção do simbólico, não reduzidas ao funcionalismo ou assistencialismo24.

É deste front-novum do território que o projeto Arte Ação Ambiental nasceu; do cuidado incorporado como “terapêutica institucional” como avesso precário do museu monumental pelo museu-escola-floresta na prática de micro-geografias de afetos e vozes não ainda instituídas. Daí cabe a referência à preocupação de Guattari quanto à fragilidade destas terapêuticas. São mobilizações dentro das instituições por afeto e empatia que surgem dentro das instituições de baixo para cima, espontâneas, intuitivas e anarquistas.

Convém acompanhar seu desenvolvimento de perto e vigiar com quem anda, pois ela é muito mal acompanhada. […] Proclamemos em primeiro lugar que existe um objeto de terapêutica institucional e que deve estar defendido contra todos aqueles que o queiram fazer derivar para fora da problemática social real.

Felix Guattari25

Certamente, as terapêuticas institucionais são frágeis e precisam ser defendidas, pois lidam com potências afetivas que atuam na dimensão humana das micro-políticas e se aproximam do pensamento decolonial. A fenomenologia de Merleau-Ponty em especial foi tomada ao longo desse processo como base comum do pensamento e premissa decolonial,26 considerando a necessidade de uma virada epistêmica abrangendo as instituições produtoras de pensamento e pedagogias. Esta virada crítica institucional ressalta a centralidade do corpo e afetos no posicionamento ético para se atingir as mudanças nos modos de percepção perante as estruturas sociais e políticas voltadas ao cuidar, construir e pertencer junto às contingências e contigüidades do acontecer de micro-utopias ao rés do chão. Prospectam-se nessas mesmas bases o acontecer da arte ação ambiental como micro-geografias de afetos para uma escola-floresta de formação de redes de colaboração e conectividade de saberes entre a arte, educação, saúde e meio ambiente. Nesta mesma linha fenomenológica pode se revisar a potência simbólica e ética da conceituação de Mário Pedrosa de museu-vivo como “instrumento de síntese”: O museu de arte, sobretudo o museu vivo, experimental, que visa o povo, a atraí-lo, educando-o, pode ser o lugar privilegiado para essa reeducação não-lógica, mas perceptivo-estética (…)27.

Ao mesmo tempo, tem-se a museologia social (da Carta da mesa-redonda de Santiago do Chile, 1972 28) rejeitando reproduzir estados contemplativos passivos e alienados de interlocuções sociais. Para que museus, se não forem instrumentos-dispositivos do experimental-ambiental de “síntese” (Pedrosa) crítica pela territorialização dos acessos à produção do simbólico como extensão imaterial do patrimônio incorporado como front da imaginação radical da vivência dos saberes e fazeres sócio-culturais.

Nesta escala do “acontecer solidário” (Santos) ressalta-se a unidade ética da fenomenologia do cuidado como prática das micro-geografias de afetos e sua radicalização maior com a “arte ambiental” e educação critica como linhas de mudanças curatoriais de sentidos para um museu vivo, escola-floresta, como acontecimento decolonial, geopoético, arquitetônico e dispositivo29 de ação social. Era a partir destas confluências e contingências institucionais bastante experimentais que foram sendo formados os devires escola-floresta também para o MAC-Macquinho, “ainda-não-conscientes” dos processos para uma pedagogia geopoética da libertação pela imaginação em todos os seus níveis de transformação social, da subjetividade e cidadania, por interlocuções de saberes ainda-não instituídos. Eram assim flexionadas as instâncias locais indissociáveis da produção do simbólico30, porém não reduzidas ao funcionalismo ou assistencialismo31.

Teoria-Práxis: Experiências da alegria como forma de arte
Oficinas e Territórios de dobraduras de papéis existenciais

O ser que condiciona a consciência assim como a consciência que trabalha o ser, compreendem-se em última instancia somente a partir de onde e para onde tendem. A essência não é o que foi, ao contrário: a essência mesma do mundo situa-se na linha de frente.

Ernst Bloch32

Ao final dos primeiros anos de encontros, Renan, jovem do morro do Palácio, expressou durante uma oficina de jogos de criação artística (Jogos Neoconcretos) que o que “fazemos é alegria em forma de arte!” Esta frase está impressa nas paredes do Macquinho. Ela é uma síntese de um processo de cuidado por muitas mãos de cidadania, arte e ação ambiental pela produção de afetos alegres. Tal como Espinosa definia a alegria como potência de agir, a experimentação pedagógica da arte ambiental introduzia a natureza afetiva da criação coletiva como modos de percepção e transformação de si mesmos como sementes de imaginação radical de futuros não-ainda-conscientes.


Fig 5. Arte Ação Ambiental “alegria em forma de arte”. Assinalização na abertura do Macquinho, 2008.

Além da convivência com a arquitetura-paisagem do MAC, muito mais do que como templo de arquétipos e valores universais, as práticas do projeto Arte Ação Ambiental transformavam as dobras arquitetônicas de Niemeyer em teoria-práxis dos “abrigos poéticos” da Lygia Clark. Ainda assim, algo mais existencial imantava a virada para a Arte como Ação Ambiental no MAC seguindo essas ressonâncias plenas do devir museu-escola-floresta.

Foi através da prática cotidiana de andar em ambas as geografias sociais e culturais, entre a paisagem, museu e favela, que, não apenas a instituição, mas todos os participantes direta e indiretamente envolvidos, foram tocados como co-criadores, construtores e habitantes de um instrumento de ressonâncias de futuros em corpo e alma vibrátil33 , um devir escola-floresta. Estes jovens tiveram um papel muito especial nessa história como canais e agentes de uma micro-utopia ou heterotopias do devir museu como corpo-alma de múltiplos corpos. Múltiplas linhas de ação na comunidade foram se desdobrando. Este foi o caso do jornal comunitário “O Palaciano” elaborado a partir dos encontros da Thatiana Diniz (estagiária de Comunicação da UFF) em março de 2003-2004 no Morro do Palácio, no bairro do Ingá, em Niterói34.

Modelava-se o devir MAC-Macquinho então a partir das dobras e desdobras existenciais por vários corpos, assim como se dobravam as arquitetônicas fantásticas dos jogos neoconcretos pelas mesmas mãos que produziam coletivamente papéis como artífices de futuros reciclando a si mesmos pela partilha de afetos. As artistas educadoras Bia Jabor e Eliane Carrapateira, respectivamente, conduziram estas transformações compartilhadas de encontros semanais. Esta experiência fenomenológica existencial amalgamava corpos e almas coletivos e vibráteis que passaram a se experimentar na órbita elíptica entre o morro do Palácio e o MAC. Eram tecidas extensões de si próprio, de cada subjetivação e re-significação de ser pela “criatividade da vida impulsionada pela urgência de enfrentar os obstáculos que se contrapõem à sua expansão.”35


Fig 6. Oficina de Jogos neoconcretos no MAC com os jovens do projeto Arte Ação Ambiental c.1999.


Fig 7. Exemplar dobraduras Jogo neoconcretos


Fig 8. Exemplar dobraduras Jogo neoconcretos

Não havia distância entre a prática do fazer as dobraduras e as dobras do tempo pelo “exercício espiritual de liberdade. O acontecimento da liberdade é também a realização da arte (Pedrosa)”36. Várias vidas foram dobradas pela confluência entre corpo e alma, subjetividade e comunidade, mas também o museu como dispositivo geopoético instituinte de autopoiesis, que se territorializou como Macquinho do Palácio. Ao rever a fortuna poética desenvolvida pelos jovens do arte ação ambiental nas dobraduras dos jogos neoconcretos e das oficinas de papel artesanal certamente vale reconhecê-las como “redobras da matéria” e vida do que Deleuze aprofunda como “a dobra leva ao infinito.”37 Daí se realizava uma síntese tripartite do espiritual – arte ambiental – transformação social.

Front: Macquinho: Território Expandido de Arte Ações e Afetos (2008)

Agora sei onde é o Macquinho. Lá em baixo.
Comentário de Luiz Camillo Osório no dia da inauguração do Macquinho (no alto do Morro do Palácio  apontando para o MAC lá embaixo na orla da Boa Viagem, Dezembro de 2008)

Vale a pena lembrar aqui um importante comentário mencionado por Lucy Lippard na introdução do seu ensaio All Over the Place onde ela cita Steve Gonzalez: “A maioria das pessoas eruditas diz onde está escrito? As nossas pessoas dizem onde foi vivido?”38 Com a mostra “Arte Ações e Afetos”, incluindo os cartazes aditivos de Almir Mavignier, “Estrela do Morro do Palácio”, especialmente projetados como doação para o projeto, o Macquinho foi inaugurado coroando o futuro-front-novum de nove anos do programa Arte Ação Ambiental. O MAC-Macquinho era então territorializado como abrigo e laboratório de processos experimentais de arte ambiental e cidadania.39 A escolha do título da mostra “Arte Ações e Afetos” na varanda do MAC e no Macquinho celebrava a potência relacional e ética de alcance social e intergeracional da arte ambiental pelos cuidados ampliados de sínteses para agenciamentos terapêuticos institucionais, saúde coletiva e cidadania.40

O projeto Comuniarte (assim chamado pelos jovens participantes) atualizou as aproximações entre concepções participativas e preocupações integradas de curadoria, arte e educação a partir da colaboração entre o MAC e Museu Andy Warhol. Não se tratava mais de um projeto para um museu centrado em acervos e culto às obras de um artista, mas no desenvolvimento e abordagem de um programa a partir de práticas artísticas atualizadas no sentido da co-criação de protagonismos locais e agenciamentos territoriais de novas subjetividades através de ações coletivas na comunidade. Primeiramente, o Comuniarte era resultado do cuidar da renovação do projeto Arte Ação Ambiental. 41 Mais uma nova geração de adolescentes ganhava corporeidade e territorialidade geopoética pela prática de co-criação de si mesmos como novas subjetividades de múltiplas vozes e corpos da mostra Arte Ação Afetos.42


Fig 9. Marcos Cardoso. Comuniarte. Obra realizada em colaboração com o grupo Comuniarte, 2008

A colaboração MAC de Niterói, Museu Andy Warhol, e os diversos departamentos da UFF colocou em perspectiva local – internacional o próprio potencial do Macquinho (como abrigo de futuros geopoéticos e laboratório de arte ação e agenciamentos psico-sócio-ambientais) – repensando o cuidado e afetos como parâmetros éticos para as políticas curatoriais e museais mais abrangentes de uma nova institucionalidade para o elo MAC-Macquinho. Estas fronteiras criticas estão até hoje abertas e talvez melhor dizendo constantemente ameaçadas pela descontinuidade de entendimentos, investimentos e interesses políticos e institucionais que infelizmente desfizeram o próprio elo MAC-Macquinho.

 

Novum. Anotações finais MAC – Macquinho (2013-2016)
Escola-Floresta -– terminamos com o nada. o baldio é pleno
Redes de colaborações afetivas para modelos de futuros

Cabe eleger duas anotações finais onde este futurum-front-novum do MAC-Macquinho é retomado de forma radical e infelizmente pontual e temporária. Considerando a gravidade da crise pós-2013, o devir possível da Arte Ação Ambiental seria de gerar lugares de contrafluxos e resistência utópica, considerando a época de colapsos e des-formas institucionais que atravessamos. Não por acaso os dois casos aqui abordados lidam com o Baldio, aquilo que está à margem do instituído fazendo fortes sinergias com o contexto dos desfazimentos e desformas nacionais em jogo.

A exposição “Sudário” de Carlos Vergara em 2013-201443 foi planejada para se desdobrar na colaboração experimental-ambiental da Farmácia Baldia da Boa Viagem, sendo Jessica Gogan convidada para coordenar a rede de colaborações envolvendo mais uma vez o Programa Médico de Família, professores da UFF e UFRJ e os moradores da comunidade44. Enquanto as grandes obras do Vergara eram expostas no salão e varanda do MAC, o elo MAC-Macquinho era reativado em sua potência afetiva ampliada. A mostra incluía o mapeamento de ervas medicinais invisíveis na vista da paisagem das encostas da Ilha da Boa Viagem e no Morro do Palácio, e uma intervenção paisagística com grandes bandeiras coloridas tornando visível os valores terapêuticos esquecidos destas pequenas plantas para diferentes órgãos do corpo humano.

 


A proposta terapêutica simbólica e social acompanhou este processo ético-estético resgatando o elo MAC-Macquinho-Médicos de Família e universidades (UFF-UERJ-UFRJ), em diferentes níveis e potência de futuro. A reversão de lentes e escalas entre saberes oficiais e não oficiais da medicina, a recuperação de tradições vivas de trocas de receitas de chás entre gerações da comunidade e dos encontros e compartilhamentos com a mediação dos Médicos de Família, foram algumas das conquistas da Farmácia Baldia do Morro do Palácio. Acrescenta-se ainda o reconhecimento da eficácia da prática curativa dos afetos compartilhados como terapêuticas da comunidade de trocas de saberes pela convivência dos chás das cinco no Macquinho.45

Podem-se revisitar estas memórias como futuros no passado em práticas também de micro-resistências do pensar floresta – ou como Dion Workman propõe “ressalvagizar (rewilding) o humano”46 diante da barbárie que alcança e domina a condição social dita domesticada e civilizada, onde os cuidados com a escuta das vozes do lugar, não apenas das pessoas, mas do ecossistema de sinais multissensoriais da natureza eram reconectados. O interesse experimental-ambiental do Carlos Vergara no reconhecimento dos saberes marginais da Farmácia Baldia pode também ser revisto como processos geopoéticos de acordo com sinergias a “permacultura feral” de Workman como “(…) um sistema para projetar ‘incivilização’: As chamadas ‘estruturas invisíveis’ da permacultura – as estruturas sociais, econômicas e jurídicas das sociedades humanas, as quais podem também ser chamadas de gaiolas da civilização – devem se tornar visíveis, abertas e submetidas a intenso escrutínio.”47

Ressalta-se o quanto o nível de exigência de sustentabilidade dos cuidados para projetos de agenciamentos artísticos-ambientais e sociais como este é extremamente alto e sensível. Ao mesmo tempo, registra-se que a descontinuidade das relações e vínculos com os participantes moradores do morro foi profundamente sentida, produzindo frustrações e desencantamentos.

Ainda em tempo de enfrentamentos de grandes colapsos nacionais e globais, o Baldio também foi proposto pelo artista e critico Nuno Sacramento (Portugal-Escócia) reforçando prospecções de futurum-front-novum de ações curatoriais, artísticas e educativas com bases na formação de redes de colaboração para o Macquinho, tendo o cuidado com outros modos de ser e fazer coletivo48 como posição ética ambiental. Nuno tinha como foco critico a construção de comunidades de talentos, tal como projetava Ivan Illich49 para a emancipação de valores anti-individualistas e consumistas da arte e da sociedade de consumo. O projeto foi chamado Mesa Baldio ou Mesa Ajudada (também realizado em Portugal) reunindo diferentes artífices participantes na produção e celebração de um banquete no pátio do MAC Niterói.50


Fig 18. Nuno Sacramento e a Mesa Baldia, 2016. Foto: Douglas Lopes

As duas proposições de Baldio entram em ressonâncias com outras experiências que inspiraram os estados de invenção de futurum-front-novum do elo MAC-Macquinho pelo sentido da arte ambiental em ação onde a amplitude do cuidar das micro-geografias de afetos buscam atualizar a “posição ética” do Oiticica de “negação do artista como o criador de objetos, mas que se torna um propositor de práticas”.51

Estrela no Morro: Demanda, Criar e Mudança

Ainda seguindo o pensamento floresta de Workman, alinhado ao princípio esperança de Bloch, o Macquinho hoje é uma escultura social aberta, como uma estrutura viva pública na paisagem, e como tal antecipatória de futuros ainda-não-acabados – “futurum, front e novum” (Ibid. p.18) – o “estado de transformação” está sempre na condição de escutas do devir do lugar, da renúncia e desapegos epistêmicos, para que novos modos de estar no mundo, anarquia, diversidade possam ser acolhidos. A partir de 2016 inaugura-se mais uma dobra de ação comunitária – o Macquinho On. Uma nova virada de futuros imprevisíveis é dada pela música, e portanto mais próxima das vozes e talentos da comunidade. Um estúdio de gravação passa a ser um campo imantado de capturas de potencias de afetos e oportunidades para registros musicais. Com festas atraindo cada vez mais jovens de diferentes partes e classes sociais da cidade. É a vez do devir vibrátil sonoro, que é também de escutas. Um estúdio que sobe o morro52, um produtor musical crescido no Palácio, o Dj William Moreira53, disponível para escutar a comunidade, inauguram com três palavras chaves, “Demanda, Criar e Mudança” a felicidade em ação para o Macquinho. Com Telto (Elielton Rocha) e demais companheiros da equipe de gestão de cidadania cultural do módulo, William encampa a mudança inaugural do Macquinho On. Esta é uma iniciativa totalmente produzida pelo encontro de gerações dos representantes da comunidade no módulo de ação comunitária. Fechando com as palavras do Telton: “Arte cultura plantada na favela que torna o acesso sensível e a sensibilidade acessível.”E toda vez que passo à noite em frente ao MAC, olho o morro com as luzes do Macquinho acesas – lembro do Almir Mavignier – e o Macquinho é uma estrela no morro.


Fig 19. Vista da instalação do cartaz do Almir Mavignier “Estrela no Morro” na exposição no MAC celebrando a inauguração do Macquinho, 2008.

 

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Luiz Guilherme Vergara
Professor do Departamento de Arte e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF). Como curador/diretor do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) de 2005 a 2008, foi responsável pela curadoria de diversas exposições tais como “Poéticas do infinito” (2005) e “Abrigo poético de Lygia Clark” (MAC, 2006), e pelo programa extramuros Arte Ação Ambiental (MAC,1998-), na comunidade do Morro do Palácio. Em 2013, de volta para a curadoria/direção do MAC, foi curador das exposições “Alexandre Dacosta: percursos de coexistências improváveis” e “Suzana Queiroga: olhos d’água” e participou das equipes e colaborações curatoriais das mostras de “Joseph Beuys: Res-Pública – Conclamação” para uma alternativa global e “Carlos Vergara: Sudário”. É coeditor da Revista MESA, e seus interesses de pesquisa concentram-se na interface entre arte, museus e sociedade.

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1 Hélio Oiticica. ‘A dança na minha experiência. Anotações sobre o Parangolé’. In. FIGUEREDO, Luciano. PAPE, Lygia. SALOMÃO, Wally. Aspiro ao grande labirinto. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1986, 73.

2 BLOCH, Ernst. O Princípio Esperança. Rio de Janeiro: Contraponto. Ed.UERJ, 2005.

3 O Macquinho foi construído a partir do investimento do Fundo Social do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os recursos para a construção do primeiro Módulo de Ações Comunitárias, com o projeto de Oscar Niemeyer.

4 Arquitetônica é um conceito também mais elaborado por M. Bakhtin no livro Arts and answerability: “This valuative architectonic division of the world into I and those who are allfor me is not passive and fortuitous, but is an active and ought-to-be division. This architectonic is something-given as well as something to be accomplished”. BAKHTIN, M. M. Toward a Philosophy of the Act. Texas: University of Texas Press, 1990, 75.

5 LIPPARD, Lucy. The Lure of the Local: Senses of Place in a Multicentered Society.New York: The New Press, 1997, 33.

6 BLOCH, op.cit 17

7 O sentido de Geopoética que se adota aqui é a partir da conceituação de Kenneth White.
http://institut-geopoetique.org/pt/textos-fundadores/56-o-grande-campo-da-geopoetica

8 Conceito de Suely Rolnik de “corpo vibrátil”. ROLNIK, Suely. Molda-se uma alma contemporânea:o vazio-pleno de Lygia Clark In The Experimental Exercise of Freedom: Lygia Clark, Gego, Mathias Goeritz, Hélio Oiticica and Mira Schendel, The Museum of Contemporary Art, Los Angeles, 1999.

9 SANTOS, Milton. ‘O processo espacial: o acontecer solidário’. In: SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Edusp, 2002, 165, 167.

10 Lygia Clark. Cópia do Livro-Obra. 1964 (p.36). Publicado em 1983 por Luciano Figueiredo e Ana Maria Araújo, em uma edição limitada de 24 exemplares. Lygia Clark. O Corpo é a casa: sexualidade, invasão do “território” individual. Publicado em Francês: L’homme, structure vivante d’une architecture biologique et cellulaire. Paris: Robho, nº 5-6. In. Lygia Clark. Catálogo – Retrospective Travelling Exhibition. Rio de Janeiro: Paço Imperial, 8 de dezembro de 1998 até 28 de fevereiro de 1999, 247-248.

11 Programa de bolsas para projetos sociais do governo de Fernando Henrique Cardoso, Programa Comunidade Solidária (1995-1998).

12 Estudos desenvolvidos para pesquisa de doutorado sobre os “Desafios da Arte Contemporânea para os museus”.In Search Of Mission And Identity For Brazilian Contemporary Museums The 21st. Century. PhD – Art Education, NYU, 2006. Estudo de caso o MAC Niterói e o Centro de Arte Helio Oiticica, ambos inaugurados em 1996.

13 Oscar Niemeyer. Explicação Necessária. (…) “o mar, as montanhas do Rio, uma paisagem magnífica que devia preservar…e senti que o museu seria bonito e tão diferente dos outros que ricos e pobres teriam prazer em visitá-lo. (primeira edição da inauguração do museu em 1996. VERGARA, Luiz Guilherme. Da explicação necessária à missão necessária. In. MAC de Niterói 10 anos. Niterói: Niterói Livros, 2006, 26.

14 O conceituação de corpos de múltiplas vozes de Fred Evans é fundamental para se ampliar o que Espinosa aborda como corpos de múltiplos corpos. EVANS, Fred. The Multivoiced Body. Society and communication in the age of diversity. New York: Columbia University Press, 2009.

15 Rolnik, Suely. ‘Molda-se uma alma contemporânea: o vazio-pleno de Lygia Clark’. In The Experimental Exercise of Freedom: Lygia Clark, Gego, Mathias Goeritz, Hélio Oiticica and Mira Schendel, The Museum of Contemporary Art, Los Angeles, 1999, 9.

16 Especial atenção à oficina de produção de Papéis Artísticos Artesanais coordenada pela artista educadora Eliane Carrapateira, e que se desenvolveu ao longo dos anos conseguindo a formação de jovens para a produção de papéis de alta qualidade. Estes também se tornaram agentes de formação e multiplicação de saberes e técnicas de produção de papel. Uma outra oficina (não menos importante) de jogos neoconcretos que logo passou a ser coordenada pela artista educadora Bia Jabor.

17 O Projeto Arte Ação Ambiental em sua formação inicial nasceu desta rede de colaboração entre artistas e educadores locais (de Niterói) – Carlos Artur Felipe, Cristina Chagas, Eliane Carrapateira, Marcos Pinheiro Barreto, Ronaldo Affonso e a própria equipe da Divisão de Arte Educação (DAE), interessados em ampliar sua atuação junto a diferentes áreas urbanas e grupos sociais.

18 Uma oficina de produção artística comunitária com foco especial nos trabalhos da coleção com forte representação da virada dos anos 50 e 60, das raízes construtivas da abstração geométrica, geração concreta e sua dobradura para a neoconcreta, inspirou os trabalhos desenvolvidos como jogos neoconcretos, contando com a orientação da artista-educadora Bia Jabor. Ao longo dos anos, uma pequena loja foi aberta no MAC para venda dos produtos do Projeto Arte Ação Ambiental com muito sucesso. Todos os profissionais da Divisão de Arte Educação atuaram, pesquisaram e ampliaram suas visões de arte, educação museal e ambiental junto ao programa de formação e realização do Projeto Arte Ação Ambiental. Cabe uma especial referencia àqueles que começaram suas carreiras como estagiários do MAC nesse projeto, lembrando Joana Regattieri Adam (Produção Cultural UFF), Leandro Baptista (Produção Cultural UFF), Ivan Henriques (Artes, UFRJ), Patrícia Reinheimer (licenciatura em artes, BENNETT), Roberta Condeixa (Artes – UERJ) e Tatiana Richard (Artes – UFRJ). Da mesma forma, temos uma lista de artistas e educadores que passaram pelo projeto Arte Ação Ambiental e mais tarde pelo Macquinho e igualmente conviveram com os jovens da comunidade do Morro do Palácio, tais como Eduardo Machado, Hugo Richard, Marcos Cardoso e Edmilson Nunes.

19 Inicialmente, com recursos do Programa Comunidade Solidária (1999).

20 Arte Ação Ambiental se torna também um projeto e programa de extensão na UFF com a colaboração do Departamento de Saúde Coletiva, assim como um ponto de integração entre o MAC e o Programa Médico de Família. É a partir desta rede de colaborações que os agenciamentos socioculturais do museu com outras secretarias municipais atuantes no Morro do Palácio e na cidade de Niterói passam a ser elaborados.

21Luiz Hubner. Professor do departamento de Saúde Coletiva e Coordenador do Programa Médico de Família das comunidades da Boa Viagem (1998-2008).

22Mary Jane Jacob, (reconhecida pela sua atuação em projetos de arte engajada, arte pública, tais como Culture in Action em Chicago) esteve no MAC a convite de um seminário Internacional, Museus em Transformação, organizado em parceria com o Museu da República. Este contato com Mary Jane se frutificou em propostas de arte pública em ações transdisciplinares em comunidades locais. Ainda com Mary Jane, foi planejada uma parceria com o Centro de Arte Helio Oiticica (por ocasião da XXIV Bienal de São Paulo,1998) para o desenvolvimento de uma exposição especial aproximando os trabalhos do artista Gordon Matta-Clark, em comunidades do Bronx, e as contaminações éticas-estéticas de Helio Oiticica, com a Mangueira.

23 Castoriadis elabora o “devenir autónomo de¡ sujeto en el doble sentido de la liberación de su imaginación y de la instauración de una instancia reflexionante y deliberante que dialogue con esa imaginación y juzgue sus productos.” Cornelius Castoriadis. Tiempo e Imaginacion. Zona Erógena. Nº 18. 1994, 2.

24 Cornelius Castoriadis. La Institucion e lo simbolico. La Institucion imaginaria de La sociedade. Barcelona: Tusquets Editores, 1983.

25 GUATTARI, Félix. Revolução molecular: pulsações políticas do desejo. São Paulo: Brasiliense, 1985, 88.

26 Dentro da produção crítica decolonial Ramon Grosfoguel, Aimé Césaire, Enrique Dussel, Walter Mignolo e Katherine Walsh defendem uma virada epistêmica abrangendo as instituições produtoras de pensamento e pedagogias que possam atingir os modos de percepção e posicionamento perante as estruturas sociais e políticas. Leitura recomendada. GROSFOGUEL, Ramon. Para um pluri-versalismo transmoderno. Bogotá: Tabula Rasa, Nº 9:199-215, julho-agosto, 2008.

27Mário Pedrosa. Museu, Instrumento de Síntese “… Por trás de fórmula na aparência tão simples e mesmo superficial há uma profunda síntese. (…)Tudo nele deve concorrer para aquela finalidade, desde os serviços internos às montagens de exposições, desde a casa em que se abriga, a arquitetura …não pode ser adstrito a uma única atividade sensorial artística.” Jornal do Brasil, 03.1.61. In: ARANTES, Otília (org.).  Mário Pedrosa: Política das Artes. São Paulo: EDUSP, 1995, 298.

28 Disponível em: https://www.revistamuseu.com.br/site/br/legislacao/museologia/3-1972-icom-mesa-redonda-de-santiago-do-chile.html

29Interessa a este posicionamento ético trazer e atualizar os horizontes possíveis de engajamento e pensamento ecossistêmico da arte-mundo na sociedade atual, com foco na microgeografia e micropolítica de ativaçõesde fissuras e rituais de ser e ações diretas sem o círculo receptor-desinibidor – sem a “cisão que separa o vivente de si mesmo e da relação imediata com o seu ambiente”. AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó:Unochapecó, 2010, 43.

30 Mesmo reconhecendo os desacordos conceituais entre Ernst Bloch e Cornelius Castoriadis, nesta abordagem buscamos muito mais uma síntese entre esses dois autores a partir dos conceitos de imaginário e o devir autônomo do indivíduo flexionante com uma realidade vivida. Castoriadis elabora o “devenir autónomo de¡ sujeto en el doble sentido de la liberación de su imaginación y de la instauración de una instancia reflexionante y deliberante que dialogue con esa imaginación y juzgue sus productos.” Cornelius Castoriadis. Tiempo e Imaginacion. Zona Erógena. Nº 18. 1994, 2.

31 Cornelius Castoriadis. La Institucion y lo simbólico. La Institucion imaginaria de La sociedade. Barcelona: Tusquets Editores, 1983.

32 BLOCH, op. cit, 28.

33 Remetendo a Suely Rolnik, op.cit.

34 Thatiana Diniz dá seguimento à oficina de texto que era conduzida pela Cristina Chagas em 2003. A pauta do Jornal Palaciano foi lançada em 2004, orientada pelo sentido de elevar a auto-estima do cidadão por meio do resgate da história desta comunidade e da divulgação de eventos e curiosidades da vida cotidiana de seus moradores, fatos marcantes de uma sociedade que jamais alcançam as páginas da grande imprensa.

35 ROLNIK, op.cit, 9.

36 Mário Pedrosa citado por Lygia Clark em “A propósito da magia do objeto.” 1965. Livro-Obra. In: Lygia Clark. Catálogo – Retrospective Travelling Exhibition. Rio de Janeiro: Paço Imperial, 8 de dezembro de 1998 até 28 de fevereiro de 1999, 247-248.

37 DELEUZE, Gilles. A Dobra.Leibniz e o Barroco, São Paulo: Papirus Editora, Campinas, 1991, 13.

38 LIPPARD, op.cit, 4.

39 Infelizmente, neste mês de dezembro de 2008 era o fim do governo do Prefeito Godofredo Pinto. Com a mudança da gestão, incluindo minha saída da direção do MAC, o Macquinho foi fechado. As fortes chuvas de dezembro e janeiro de 2009 também causaram abalos e riscos na encosta do morro, ameaçando a própria construção com sérias rachaduras. Assim, ao mesmo tempo que a trajetória da mostra Arte Ações e Afetos foi resultado de 8 meses de processos e colaborações, em janeiro de 2009, esse projeto e filosofia foi descontinuado pela nova gestão municipal da cultura.

40 Ao longo de todo o ano de 2008 foi desenvolvido o projeto de atualização do Arte Ação Ambiental com o intercâmbio tripartite entre o MAC, diferentes departamentos da UFF e a contribuição especial Museu Andy Warhol de Pittsburgo (EUA) através da Jessica Gogan (então Curadora e Coordenadora de Programas especiais do Museu Andy Warhol), com patrocínio da Oi Futuro.

41 Desta vez, novos professores e departamentos da UFF foram reunidos, formando uma verdadeira rede ou comunidade de múltiplos saberes, tais como: Luiz Hubner – Instituto de Saúde na Comunidade e Coordenador do Prog. Médico de Família (2008); Paulo Carrano – Coordenador do Programa de Mestrado em Educação (2008); Roberta Condeixa – Divisão de Arte Educação do MAC; Prof. Marli Cigagna – Instituto de Geociência; Sonia Monerat – Instituto de Letras; e Paulo Carrano – Coordenador do Programa de Mestrado em Educação.

42 A programação de oito meses envolveu diferentes níveis de colaborações desde os dois museus, a UFF, entre professores (de Letras, Pedagogia, Saúde Coletiva e Geociência), estudantes universitários e jovens do ensino médio da comunidade, ainda o programa Médico de Família, incluindo a participação de artistas e outros profissionais convidados ligados à cultura, educação e saúde.

43 Exposição “Sudário” de Carlos Vergara foi realizada no MAC Niterói com a curadoria minha e do artista em 2013-2014, tendo a Jessica Gogan coordenado o Projeto Farmácia Baldia.

44 A proposta partia do conceito da obra do artista com o mesmo nome, Farmácia Baldia, de 1997, apresentada no projeto Arte Cidade de Nelson Brissac em São Paulo.Foram colaboradores fundamentais deste projeto: a Profa. Bettina Monika Ruppelt, farmacóloga, Universidade Federal do Paraná/ Laboratório Universitário Rodolpho Albino da Universidade Federal Fluminense; os Professores Luiz José Soares Pinto e Marcelo Guerra Santos (UERJ / UFRJ); a equipe do Programa Médico de Família (PMF); e a comunidade do Morro do Palácio,

45 No caso do projeto Farmácia, a rede de colaborações, tendo o Programa Médico de Família como agente mediador na comunidade pode envolver pessoas mais idosas para o compartilharem de conhecimentos sobre o uso terapêutico das plantas. O programa Chá das Cinco foi desenvolvido em resposta a esta demanda de compartilhamento de saberes e convivências que se desdobraram em ricos encontros no Macquinho.

46 Jorge Menna Barreto me apresentou o pensamento floresta de Dion Workman. Encontramos um forte interesse comum com o sentido de escuta do lugar – em suas palavras, que registro com total comunhão ética: “O comportamento inversionista provocou ricas reflexões e foi responsável por um belo texto que discorre sobre a escuta do lugar, renúncia, novos modos de estar no mundo, anarquia, diversidade….”. Apresentação de Barreto para Dion Workman. Uma Introdução ao pensar como uma floresta. Tradução de Jorge Menna Barreto. Texto original em inglês publicado em shikigami.net/Forest/introduction-thinking-like-forest. Acesso em 19 de julho de 2015.

47 Ibid. Dion Workman, 4.

48 O projeto Mesa Baldio foi apoiado pelo British Council, SSW (Scottish Sculpture Workshop), Creative Scotland, Observatório de Favelas no Maré, Rio de Janeiro, moradores da comunidade de pescadores de Gradin em São Gonçalo, em parceria com o, MAC Niteroi e Macquinho e o Instituto Mesa, abordando questões do território e do direito à cidade no Rio de Janeiro. Foi parte do programa de residência e colaboração internacional com a Escócia, Scottish Sculpture Workshop, entre 2014 e 2016.

49 ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. Petrópolis: Editora Vozes, 1985.

50 Mesa Baldia de Nuno Sacramento foi parte da exposição de 20 anos do museu, “Baía de Guanabara: Águas e vidas escondidas”. A produção e processo deu forma a escultura social e evento, gerando uma rede de colaborações entre jovens do Macquinho e do Observatório das Favelas como elos de uma estrutura viva de trocas.

51 Resumo Série Conglomerado subterranean TROPICÁLIA PROJECTS. Texto enviado para Universidade de Buffalo, na qual Hélio Oiticica descreve seus projetos PN10, PN11, PN12, PN13, que formariam o conglomerado subterranean TROPICÁLIA PROJECTS. Este grande projeto havia sido pensado para o Central Park de Nova York. São penetráveis que preveem a possibilidade de performances. H. O. Anuncia um terceiro projeto (o PN15). Junto com a descrição, menciona a inclusão de plantas e fotografias e maquetes. As performances não foram ainda explicitadas porque, segundo H.O., dependem do local em que os projetos serão construídos. In: Projeto Subterranean
TROPICÁLIA PROJECTS. http://54.232.114.233/extranet/enciclopedia/ho/index.cfm?fuseaction=documentos&cod=498&tipo=2

52 Cristiano Oliveira deu o primeiro acorde de virada musical em 2012 para o Macquinho levando um banquinho e o violão para fora do Macquinho.

53 Coordenador de ações culturais para atuar na comunidade.