
An Architecture of Forgetting: Journeys in the Dead Zone
Alev Adil
Este ensaio visual apresenta uma série de filmes-poemas e uma série de slides de imagens capturadas na Zona Tampão em Nicósia, produzidas pela escritora e artista Alev Adil sob o título An Architecture of Forgetting: Journeys in the Dead Zone (Uma arquitetura do esquecimento: jornadas na Zona Morta), em 2008.
Zona Morta (25 imagens tiradas em Lefkosa/Lefkosia, 2006)
A Zona Morta é uma parte de todos nós, a terra de ninguém onde reside a memória. Onde há memória, mesmo como uma mercadoria política degradada, há morte e há poesia. Essa arquitetura arruinada da memória não é apenas uma metáfora, mas uma metodologia. A memória é a arquiteta da Zona Morta, desse labirinto no coração da identidade cipriota.
O Cinema Arruinado (4 minutos)
O cinema arruinado é a chave de tudo: é o cenário da tela sobre a qual a memória é projetada. A neve penetra pelo teto desabado, partículas derretem e dançam à luz do projetor. As cortinas de veludo vermelho estão rasgadas e carbonizadas, uma rica mortalha despedaçada de um passado glamoroso. Tudo está devastado e lindo, tão irremediavelmente estranho e perdido quanto Salamina.
Uma Pequena Guerra Esquecida (4 minutos)
No coração da cidade, há essa ferida. A Zona Proibida chega a ser quase bela na maneira como indica a todos nós os nossos fracassos, nossa culpabilidade – a menos que optemos por esquecer nossas próprias responsabilidades, nossos próprios legados sangrentos e nos vermos sempre apenas como vítimas dos outros. A minha é uma guerra pequena e esquecível, mas todas as guerras dão à luz a ruínas. A ruína eterniza e naturaliza a destruição, como se sempre tivesse sido assim, e vai sempre continuar a ser.
A Memória e a Impossibilidade da Fidelidade (2 minutos)
No último dia de sua vida, à tarde, Lysandros sussurrou seu último poema sobre Apolo, o guerreiro resplandecente agora disfarçado de mil pássaros cambaleantes, e deslizou de forma irreparável da palavra falada para a escrita. Onde está a traição mais injusta? O luto apaga os que foram perdidos, sempre os traduz apenas como ausência.
O Nome de Todas as suas Bonecas (3 minutos)
Todos os nomes de suas bonecas. Ela se lembrava de todos os nomes de todas as suas bonecas. Seus rostos cegos alinhados, um júri silencioso no seu quarto testemunhando a agitação azul e turva nas sombras selvagens da infância. Existe apenas a memória de todos os nomes, suas bonecas; o resto é um manto de esquecimento. O desejo de lembrar e a força de resistência, que quer esquecer, não se anulam, mas chegam a um acordo.
Hotel Amnesia (2 minutos)
Os hotéis se deixam levar pela fantasia de que as consequências podem ser eliminadas pela camareira. Amanhã vou recomeçar: dois copos na pia do banheiro, frascos em miniatura de xampu e sais de banho, frigobar e lista de preços, menu do serviço de quarto, disque 9 para a linha externa. Eu me sentei em cafés, em Vilnius, Praga, Porto, Sevilha, a escrever itinerários fugitivos, embora nunca tenha tido a certeza se estava a fugir dos meus fantasmas ou a segui-los. O desejo de lembrar e a compulsão de esquecer estão bloqueados na cumplicidade.
Meu Sonho Favorito (3 minutos)
Só consigo me lembrar da neve e do zumbido do projetor. Estamos falando tão intensamente que na primeira vez que tive o sonho não prestei nenhuma atenção à tela, mas nas repetições subsequentes tento assistir, lembrar o que é o filme, pois sei que não há possibilidade de relembrar suas palavras, sua voz.
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Alev Adil
Poetisa cipriota anglófona, artista performática e acadêmica que foi incluída em mais de 10 antologias de poesia cipriota em inglês, grego e turco e foi traduzida para oito idiomas. Alev se apresentou em Londres, incluindo em Queen’s House no Maritime Museum, British Museum, Tate Britain, e internacionalmente, da Finlândia à Austrália. Alev tem PhD pela Central Saint Martin’s, University of the Arts, Londres, e ampla experiência no ensino de arte e literatura em nível de graduação e mestrado em universidades no Reino Unido e como professora visitante no Chipre, Grécia, Holanda, Trindade e Índia. Contato: alev.adil@gmail.com