
Um breve inventário de pequenos deslizes
ou
Diga a palavra vazio em voz alta e veja como sobe da garganta enchendo a boca.
Para criar um grupo no WhatsApp abra o aplicativo e na aba de conversas clique em “novo grupo”. Em seguida, dê nome ao grupo e adicione as participantes.
Final de junho, éramos quase vinte. Uma foto atrás da outra, alguma coisa da anterior permanece na que vem em seguida: o dispositivo do encontro primeiro. A apresentação.
O tempo das correspondências, o ritmo das mensagens, a acusação da leitura, a vagareza da resposta, um tanto de cansaço e alguns momentos de euforia. E as dúvidas, sempre as dúvidas. “Pode usar a própria imagem?” Qual a imagem que pode?
A imagem
v
e
r
t
i
c
a
l
Como não preencher as bordas? Como fazer do espaço em branco – e preto – imagem? Como escrever nas margens? Como criar no vão? Como costurar fragmentos deixando a linha solta?
Ainda inominada, a montagem aparece no meio da conversa:
“A gente pode começar por essa, e depois seguimos pra outra foto tirada da janela. Tem uma conexão melhor”. Cinema é mudar as coisas de lugar. Posicionar aquilo que do mundo chega, uma, duas, três vezes, até que algo aconteça, ainda que o acontecimento seja mesmo a exaustão.
Por vezes, pedimos que nos contassem memórias das quais não fazíamos parte. Nessas ocasiões, parecia não caber nossa participação nos dispositivos. Era quando surgiam convites, um dispositivo em paralelo, inventado no ímpeto: “E o que você vai fazer para os áudios? Tenho um desafio: pede a lista das músicas que a professora passou e escuta e se imagina na sala, me diz qual foi sua sensação”. A imagem também convocava: “Pausa pro beija-flor”. Uma voz nos pede, em narração, que o filme se suspenda por um instante. O cinema não é senão parada, pra abrir passagem a um pássaro.
Nosso breve inventário de pequenos deslizes nasce de um rearranjo de gestos que chegam, da sobreposição das cenas – talvez esse seja o toque possível para um grupo que nunca esteve todo junto, em presença, numa mesma sala. Face ao desencontro concreto, a imagem vira tato, nos encostamos assistindo a gravação de nossos cotidianos passando um ao lado, por cima, de frente ao outro.
“São Gonçalo, saudades de tu.”
E se fosse possível traçar um mapa com o som de uma voz? Desenhar uma cartografia com os olhos?
São Gonçalo, não sei bem como dizer, mas alguma coisa me acontece quando vejo seu nome escrito numa folha de caderno, que me faz querer reescrever, reinscrever, papel em filme.
***
Nós
Cintya Ferreira
De Tribobó – São Gonçalo, graduanda de Cinema pela UFF. Se interessa por imagens de arquivo e experimentações sonoras.
Gabriel Vieira
Estudante de Cinema e Audiovisual na UFF. Trabalha no Projeto Cinema Documento coordenado pelo Professor e Cineasta Miguel Freire. Nascido e morador de São Gonçalo, no bairro Porto da Pedra.
Mariana de Lima
Estuda cinema na UFF. Experimenta exercícios de montagem, fotografia e crítica na estrada entre a Cidade de Goiás e a cidade de Niterói.
Dudu
Aluno do colégio Diaz André, gosta bastante de jogos eletrônicos, não é muito chegado a ler, mas tenta sempre que pode!
Gaby
Tem 15 anos e estuda no colégio estadual Odyssea. É moradora do bairro do Jockey em SG e é aluna da professora Raquel. Gosta muito de ler e escrever.
Izadora
Aluna do Diaz André, localizado no Pacheco, mora em Sacramento. Aprecia muito a leitura e as artes em geral, também acha o ensinamento passado adiante é fascinante! Ama dança e canto.
Karina
Aluna do Diaz André, mora no bairro Pacheco, gosta de escrever. Curte escutar música, dançar, ler e escrever um pouco e ama aventuras.
Kaylane Rodrigues
Vem do Jockey! Aluna da melhor professora: Raquel, tem 17 anos.
Kaylanne
Tem 15 anos, mora no Coelho, é do colégio estadual Odyssea, aluna da professora Raquel.
Larissa
Tem 15 anos, mora no bairro do Jockey em São Gonçalo e é aluna da professora Raquel.
Maria Clara Carrielo
Estuda no Instituto de Educação Clélia Nanci, onde cursa formação de professores. É uma amante da língua portuguesa e ama escrever.
Maria Clara (Zameii)
Gosta de estudar, jogar FF, ler poesias e muito mais, estuda no Diaz André, é inquieta e gosta de ser prestativa.
Renata Targino
Professora de Língua Portuguesa e Produção Textual da rede estadual do Rio de Janeiro.
Raquel Danielli Mota
Raquel é professora da rede estadual do Rio de Janeiro de educação desde 2007, ministrando aulas de língua portuguesa, língua inglesa e literatura.
Thais
É de São Gonçalo, do bairro Jockey. Tem 17 anos e é aluna da professora Raquel.