Laboratório Contemporâneo: Conferência-espetáculo Olha, imagina, escuta, sente. Is this a sound of blessing? Casa Daros, 12 de dezembro de 2014. Foto: Jessica Gogan
Casa 10 – Olha, imagina, escuta, sente
No dia 12 de dezembro de 2014, os artistas do Laboratório contemporâneo compartilharam seus experimentos e práticas vivenciados com o público.
A escuta é um ato de paz. Escutar o silêncio, o vazio, mas mais do que qualquer outra coisa, ouvir o outro. A nossa civilização, todavia, diminui constantemente a cultura da escuta. Parece-me que a nossa capacidade de ouvir vai desaparecendo cada vez mais. Geralmente, o tempo de atenção é reduzido, exatamente no estágio de recepção. Nós tendemos a responder, reagir ou discursar sem hesitação.
Wim Wenders1 (tradução de Raphael Giammattey)
Todo o processo transbordava naquele dia, se expandiam como reverberações corpos estendidos em memória e ação. Memória essa que creio ter impregnado corpos conscientes ou não do que estava acontecendo.
Luiza Coimbra
Naquele local, entretanto, não foi um objeto estético que produziu a relação entre os participantes, mas as próprias relações entre os artistas produziram mais relações. Produção de produção, relações de relações.
Antonio Gonzaga Amador
Lembro dum sentimento que não esperava sentir naquela noite: raiva. Não qualquer raiva, mas uma raiva de verdade. Quando enfim fui solto, quando enfim aquele parou de me empurrar, me vi gritando Ei, não como quem buscava um outro vendado, mas, com ódio profundo, sentia meu Ei saindo gutural da minha garganta. Sentia que já não era o código para encontrar, mas um ato de sublimação: já que não podia acertar aquele que me empurrou, já que isso sequer estava em cogitação, já que o conhecia e concordei com tudo aquilo, me restava gritar.
Jandir Jr.
Fora da concha dos declamadores, onde permanecia por um minuto e saía, pude novamente deslocar as pessoas, removê-las de seus corpos-lares e selecionar um alvo: rapaz com claves nas costas. Provavelmente um circense, que, sem metáforas, tinha o corpo como moradia, uma vez que seu corpo se manteve leve enquanto tentava carregá-lo de um ponto a outro, querendo deixá-lo cuidadosamente firme ao solo, apesar da força de minha intervenção, exigida pela imagem das remoções que tentávamos reconstruir naquele espaço. Houve resistência por parte do rapaz. Houve o novo que não era proposta artística nossa. Houve conferência e houve espetáculo.
Raphael Giammattey
Mesmo depois do fim, não sei dizer o que fiz ali. Qual foi o papel da minha presença no meio de mais gente do que eu me permitia estar no hábito. Em todos os encontros, a única coisa a saber era o estar fora de casa.
Beatriz Coelho
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1 Wim Wenders e Mary Zournazi. Inventare La Pace – Dialogo sulla percezione (título original: Inventing Peace: a Dialogue on Perception). Bompiani Overlook, 2013