Vetores

Graciela Carnevale

As práticas dos anos 60 foram experiências que nos modificaram profundamente. Práticas que ultrapassaram os limites da arte para explorar novos formatos e materiais, novos conceitos e sentidos. Ações que deram forma a um imaginário e um fazer que nos envolveram como sujeitos e como artistas, transformando os modos de produção e distribuição das obras ao conceber a recepção como uma instância de participação coletiva.

Nossa radicalização não se limitou à renovação de conteúdos, mas também implicou a transformação da linguagem e nossa participação ativa no interior dos conflitos. Em grupo aprendemos e construímos um pensamento autônomo a partir dos saberes e experiências de cada um. No calor das discussões e dos debates e no frenesi dos acontecimentos, nossa prática artística nos formou como sujeitos.

O que é um arquivo? Quando está completo? Como e a partir de onde se interroga? Que sentido tem pesquisar ou expor um arquivo?

Os arquivos de práticas artísticas explicitamente vinculadas a contextos sociais em regimes repressivos nos permitem conhecer e estudar uma multiplicidade de expressões e de ações que se deram nesses momentos históricos e que foram invisibilizadas e ignoradas. Tais arquivos nos oferecem a possibilidade de construir leituras e recuperações críticas a partir de diferentes visões, interpretações contextualizadas que reatualizam experiências e debates originados em conjunturas e preocupações que parecem distantes, contudo ressoam no presente. Potências e energias que ainda estão latentes e procuram articular-se em coordenadas que atravessam cenários complexos e diversos.

As mudanças nas condições históricas estimulam a produção de outros tipos de intervenções e práticas experimentais alternativas nas quais a arte se articula com novas formas de movimentos sociais que produzem novos processos de subjetivação. Os “futuros” silenciados que reativam essas memórias de luta do passado atuam como vetores que atravessam e recriam experiências ativistas de transformação social.

Como imaginamos hoje práticas nas quais outras formas e outras histórias possam se contrapor a conceitos esquemáticos e simplificados do artístico e do político e sejam ferramentas úteis para a construção de novos territórios existenciais?

Graciela Carnevale, Rosário, abril de 2015