Laboratório Contemporâneo: Ponto de visita. Conferência-espetáculo Olha, imagina, escuta, sente, 12 de dezembro de 2014 e Experimentações, 5 de Novembro, Casa Daros, Fotos: Beatriz Torres e Jessica Gogan.

Casa 1 – Biografias

Raphael Giammattey

O artista, geralmente, está preocupado em criar duplos, porém, é preciso algumas vezes dar um passo atrás, a fim de mirar o abismo que é dentro de si. Ainda que não possua consciência sobre o que produz, é fundamental, de tempos em tempos, confeccionar pequenas biografias. Cada um dos dezessete jovens artistas participantes do Laboratório Contemporâneo escreveu o seu retrato tendo em mente a experiência engendrada pelo curso.

Luiza Coimbra
“Minha identificação com a palavra ‘artista’ vem desde a infância, quando os que conviviam comigo me denominaram assim, por eu ser uma criança que gostava de desenhar. Então, minha primeira relação vem da visão de outros com relação ao que identificam como arte. Só denomino a mim mesma ‘artista’ quando eu mesma tomo ciência de uma prática poética que realizo.”

Tomaz Bevilaqua
“Movido a músicas das mais diversas vertentes senti a necessidade de perseguir um meio de manufatura da música no qual pudesse explorar e controlar o máximo possível, tanto como forma de aprender e entender as entranhas de músicas e sons, como para poder colocar em prática tudo o que pudesse desejar, sonoramente falando.”

Tathiane Peixoto
“Observadora distraída das coisas comuns, que gosta de conversar enquanto joga sementes. A experiência na Daros me fez enxergar novos trajetos, atalhos em uma sociedade tão bloqueada que quase nos faz perder a esperança de novos futuros, onde tudo parece banal, na caverna das invenções já inventadas. Arte é quando Chronos paralisa meu alienamento e me surpreende. Eu só concebo, quem disse que posso fazer arte?”

Bia Lopes
“Sou fruto do que passa por mim, algumas vezes leve, outras pesado. Como devolvo? Vivo o agora para devolvê-lo para o mundo… gosto de espalhar pedaços por aí, do que eu fui ou vi, do que sonhei ou senti. Desloco esses fragmentos no espaço e me aproprio de outros, caminhante eterna de um mundo que tento criar…” 

Julia Falcão
“Criar/pensar junto com a percepção de outros e poder vivenciá-la num ambiente – muito – disposto a ensinar e a incentivar novas propostas, novas possibilidades e poder colocá-las à experimentação dentro desse ambiente laboratorial.”

Michel Schettert
“Cria, divide, discute, muda, briga, sai e entra, toma café, olha, volta e vai, aceita, propõe, vacila, teima, imagina, espera, testa, põe e tira, encontra, troca, cansa, escuta, encaixa, cutuca, fala alto, mostra, escreve, joga, ajeita, desenha, fecha. Continua.”

Lucas Bueno
“Daros deu os meios. Nós demos os dedos. Deles dados rolaram. De repente deu no que dava. Mas que dava, dava. Tanto que deu. Até muda deu.”

Jandir Jr.
“‘Você não vai ver tudo.’ Ouvi isso no Laboratório Contemporâneo. Achei biográfico, apesar de premonitório. Me chamam de jovem artista, caso prefiram. Eu não gosto. Prefiro Jandir.”

Antonio Amador
“Eu sempre gostei de coisas que me intrigassem. Por exemplo, truques de mágica. Sou fascinado por eles. Quase um obcecado. Mas não por tentar descobrir como são feitos, apenas por vê-los acontecer. Acho que isso foi um dos motivos que me levou a ser artista hoje. Experienciar e produzir experiências que não são, necessariamente, explicativas.”

Aline Besouro
“A gente se abraçou virtualmente e fisicamente pelo que eu me lembro.”

Felipe Nunes
“O afeto é o fio condutor das relações humanas, cria novos signos e tece o corpo. Borda o tempo.”

Henrique Castro
“Nos meus bolsos as coisas se hibridizam, se atritam, e acabo sempre descobrindo algo esquecido no meio do que é necessário. Nele não organizo, não setorizo, os bolsos escolhem o que carregam.”

Luan Machado
“Descendente de Índios e Negros. Danço a dança dos mortos orientais em meu corpo-alma. O teatro de minha vida está na biografia deste corpo. O resto é registro.”

Ana Beatriz Coelho
“Não sou artista.”

Raphael Giammattey
“Como nem tudo pode ser dito quando temos de falar tudo o que fizemos, nem todas as ideias de artista que pensamos nós podemos ser, prefiro ser uma obra metamorfoseando a um artista multidimensional.”

Camila Mozzini
“Ser artista: é ser. E todos somos. Se aqui pudesse definir, não seria. É mistério. É como uma poesia que brinca com a palavra. É torção. O como essa torção ocorre… Não sei. É nesse deserto do não saber que me torno artista – sem saber que sou. E se souber, quero desaprender.”

Gabriel Cavalleiro
“Ser artista foi a minha alternativa para existir no mundo. Reeditando-o, permitindo caber-me.”