FIG2 Perguntas
Laboratório Contemporâneo: experimentações, dezembro de 2014. Casa Daros, 2014. Foto: Jessica Gogan

Casa 2 – Perguntas

Raphael Giammattey

Como responder à pergunta de um artista? Como escutar o que ele quer nos dizer? O artista teria uma mensagem quando elaborou questões para nós, jovens artistas? A pergunta seria não uma pergunta, mas uma provocação? O ponto de interrogação quer mesmo nos interrogar? As palavras abaixo são uma tentativa de se ater a uma memória/vivência do Laboratório Contemporâneo e dialogar mais com a pergunta do que necessariamente dar uma resposta a ela.

01. Coletivo E e Instituto MESA

Se você pudesse demitir-se de algo, do que seria?
Há sete meses esta foi a pergunta que elegi para ser admitido no curso: demitindo algo – no caso a minha cama, especialmente a relação que eu tinha com ela. Hoje é a pergunta que mais faço a quem conheço. A última resposta que obtive foi a de um amigo de um amigo que relatou que se demitiria da sua família. Mais do que uma mera pergunta, ela se converteu num símbolo do que podemos abandonar para nos transformarmos em um mundo melhor.

O que você aprendeu sem que ninguém lhe houvesse ensinado? Como foi esse processo?
Horários foram marcados e lugares foram escolhidos para que pudéssemos estar juntos numa aula, para falar de arte; no entanto, para que pudéssemos fazê-la, foi preciso sairmos da temporalidade única que  a constituiu.

O que você carrega no bolso? Que tipo de “coisas de bolso” poderia portar um pouco de sua poética, um pouco de sua subjetividade?
Pergunto-me o que nos aconteceria se guardássemos as palavras no bolso.

02. Fred Coelho

Hoje, quais são as culturas para sermos “contra”?
Não colocaria a palavra contra entre aspas. Também não sei se tomaria a decisão de iniciar uma sentença – que tem a justa pretensão de indagar – com a palavra hoje, obliterando desta maneira o passado. Vem-me à cabeça transferir as aspas da palavra contra para a palavra culturas. Resta-me, finalmente, o ponto de interrogação.

03. Geo Britto

Qual a revolução que um artista pode fazer no século XXI?
Fechar os olhos, e quando abri-los, deixar de se guiar pelo mundo, fechar os olhos, e quando abri-los, deixar a percepção te mudar, fechar os olhos, e quando abri-los, perceber a importância da tensão entre o visível e o invisível.

04. Rafucko

Para você, o que é natural?
Não se busca dizer estas ou aquelas palavras, apenas se busca dizer. Falar com naturalidade é não pensar em falar.

05. Gustavo Ciríaco

Como criar um campo de inocência?
É sintomático que, em pleno século XXI, o artista declare que não é artista. Esta representação de si está perfeitamente em oposição à ideia de que todo mundo é artista. Por mais que a inocência não possa ser forjada, o campo de inocência pode ser criado e deve ser inventado, uma vez que nele não se situam problemáticas próprias do campo da arte, como a legitimação de si como artista, pelo contrário, a aceitação de si como artista é uma questão que surge no campo de inocência. O campo de inocência gera percepções a partir dessa diferença entre o normal e o extraordinário.

06. Barbara Szaniecki

As manifestações seriam hoje um possível campo ampliado da arte?
É estranho dizer as manifestações de junho de 2013 como se a expressão reivindicasse um passado. Uma linha do tempo só vale a pena se podemos estendê-la no chão. Mas devemos ter a atenção redobrada à palavra que acompanha a linha – tempo. O que a linha do tempo faz com seu principal elemento é abstraí-lo ao invés de materializá-lo. Na ponta da linha do tempo, onde simultaneamente algo começa e acaba, devemos ser capazes de ampliar a nossa linha de visão, mais do que alargar o nosso campo de ação.

07. Ricardo Basbaum

Como indicar o que existe entre “eu” e “eu-como-artista” – há convergências e divergências dessas demandas?
Falar sobre o que existe entre “eu” e “eu-como-artista” é mais difícil do que falar sobre arte, pois sobre esta última ainda há referências, enquanto sobre a primeira questão não há como fazer demarcações: não é a crítica ou o público nem o artista ou o intelectual. Para indicar, é necessário afixar na parede o impensável e dividir o espaço das inquietações com o da escuta silenciosa.

08. Vivian Caccuri

Como lidar com a impaciência do público? Abraçar ou desafiar? Como se posicionar frente à quantidade de informação que provoca essa impaciência? Simplificar as propostas ou resistir?
Você não vai ver tudo não é uma frase ao acaso que aportou na mente dos artistas da conferência-espetáculo.

09. Laura Lima

Em 200 anos, como fica sua obra?
A durabilidade não é um problema quando se trata sobre o tempo em sua forma presente, uma obra dura o tempo que tem de durar, isto é, tem uma duração orgânica, não se atrasa nem se adianta. Para durar dez, quinze, vinte, cinquenta, cem, duzentos anos, a obra jamais pode se tornar presente.