Laboratório Contemporâneo: Sala 17. Casa Daros, 29 de outubro de 2014. Foto: Rafa Éis
Casa 8 – Sala 17
Em outubro, as salas 17 e 18, situadas na galeria da Casa Daros e vizinhas à exposição Rubens Gerchman: Com a demissão no bolso, foram cedidas ao Laboratório contemporâneo. As salas, que eram interligadas, tornaram-se um lugar de encontros, abrigo para vestígios do processo, espaço para brainstorm e experimentações. Na quarta-feira do dia 29 de outubro, provocados por um exercício do Teatro do Oprimido realizado no encontro coordenado por Geo Britto e pelo nosso desejo de incentivar o cruzamento de fronteiras entre as linguagens, fizemos a proposição, Máquina Multimídia. A seguir, compartilhamos a escrita de alguns dos artistas participantes sobre essa experiência.
Quando entrei pela primeira vez na sala 17 depois de pronta, me emocionei. Vi ali, na materialização de nosso processo, o que significa compor na diferença. Era como se braços, pernas, olhos, cotovelos, bocas, genitálias, braços, pernas, estômagos, fígados, ouvidos, cabelos, unhas, dedos… tudo isso fosse reconfigurado em um novo corpo. Um corpo-polvo: erótico, unido entre as concavidades boca e ânus, submerso nas águas de um imenso oceano, cheio de braços, capaz de alcançar distâncias que não seriam possíveis aos meros indivíduos bípedes terrestres.
Camila Mozzini
A Sala 17 foi minha primeira experiência trabalhando com o coletivo. Por não ser performer, decidi escolher um lugar mais perto da minha área de conforto. Gostaria eu de ter achado confortável. A experiência foi extremamente incomum e desconcertante, porém, ao mesmo tempo, única e especial.
Julia Falcão
Quando eu penso na experiência da sala 17, só consigo pensar em um conto fantástico de Chuang Tzu, filósofo chinês do século III a.C., O sonho da borboleta. ‘Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta. Ao despertar não sabia se era Tzu que havia sonhado ser uma borboleta ou se era uma borboleta e estava sonhando que era Tzu.’
Antônio Amador
Desperto e me perco no tempo. Finjo repetir algum impulso que pode me levantar do estado torpe. A sonolência vai num expiro, e a curiosidade se aguça. Quando os sentidos me revelam tal espaço no espaço, perco ainda mais a noção de tempo. Parece que vejo um relógio pela metade, de cabeça para baixo, mas girando. Por ali há um teatro de sombras movido por alguma lâmpada enigmática que não funciona na velocidade da luz. Não vejo muito bem. Meu equilíbrio eu não percebi. Quase deixo cair meu corpo, o qual, não sei por quê, está rabiscado de azul. Minha mente vai longe por alguns segundos, atrás de um batuque alaranjado. Volto mais esperto. Tem mais gente na sala – sim, agora estou numa sala porque vejo paredes e portas altas construídas por alguém. Talvez essa gente queira controlar o fluxo. Sem controle, sinto-me controlado. Escuto com as mãos em busca de uma luz fora desta sala. Remarquei os controladores. Começo a entender onde estou… Mas estou cansado.
Michel Schettert
Espaço mutante, construído em um tempo que transbordava. A experiência da sala 17 foi um despertar gradativo de sensações visuais, táteis, sonoras e olfativas. Habitavam ali corpos múltiplos, alguns ocupando este espaço com movimentos amplos e fartos, outros com pequenos gestos e ainda alguns que tomavam um determinado canto e o ocupavam como verdadeira habitação. Minha ocupação se deu em observar e sentir, circular e ter pequenas interações, sempre desenhando em papel preto, com canetas florescentes, tudo aquilo que via e sentia ressaltado.
Luiza Coimbra
A sala 17 foi intensa e caótica. Um turbilhão energético e experimental, só quem vivenciou sabe.
Gabriel Cavalleiro
Poderia ter sido a sucessão de pequenos gestos que me acometeu dentro da sala 17 o foco das minhas atenções, mas de saída fui contaminado por uma energia que permeou o resto das minhas ações, uma energia recolhida de como a palavra – a mim tão cara – foi vencida pelo desenho na primeira tentativa de interação com o outro, e com outra linguagem. Quando me pus a escrever junto, na mesma superfície, com uma pessoa que estava desenhando, as palavras não ficaram como de costume grafadas no papel, mas ficaram por trás das imagens feitas por aquelas duas mãos que, ao meu lado, preenchia a superfície. Depois deste pequeno gesto, a palavra saiu de mim de mil formas, fosse tentando estabelecer uma conversa com toda e qualquer linguagem diferente da minha (negada duas vezes e aceita outras duas), fosse escrevendo com alguém me escutando, fosse me encaixando no vão entre dois corpos com um corpo de palavras escritas em outro tempo, fosse ocupando o espaço com a minha voz, que foi a única voz falada – terá sido a única voz ouvida?
Raphael Giammattey
Prefiro que a sala 17 permaneça trancada para vocês.
Jandir Jr.