Coordenado pelo Instituto MESA em colaboração com o curador e crítico Luiz Camillo Osorio e o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) e com o apoio da Terra American Art Foundation o seminário internacional Flipping / Revisitando Pop foi realizado nos dias 8 e 9 de dezembro de 2017. Planejado em conjunto com a exposição “35º Panorama da Arte Brasileira Contemporânea” do MAM-SP (26 de setembro - 17 de dezembro de 2017) com a curadoria de Osorio, o seminário propôs explorar as sinergias entre duas importantes exposições de 1967, revisitadas por ocasião dos seus 50º aniversários: a contribuição americana para a IX Bienal de São Paulo, conhecida como a “Bienal do Pop Art” e a exposição/manifesto “Nova Objetividade”, sintetizando a proposta das novas vanguardas brasileiras, organizada por um grupo de artistas e críticos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio). Ressalta-se o legado destas convergências históricas para o contemporâneo na retomada do texto “Esquema Geral da Nova Objetividade” escrito por Hélio Oiticica e usado como ponto de partida conceitual para a curadoria da “35º Panorama”.
O resultado deste encontro gerou uma publicação digital organizada a partir dos papers produzidos especialmente para a ocasião. A publicação conta com o artigo/keynote de Jonathan Flatley, os ensaios de Ana Maria Maia, Denilson Lopes, Izabela Pucu, Jessica Gogan, Ken Allan, Luiz Fernando Ramos, Sérgio Martins e Sônia Salzstein, incluindo ainda uma entrevista inédita em português de Hélio Oiticica com o ator Mario Montez, sugerida por Max Hinderer Cruz a partir de sua transcrição e edição com a colaboração do Projeto Hélio Oiticica.
Confira: Flipping Revisitando Pop
O projeto Flipping Pop buscou expandir as análises predominantes da pop art para além do eixo Nova York - Londres e da celebração da cultura de consumo ocidental através de novas leituras críticas, lugares e perspectivas de fala e também examinar como os artistas da época desafiaram os mitos modernistas de pureza estética criando novas zonas de hibridação política, cultural e social. Para Mário Pedrosa essa foi a virada pós-moderna. Cabe indagar diante do contexto contemporâneo, cada vez mais fragmentado e complexo, como podemos abordar estas releituras, a partir do que o teórico Walter Mignolo sugere como uma certa "desobediência epistêmica"? Ou seja, como podemos descolonizar as leituras históricas da arte e desvincular, tanto em conteúdo como em método, as macro-narrativas e posições tradicionais, retrabalhando-as a partir de diferentes pontos de vista? O seminário visou catalisar estas possibilidades através de novas leituras da pop art americana e das práticas das vanguardas brasileiras dos anos 1960.
Organizado pelo Smithsonian Institute, a contribuição americana para a IX Bienal de São Paulo contou com uma retrospectiva de Edward Hopper e a exposição “Environment USA 1957 – 1967”, apresentando trabalhos de Robert Rauschenberg, Edward Ruscha, Roy Lichtenstein, Claes Oldenburg e Andy Warhol, entre outros. O comissário, o então curador do MoMA, William C. Seitz, desenhou um paralelo "não sentimental e às vezes irônico, humorístico ou desencantado" entre a vida americana de Hopper antes da década de 1920 e a década de 1960. A seleção incluiu Three Flags, por Jasper Johns, Gas Station por Edward Ruscha e Buffalo II por Robert Rauschenberg além de três obras de Warhol da sua série Death and Disaster (1962 - 1967). Essas obras e a afirmação de Seitz sugerem uma compreensão do pop além de seu verniz consumista. Ao mesmo tempo, no contexto da ditadura militar (1964 - 1985), uma geração de artistas radicalizava sua busca por um posicionamento específico da vanguarda brasileira articulada pela síntese de Oiticica nas proposições da Nova Objetividade. Ressalta-se a atualidade deste texto no foco em mudanças ético-estéticas, no engajamento social e político, na redefinição de uma vontade construtiva e no retorno à questão da anti-arte. Além disso, intensifica-se o trânsito de exilados e a diáspora artística juntamente com as sinergias transnacionais da contracultura da década de 1960, produzindo experiências vitais do pop como as obras-manifesto Exploding Plastic Inevitable de Andy Warhol nos EUA e a Tropicália de Oiticica no Brasil.
Através destas várias perspectivas, o Flipping / Revisitando Pop buscou deflagrar outras formulações do pop através de novos diálogos Brasil-Estados Unidos reunindo pesquisadores brasileiros, artistas, estudantes e convidados internacionais. O seminário foi composto por dois keynotes e três mesas redondas com foco nas re-leituras históricas e contemporâneas do pop, nas exposições de 1967, o camp e as diversas relações entre as práticas artísticas e o espaço social na década de 1960. Tendo, é claro, como pano de fundo, a exposição apresentada no 35º Panorama.
Keynotes:
Jonathan Flatley. Professor Associado de literatura inglêsa na Wayne State University EUA), autor de Affective Mapping: Melancholia and the Politics of Modernism (2008) e co-organizador da publicação Pop Out: Queer Warhol (1996) e autor do recém lançado Like Warhol (2017).
Flora Süssekind. Crítica literária, pesquisadora e professora associado no curso de estética e teoria do teatro do Centro de Letras e Artes da UNI-Rio e pesquisadora da Casa de Rui Barbosa (Rio de Janeiro). Além de organizadora de diversos livros de teoria literária e ficção, escreve sobre a Tropicália e contribui para inúmeras publicações acadêmicas.
Mesas:
1) Re-Leituras do Pop e das vanguardas dos anos 60: analisa a recepção crítica da Bienal “Pop” em 1967 e (re) leituras históricas e contemporâneas do Pop e da Nova Objetividade:
Sérgio B. Martins crítico e professor de história da PUC-Rio e autor Constructing the Avant-Garde: Art in Brasil 1949- 1979 (2013). (Mediador)
Sônia Salzstein professora de História da Arte no Departamento de Artes Plásticas da ECA/USP autor de vários monografias e criticas sobre questões culturais em contextos periféricos tais como “Cultura pop: Astúcia e inocência” (2006).
Jessica Gogan ex-diretora de educação e curadora de projetos especiais do Museu Andy Warhol, diretora do Instituto Mesa e co-organizadora do seminário.
2) (Tropi) Camp: explora o conceito do camp no trabalho de Andy Warhol e Hélio Oiticica, no cinema, e no jogo entre margens e mainstream no momento cultural dos anos 60.
Max Hinderer Cruz crítico e curador independente e co-autor Block Experiments in Cosmococa: Program in Progress, MIT Press, 2012 e co-curador do “The Potosi Principle”, Reina Sofia, 2010. (Mediador)
Luiz Fernando Ramos professor Associado do Departamento de Artes Cênicas da USP e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA/USP e autor de Mimesis Peformativa: a margem de invenção possível (2015).
Denilson Lopes, professor associado da Escola de Comunicação da UFRJ autor entre outros de A Delicadeza: Estética, Experiência e Paisagens (2007) e Afetos, Relações e Encontros com Filmes Brasileiros Contemporâneos (2017).
3) Do museu para a rua/da rua para o museu: investiga os entrelaçamentos entre práticas artísticas, os espaços sociais e a sensibilidade pop na década de 1960.
Ana Maria Maia pesquisadora, curadora e autor Arte-veículo: intervenções na mídia de massa brasileira, 2016 (Mediadora)
Izabela Pucu pesquisadora, curadora e ex-diretora/curadora Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica e co-autora de Mário Pedrosa: Documentos Primários, MoMA, 2016) e autora do livro Bandeiras na Praça, 1967 a ser lançado em 2018.
Kenneth Allan, professor associado de história da arte da Universidade de Seattle e autor do Object Lessons: Experiencing Pop Art in 1960s Los Angeles (a ser lançado em breve).