A Farmácia Baldia da Boa Viagem é uma iniciativa coletiva de arte e saúde com ênfase no uso e estudo de plantas medicinais que foi inaugurada como parte da exposição do artista brasileiro Carlos Vergara no Museu de Arte Contemporânea (MAC), Niterói, Brasil, em 2013. O MAC, projetado pelo renomado arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, está localizado na cidade periférica de Niterói, com vista para a deslumbrante Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Realizado em colaboração com a Arte e Ação Ambiental, uma iniciativa de longa data do MAC em parceria com a favela vizinha, Morro do Palácio, a Universidade Federal Fluminense, artistas e com o programa Médico de Família de Niterói (uma iniciativa de saúde preventiva inspirada no modelo cubano na qual médicos, enfermeiros e agentes de saúde são residentes em comunidades de baixa renda), a Farmácia Baldia da Boa Viagem propôs uma investigação experimental, curativa e coletiva das plantas medicinais que crescem nos terrenos ao nosso redor. O projeto, cujo nome faz menção à região do entorno do museu, área que inclui a ilha histórica da Boa Viagem, registrada nos mapas portugueses desde os anos de 1500, e a comunidade do Morro do Palácio, transformou-se numa botânica política poética, resgatando a potência das proximidades despercebidas e chamando atenção para os recursos medicinais que se encontram à nossa porta.
O papel da arte aqui é modesto, como Vergara sugere, “algo a mais”, mas também possivelmente um novo radical.1 Estimulando e, por vezes, alcançando um terceiro espaço – um denominador comum poético – entre os campos da ciência, botânica, medicina e saúde comunitária, o papel da arte, neste contexto, é “acordar a cumplicidade de fazer coisas”.2 Um esforço para conectar mundos, onde o artista não tem mais a visão do todo. Na verdade, ninguém tem. A Farmácia Baldia foi primeiramente realizada por Vergara em São Paulo em 1997 como uma intervenção de arte pública. Mais de 16 anos depois, por ocasião da exposição no MAC, Vergara pensou em (re)apresentar o projeto Farmácia. Uma reunião inicial semelhante às primeiras etapas do projeto de São Paulo foi realizada em outubro de 2013 com o diretor/curador do MAC, o artista, quatro botânicos e farmacologistas acadêmicos especializados em plantas medicinais e o Instituto MESA. A discussão concentrou-se em um projeto de mapeamento das plantas medicinais da região. Um mês depois, em uma onda contagiante de afetividade e confluências oportunas, o projeto tornou-se Farmácia Baldia da Boa Viagem, inaugurando no processo redes vitais, necessitadas de uma nova injeção de energia, principalmente entre o MAC, o centro comunitário satélite do museu, Macquinho, na favela do Morro do Palácio, e o Programa Médico de Família do município.
Até agora mais de 40 plantas medicinais foram identificadas ao redor do Museu, na ilha de Boa Viagem e na comunidade do Morro do Palácio. Programas incluíram passeios culturais, conversas semanais, o "Chá das Cinco", facilitando trocas de saberes e conversas sobre plantas, e uma pequena exposição realizada no Macquinho em 2014 sobre o projeto, com fotos do processo e de plantas identificadas. Em 2015, o foco será trabalhar com creches comunitárias e famílias. O processo é uma conversa aberta, em constante desdobramento, entre interior/exterior, arte/vida, ciência/conhecimento popular, instituição/comunidade, favela/cidade e doenças/curas através do tema orgânico das plantas medicinais.
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1 Entrevista com o artista, 5 de fevereiro de 2014
2 Ibid.
Realização
Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Macquinho – Plataforma Urbana Digital da Educação
Programa Médico de Família
Universidade Federal Fluminense
Faculdade de Formação de Professores - UERJ
Colaboração
Instituto MESA
Apoio
Atelier Carlos Vergara
Participantes do Coletivo Farmácia Baldia da Boa Viagem
Adriana de Holanda, Alberto A. Lazzaroni, Antonia Marlene Gomes dos Santos, Aryom de Souza Oliveira, Augusto Fabbri Amaral, Bettina Monika Ruppelt, Bia Vergara, Carlos Ribeiro, Carlos Vergara, Claudia Marcia Dutra Braga, Dalva Miranda, Daniel Whitaker, Dionísia Lina Caetano, Douglas Araújo da Fonseca, Eduardo Machado, Elielton Queiroz Rocha, Elienai Faziolato Vieira, Erika Venancio Niches, Eucilene Franco, Fábio Carlos de Sousa, Fernanda Rangel, Fernando Fratane, Helia Dias Cabral, Jandira Maria de Lira, Jane da Silva Alves Pereira, Jessica Gogan, Joana Mazza, João Vergara, Jorcelina Carneiro de Moraes, Jorge Roberto da Silva, Josan de Oliveira Domingues, José Francisco Abreu, Josemias Moreira Filho, Kátia Alves Duarte, Leandro Machado Rocha, Luiz Guilherme Vergara, Luiz Hubner, Luiz José Soares Pinto, Luiza P. de Mendonça, Luiza Mello, Marcelo Guerra Santos, Maria Angelica Duarte Silva, Maria da Penha Souza, Maria das Graças Chaves, Maria de Jesus Silva de Almeida, Maria Ignês Albuquerque, Maria Lima de Jesus (Cida), Maria Marques de Souza, Marilice Marins, Mariana Mello, Mirian Teresa de Sá Leitão Martins, Nadir da Silva Ramalho, Nuno Sacramento, Priscila Faria, Priscila Piantanida, Rejane Marins S. Souza, Severina Alexandre, Túlio Franco, e Zélia de Araujo.
Agradecimentos especiais
Associação dos Escoteiros do Mar (Ilha da Boa Viagem), Bettina Monika Ruppelt, Bruna Medeiros, Daniel Whitaker, Dionísta Lina Caetano, Eduardo Machado, Elielton Queiroz Rocha, Erika Venancio Niches, Fábio Carlos de Sousa, Jandira Maria de Lira, Jay Marinus Van Amstel, Jessica Gogan, Joana Mazza, Josan de Oliveira Domingues, José Francisco Abreu, Josemias Moreira Filho, Kátia Alves Duarte, Luiz Guilherme Vergara, Luiz José Soares Pinto, Luiza P. Mendonça, Nadir da Silva Ramalho, Marcelo Guerra Santos, Maria Angelica Duarte Silva, Maria Perola, Rafael Coelho, Recicloteca, Ronilton Dias dos Santos, Severina Alexandre, Solar do Jambeiro e Carlos Vergara.