Nº6 VIDAS ESCONDIDAS

Glossário

A boa narrativa: Nenhuma representação visual que eu já tenha visto capturou a natureza da Provisão Direta – o programa dos refugiados politicos da Irlanda –, a verdade da descrição de prisão aberta, a continuidade do sistema da Provisão Direta dentro da história de encarceramento e institucionalização pelo Estado de populações-alvo, como o Asylum Archive de Vukašin Nedeljković conseguiu de forma tão efetiva e direta. Como muitos críticos e comentadores observaram, a ausência de qualquer figura humana no relato fotográfico de Asylum Archive do sistema de Provisão Direta e Dispersão rejeita o que Charlotte McIvor descreve como “a demanda por desempenho burocrático do refugiado”, que se estende desde o labirinto jurídico do processo de solicitação de defesa da ONG até a prática artística e representação.5 A recusa de Nedeljković em usar imagens ou narrativas pessoais de requerentes de asilo em Asylum Archive se baseia em sua crítica à conversão de seres humanos em boas histórias para divulgação por ONGs, pela mídia e mesmo em práticas artísticas criativas, sendo uma rejeição implícita e por vezes explícita ao uso simbólico que é feito, em certas ocasiões, dos requerentes de asilo no terceiro setor. Em vez disso, como apontam os estudiosos McIvor e Ronit Lentin, Asylum Archive redireciona nosso olhar para a arquitetura sistemática de segregação racializada, abandono e deportabilidade chamada Provisão Direta. O desenvolvimento de uma política de representação, de uma estética e de uma narrativa (a boa história) radicalmente críticas é central para o projeto de Nedeljković e para o trabalho político e representacional de Asylum Archive.– Anne Mulhall e Vukašin Nedeljković.

Arbitraridade: O programa de refugiados políticos na Irlanda, com muitas respostas institucionais e estaduais aos refugiados e migrantes no mundo inteiro, é um sistema profundamente racista, cuja prioridade é rejeitar o maior número de pessoas possível, seja na fronteira ou no labirinto jurídico do processo de “proteção”. Assim, o sistema não foi projetado para auxiliar ao máximo possível aqueles que buscam proteção, mas para apanhar o maior número possível de pessoas.7 Parte da hostilidade que está inscrita no sistema de asilo é sua temporalidade radicalmente incerta. A pessoa a quem o processo diz respeito não tem acesso a um cronograma de quando a entrevista ocorrerá ou quando uma decisão será tomada sobre seu caso. Em vez de uma anistia claramente anunciada, uma arbitrariedade incerta mantém as pessoas em um estado de paralisia entre a esperança e o medo, sem saber se irão obter residência, esperançosas de que conseguirão, mas temendo não conseguir. A arbitrariedade não é um subproduto acidental da incompetência sistêmica, mas um mecanismo crucial de controle no cerne do regime de asilo e deportação. Ela dirige aquele estado suspenso que as pessoas descrevem como uma espécie de morte em vida. – Anne Mulhall.

Clandestinidade: “a ousadia de ser outro e ele mesmo”1, um perder-se de si, para, no coletivo, voltar a existir. O clandestino, quando em encruzilhadas, escolhe se despir de si e deixa para trás seus afetos, objetos, memórias, que pode nunca reencontrar. Essa perda é parte da escolha pela vida, não só sua, mas da possibilidade do bem comum. Há uma singularidade da experiência clandestina, como o nomadismo, a pouca bagagem, poucos objetos. Nada que pese e que não possa ser deixado pra trás. Um avesso aos acúmulos, dedica-se ao mundo sem fronteiras, onde a nacionalidade se perde. Pode ser uma experiência apenas, mas que marca um modo de ser e agir profundos, produzindo permanências. A clandestinidade do artista produz ações na urgência das manifestações do tempo presente, a partir de uma lógica própria, produzindo subjetividades que só a experiência clandestina possibilita, criando múltiplas marcas. Concebidas numa trama de relações com o “outro”, o outro no sentido mais amplo, desde as outras pessoas com quem se convive até o ambiente em que intervêm, o cotidiano, as mudanças, as escolhas, preferências, as memórias produzidas. Ao relacionar percursos, que passam entre os lugares da memória e do arquivo, procura-se movimentar o exercício de contar algo, criando dinâmicas diversas entre imagem e escrita, onde o testemunho tornou-se peça fundamental para a composição dessa prática. – Anita Sobar

Democratizar a literatura: É preciso buscar maneiras de pensar que tornem difícil distinguir democracia e literatura. Nesse sentido, uma proposta da filósofa norte-americana Martha Nussbaum, segundo a qual uma educação democrática precisa atuar contra comportamentos narcisistas e, portanto, preconceituosos, pode participar desse problema. Assim, para além de prover as condições básicas de acesso à literatura (alfabetização e letramento, bibliotecas públicas e liberdade de expressão), a sua democratização implica a participação em leituras coletivas nas quais as impressões de leitura sejam mediadas em prol de afetos democráticos, na contramão do narcisismo infantil que baseia as representações totalitárias. – Luiz Guilherme Ribeiro Barbosa

Desesconder: Ato de tornar visível, perceptível, presente novamente; contrário de esconder. Sugere a ideia de algo que já esteve acessível anteriormente e foi escondido e/ou apenas invisibilizado. É o evento que recupera novamente sua visibilidade, é evidenciado, exposto e comentado. Desesconder algo é apresentar em instâncias para além do íntimo; é promover interações, conexões e leituras na promoção do encontro, do olhar e de percepções. É o que pode nunca ter estado escondido, mas que não se conjugava com a tênue linha de existência da ação comunicativa. Tem caráter de novidade, mas pode ser apenas provocação para a percepção. Desesconder pode ser sinônimo de revelar, desvelar, aparecer, mostrar, apresentar, notabilizar, manifestar, transparecer, avultar; dentre outros termos, experiência de exaltação e partilha. – Leandro Almeida

Deslizar: Uma espécie de falha. E – no instante da falha – o abandono da ideia de acerto, do traçado linear a ser percorrido, do caminho inteiriço, do ponto de chegada, do chão firme. Deslizar é uma espécie de exercício da falha, de vontade de falha, de desvelamento da falha. Deslizar é tropeçar no meio da rua e gostar da forma como o corpo se revira no flagrante do ato. Deslizar é se apaixonar pelo movimento, errático, físico, fragmentado. Movimento. –Cintya Ferreira e Mariana de Lima

Desvelando o escondido: Apesar da abertura recente da sociedade irlandesa no sentido de adotar mudanças sociais mais liberais, a Irlanda ainda está lutando em 2020 com uma história pós-colonial muito complexa. Faz menos de cem anos que nos tornamos um Estado independente, e o último século foi marcado por revolução, independência, guerra civil, partição, subdesenvolvimento econômico e emigração. A vida social desse novo Estado independente foi moldada por uma estreita aliança de uma classe política conservadora e uma hierarquia católica doutrinária igualmente conservadora. Essas forças produziram efeitos em todos os aspectos da vida social, educacional e econômica. Apesar das mudanças radicais que o eleitorado promoveu em referendos recentes (representados de forma mais clara pelo reconhecimento do direito das mulheres à autonomia sobre seus corpos em 2018 e pela igualdade do casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2015), ainda há um legado remanescente dos sistemas institucionais repressivos do início do século XX. Na Irlanda atual, muitos artistas socialmente engajados lutam com esse legado e seu respectivo impacto e chamam a atenção com seu trabalho para questões sociais e vozes anteriormente escondidas, trazendo-as à luz. Nos últimos trinta anos, a prática artística socialmente engajada cresceu em sua complexidade para envolver, apoiar e defender a mudança. – Helen O’Donoghue

Ebó-Rapsódia: A peça-filme Em busca de Judith,com atriz Jéssica Barbosa e direção de Pedro Sá Morais, parte da descoberta da internação num manicômio da avó da Jéssica – Judith. Dos documentos, restou uma foto e uma carta enviada pela assistente social do hospício à tia mais velha de Jéssica, revelando a morte de sua mãe. Uma frase conhecida de Walter Benjamin tornou-se uma espécie de norte: “Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa se apropriar de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”2. O sentido, portanto, nós precisaríamos fundá-lo, não no que foi, mas no que é. O resultado é forçosamente fragmentário. E achamos bom que seja assim. O teórico francês Jean-Pierre Sarrazac3 propõe para descrever o teatro contemporâneo o conceito de rapsódia. Segundo a etimologia da palavra, rhaptein, o rapsodo é aquele que costura, que ajusta cânticos, trechos, elementos díspares e heterogêneos. Não há ilusão de imparcialidade ou transparência, não se busca a absorção ou o encantamento absoluto, mas a reflexão, o questionamento, a ação compartilhada. Como num ritual, não há plateia, todos são participantes. E Jéssica, depois de repetidos enfrentamentos, durante os ensaios, com o aspecto desestabilizante da presença de Judith e de tantas Judiths de ontem e hoje, chegou à conclusão de que a única forma viável de empreender a travessia seria vivê-la como ritual. “É um Ebó”, disse Jéssica. O que estamos fazendo é uma oferenda para minha avó, para minha bisavó Francisca, para todas as Judiths, é um Ebó. Assim, descobrimos que Em Busca de Judith é um Ebó. Um Ebó-Rapsódia. – Jéssica Barbosa e Pedro Sá Moraes

Efeitos transgeracionais: O efeito transgeracional da violência do estado é de difícil produção de sentido e ecoa escondido, por tratar-se de uma memória fragmentada, soterrada, acometida pelo silenciamento e esquecimento. Compreende-se, aí, a eficiência da opressão nos estados de exceção. É quando a transferência da dor emocional, física e social sofrida por familiares afeta as novas gerações, para além de um simples comportamento aprendido. – Anita Sobar e Kênia Maia

Encarceramento: Estar “dentro” é o eufemismo para estar na prisão. Os espaços internos são em sua maioria pequenos, envoltos, às vezes se empurram contra as paredes, outras vezes são um refúgio de tudo o que está fora. As palavras eloqüentes do Professor Ciarán Benson refletem sobre os mundos interconectados e contidos da prisão e da identidade privada, expressos em minha obra, criada em colaboração com prisioneiros do sistema carcerário irlandês, intitulada Altares do Encarceramento. Meu trabalho se concentra em aumentar a visibilidade de um grupo desprivilegiado e escondido, ao mesmo tempo em que estimula o engajamento cívico e a inclusão. Como artista, sinto isso como uma responsabilidade e tento responder apropriadamente por meio da plataforma das artes, a fim de afetar a mudança positiva e desafiar a suposição estereotipada como negativa do prisioneiro. Contrariando o encarceramento e ao mesmo tempo reconhecendo suas realidades, fazer arte no contexto prisional é uma ferramenta para o desenvolvimento humano e o encontro de si, ao mesmo tempo que fundamenta a comunidade prisional como parte integrante da comunidade mais ampla. – Bernie Masterson

Esconderijo enquanto forma: Tem uma diferença primordial entre situações ou pessoas escondidas, e esconderijos propriamente ditos. No nosso trabalho a gente lida com bastante gente que está em uma situação marginal à razão, e é tratada como tal. Como, por exemplo, pacientes psiquiátricos, que têm que tomar um monte de remédios, muitas vezes choques, muitas vezes tratados em isolamento. Essas pessoas não são um esconderijo. O hospício é um esconderijo. A própria psiquiatria, o conceito da psiquiatria, talvez seja um esconderijo, porque é um lugar de separação. Ela separa um certo grupo, ou certas questões do corpo social. No nosso trabalho, temos várias obras em que usamos o esconderijo (a separação) como estratégia. Não é o ato de esconder, mas o de defender o esconderijo como uma possível existência. Isso eu acho que é onde podemos chegar com o conceito de esconderijo no nosso trabalho. Não é que trabalhemos com pessoas escondidas ou formas escondidas de vida, não é exatamente isso – trabalhamos com o esconderijo como uma forma de sobrevivência, uma forma de inteligência e uma forma de interação social. – Mauricio Dias & Walter Riedweg

Estar escondido, ser encontrado: “É uma alegria estar escondido, mas um desastre não ser encontrado…”. Esta frase impactante de Winnicott mostra, em poucas palavras, a complexidade das operações psíquicas relacionadas a estar ou não ao alcance perceptivo do outro. Embora nos habituemos a ratificar a separação relativamente estável entre nosso mundo interno e a realidade externa, é num espaço indeterminado, fluido, potencial e “nem interno, nem externo”, que vivemos nossas experiências mais importantes. Termos direito de acesso a uma gama de sentimentos, afetações, pensamentos e impulsos, os quais imaginamos estarem ao abrigo da percepção do outro, é condição para nossa existência. Este abrigo, entretanto, corre o risco de se tornar uma prisão, caso estes mesmos componentes sejam incapazes de encontrar formas de fluir para o mundo e serem reconhecidos. O trabalho com sujeitos em estado grave de sofrimento psíquico nos traz de modo agudo esta problemática. Tais sujeitos nos colocam diante de impasses para serem encontrados e não experimentam qualquer prazer em estarem escondidos. É preciso uma insistência não invasiva por parte do outro para que um encontro se dê. Foi exatamente este tipo de encontro que as obras de Dias & Riedweg no contexto da saúde mental proporcionaram. – Julio Sergio Verztman

Estigma: “Sinal de inaceitabilidade social: a vergonha ou desonra ligada a algo considerado socialmente inaceitável” (Oxford English Dictionary). O tecido e o corpo humano têm uma materialidade muito similar: corta-se o tecido, corta-se a pele, costura-se o tecido, costura-se a pele, mancha-se o tecido e pode-se também manchar seres humanos. Uma mancha no tecido é bem visível. Porém, se considerarmos o estigma como uma mancha na sociedade, ele é invisível, não se pode ver o estigma. O estigma é mais sentido do que visto. Onde estigma e vergonha operam, o silêncio se perpetua. Embora excluído do debate público, o suicídio está lamentavelmente presente. Estatísticas crescentes em todo o mundo, especialmente em relação aos jovens, fazem com que esse assunto precise ser discutido com urgência. No entanto, como abordar essas memórias dolorosas e conversas necessárias em meio a estigmas sociais desafiadores? Em um processo de compartilhamento e respeito mútuo, sem julgamento, meu trabalho se esforça para tornar o estigma visível, criar contextos de escuta e conversa, reconhecer pessoas com problemas de saúde mental e o impacto nas suas famílias e comunidades, e para tentar compreender a beleza e a potência dessa fragilidade. – Seamus McGuinness

Infantafobia / Não tire as crianças da sala!: O fato de não vivermos mais em comunidade (e isso é algo relativamente recente na história da humanidade) faz com que muitas pessoas nunca tenham convivido na vida com crianças. E isso gera aversão irracional com a presença e o descontrole que gera uma criança. Também tendo a sua criança interna reprimida, é comum não tolerar a presença de crianças que se expressam plenamente como crianças: fazendo bagunça, gritando ou chorando. Infantofobia é medo ‘por’ crianças que se torna medo ‘de’ crianças. É a subestimação da sabedoria das crianças, sua bondade, sua conexão com a verdade e a incrível profundidade de sua percepção. É o medo da infância, o medo do que as crianças podem revelar. Especialmente se elas podem correr livres o quanto quiserem ou precisam, e provarem a terra e experimentarem uns aos outros mais cedo. Mas a infantofobia não é somente isso. Mas sim num sentido mais amplo onde a maternagem se torna um estorvo social, que atrapalha a hiperprodutividade do sistema capitalista. Pois é conveniente para o sistema nos manter submissas e em situação de precariedade para manter o sistema. Chamar atenção a esse trabalho escondido e à infantofobia é fundamental para uma vida mais comunitária. Isto significa criar redes de confiança e apoio, que não marginalizem e isolem em nome da proteção, segurança, saúde / limpeza ou propriedade. Significa fazer escolhas contínuas de respeito e conexão com os ritmos da natureza humana e reconhecer nossa necessidade de tempo não observado e brincadeiras arriscadas. Também significa abraçar a vida, a morte, os ferimentos, as deficiências e cultivar nossa admiração pela profundidade da experiência humana. Significa uma tomada de decisão mais humana no nível da política. Significa desfazer a separação entre vida e trabalho. Como sugeriu o líder indígena Alton Krenak, precisamos abraçar o fluxo natural da vida e reaprender como não tirar as crianças da sala.  Chrystalleni Loizidou and Lívia Moura

Leitura em voz alta: O Relatório Figueiredo foi um documento escrito a partir da investigação parlamentar em 1967 conduzida pelo procurador Jader Figueiredo Correia. Em suas quase 7000 páginas narra crimes praticados por funcionários do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI) contra populações indígenas. Para a [Leitura pública do Relatório Figueiredo] – proposição da Escola da Floresta (uma escola alternativa em São Paulo liderada pelo artista Fábio Tremonte) – se vale de dois elementos presentes no universo escolar: a narrativa histórica e a leitura em voz alta. Esses dois procedimentos são colocados em jogo no espaço público de uma instituição cultural com o desejo de proporcionar uma outra relação corpórea-intelectual-afetiva com a história oficial, propondo a “escovar a história a contrapelo” como diz Walter Benjamin.4 Quando o participante decide ler no microfone o texto do relatório, ele não está, apenas, participando de uma proposta artística, encenando ou “performando”; está, antes de tudo, emprestando sua voz para soltar no ar um texto de denúncia. A leitura em voz alta é mais um desdobramento de um tecido que se inicia com a investigação dos funcionários do SPI, com a instauração da comissão parlamentar do inquérito, a redação do texto do documento, a digitalização do relatório e sua presença pública na internet. Ler em voz alta é dar um testemunho dessa parcela da história dos povos originários e lembrar que assim tem sido desde a chegada do europeu nessa terra que é chamada de Brasil. Como diz a pesquisadora Kamilla Nunes “Come-se a fala. Engole-se a seco”.5Fábio Tremonte

Leitura objetiva: Ler escondido participa da experiência de formação de muitos leitores, mas entre a leitura transgressora e a leitura coletiva não deve haver, em relações democráticas, a mera oposição. Considerar a experiência de leitura dos estudantes sob perspectiva comunitária, fomentando na turma a escuta de cada um, implica reconhecer subjetividades e trabalhar com elas (a história pessoal, os motivos de sofrimento, saberes familiares) – tensionando um lugar-comum segundo o qual “professor não é psicólogo”. Mas não se trata de mudar profissões quando, ao lidar com leituras subjetivas em sala de aula, interessa aos professores compreender o potencial de leitura dos textos e objetivá-lo, cuidando do que foi escrito ou falado por cada leitor presente. – Luiz Guilherme Ribeiro Barbosa

À margem / “The Fringe”: Historicamente, em todos os lugares da periferia você encontra pessoas que tiveram que fugir da opressão e que desenvolveram um certo espírito e criatividade para sobreviver. Quando morávamos “na periferia” em uma casa-barco na Holanda, conhecemos pessoas de todas as esferas da vida – pessoas maravilhosas, interessantes e criativas. Amávamos a franja, e ainda amamos. Você pode aproveitar o que há de melhor nos dois lados de uma fronteira e construir uma ponte entre os mundos. Aqui na Ilha Achill, na costa oeste da Irlanda, a paisagem é muito agreste, mas ao ser confrontada com sua beleza, abre possibilidades que você nunca sonhou em serem possíveis ou mesmo agradáveis. Levando esse afastamento ainda mais longe, a pequena igreja com a qual estamos envolvidos fica na periferia da ilha e da comunidade maior. Está à beira de desaparecer e talvez a luta para mantê-la funcionando seja a parte intrigante de viver à margem. Gera uma autenticidade que cativa e torna as coisas possíveis. Assim, você é capaz de superar e até valorizar os desafios. – Doutsje Nauta / Willem Van Goor

Micro comunidade de destino: Para Edgar Morin, a “comunidade do destino”6 é antes de tudo uma consciência de pertencimento, que conecta cada ser uno ao múltiplo, ao todo, ao planeta Terra, vinculando seus destinos. Ao visibilizar micro ações e exemplos inicialmente de um ser sábio, inventor, poeta e profeta – Seu Hernandes José da Silva (HJS) de 92 anos, morador da favela do Bumba, cuja casa construída dos materiais reciclados e lixo e na sequência –, ao ativar ações em rede de cuidado consigo, com o outro e com o ambiente ao redor, a Casa Museu Rancho Verde desvela e ilumina essa consciência escondida, adormecida. Em uma prática “celular” sistêmica esta é a consciência que alimenta e catalisa potencialidades existentes, inspirando pensamentos e atitudes para transições – voltadas a pessoas comuns, em lugares comuns, em especial nas periferias, como é nosso caso no Morro do Bumba em Niterói, conformando uma micro comunidade de destino. – Ignês Albuquerque e Priscila Grimberg

Mulheres resistentes: Ativistas que reagem às trevas do machismo ao iluminarem vidas de mulheres vítimas de violências e dos problemas sociais. Para enfrentar coletivamente as desigualdades de gênero, se articulam a todo tempo tecendo reflexões pertinentes, oferecendo ações de solidariedade e apresentando as demandas geradas pela opressão da mulher. Para desesconder a violência doméstica e social, organizam-se para reivindicar políticas de enfrentamento, acolhimento e justiça. A cidade de São Gonçalo no estado do Rio de Janeiro possui uma notória Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência, resultante da resistência desses esforços. Políticas públicas conquistadas permanecem entre avanços e retrocessos, e com o aprofundamento da luta, fica em evidência o trato às especificidades das mulheres pretas, que têm a realidade atenuada pelo racismo. Na disputa pelo poder das sobrevivências e superação das opressões, um dos modos desta resistência é através das artes. Podemos ver-la expressa nos muros das cidades através de graffitis que transmitem subjetivações, angústias, gritos, necessidades, emergências, a caminho da harmonia, cura e autocura das arbitrariedades humanas. – Renata Bazilia

Não-ser: Uma ambiguidade ontológica: ser e não ser. Entre a vida e a morte. Sem ser de todo (totalmente), o não-ser completo também se esvai. Não se sabe se eles estão vivos ou mortos. A morte, então, não chega a se tornar realidade, é apenas uma conjectura: não há provas, não há antecedentes, não há corpo. Os parentes “nunca aceitarão a morte; e se aceitarem, será uma morte oculta, desconhecida, sem nada, sem cadáver, sem restos, sem espaços, sem data, sem tempo”.32 Esconder a morte é permanecer na vida; ou melhor, permanecer na não-morte. A condição ontológica dos desaparecidos é o paradoxo: uma ausência paradoxal. Os desaparecidos são e não são ao mesmo tempo e em relação à mesma condição: estão e não estão vivos, estão e não estão mortos. – José Santos

O anjo da casa: O curador Jan Verwoert comenta sobre a organização como prática “de bastidores” que de mais em mais faz parte do trabalho de arte socialmente engajada no livro e catalogo da exposição sobre hospitalidade na arte contemporânea Feast: Radical Hospitality in Contemporary Art.7 No ensaio, Jan Verwoert descreve um “horizonte temporal” que é um trabalho de “cuidado constante” que envolve “comunicação social prolongada, preparação, administração e manutenção”, que é de longo prazo, contínuo e nada espetacular. Ele usa a ficção de Virginia Woolf como um foco, descrevendo como, por meio da figura da Sra. Ramsey e em sua própria escrita, a autora apresenta “um cenário para uma hospitalidade exemplar” em Ao Farol. Na ficção de Virginia Woolf, a Sra. Ramsey é o anjo da casa que mantém o próprio tecido social unido por meio de um “trabalho invisível constante” que “torna possível o convívio agradável”.8 O enredo revela um paradoxo significativo. Estando em toda parte, levando seu cuidado incessantemente a cada detalhe social, a Sra. Ramsey não está em lugar nenhum. A hospitalidade, ao que parece, é como a anfitriã, invisível para quem a recebe. Ausente por estar presente em todos os aspectos, engana, mascarando seu próprio trabalho na engenharia social para que a interação pareça fácil. É nesse aspecto, retratado como altruísmo abnegado, que Jan Verwoert percebe a ambivalência de Virginia Woolf, que reverencia o coração pulsante da dona da casa, mãe e anfitriã, e ao mesmo tempo a trai, tornando visível seu trabalho. – Caroline Gausden

Poética do resgate: Carecem de curadoria do cuidado para dar “cintilância aos seres apagados”, como escreveu Manoel de Barros. O que resgatar, o que desapegar? Descartar ou transver o olhar e reencontrar o lúdico criativo? Processo que flui em solidão ou na coletividade? Diante da necessidade ou em opção consciente que jogar fora inexiste? Reciclagem de objetos ou de humanidades? Arte, desespero ou transcendência? Certos seres e movimentos parecem inventados e habitam outras lógicas e gestos de recriação de si e do meio. Exemplo primoroso da poética do resgate é a “Casa Museu Rancho Verde”, de Hernandes José e todos os projetos que orbitam em torno do profeta do afeto. – Cris Seixas

Propágulos: Amálgama, fruto e semente. Agarrada no seio da “mãe”. A boca que suga o alimento para nutrir o adeus. Pés como poros, para fincar no chão e se alimentar do veio da terra. Perfure, caia de pé, encontre o chão. Germine, gere florescência no canto. O prolongamento do esperançar. São agentes do possível, que foram fertilizados em bando. Agem sobre realidades tidas como finitas e condenadas. Movidos por seus posicionamentos, entendem que crer e ter consciência demanda articular responsabilidade, mas não com o peso da flecha apontada, pois assim não existe o esperançar (esperança que se faz verbo, para ser vivida), a alma carregada é a de: Como incen(diar)tivar a ação? Como cuidar de uma luta? Sabia que existem futuros nas vivências? São interessados nos cantos, nos territórios que espreitam por uma escuta e que anseiam por um ecoar de suas matrizes. – Gabriela Bandeira

Quando os fragmentos são a unidade: Eu sou Ulisses! Eu falo com o sol, com a natureza, com o oxigênio. Minhas peças não se misturam. São matéria minha que não copio, eu invento. Elas vão embora com quem compra, mas eu vou junto. Elas falam comigo. Eu falo com elas aonde elas estiverem. Eu tenho a visão. A primeira imagem que nos impressiona quando chegamos na casa do artista popular Ulisses Pereira Chaves é uma cerca de madeira, que circunda e demarca a entrada do sítio onde vive9. No alto de cada mourão, Ulisses colocou um resto de cabeça espetado, uma metade de rosto quebrada, ou o pedaço de algum membro partido, “estourado” durante a queima da cerâmica. O conjunto compõe um cenário de grande dramaticidade, algo sombrio. Seja pelos corpos partidos, seja por evocar, pela falta, algo que deixou de ser inteiro. Ou, ainda, por conduzir às ideias de ruína e de deterioração. Mas, não apenas. Elas também parecem trazer de volta para a natureza os cacos, num regime em que nada sobra. Em novo contexto é como se as obras partidas recebessem algum tipo de restauração. Ao exibir os pedaços numa nova configuração, Ulisses recria uma nova totalidade. E sublinha a inteireza de sua criação, pouco importando se algo se quebrou ou não. Ali suas obras ganham novos significados, continuam ativas. Matéria sempre viva, cujo amálgama não é determinado apenas pela ação do fogo, mas também por sua natureza cósmica. – Angela Mascelani

Re-escrever: O ato de escrever novamente. Uma ação que tem dois componentes: a releitura e a reescrita. Fazer uma leitura atualizadora de um texto, equipá-lo para encontrar seu potencial metafórico atual. Modificar certos elementos para que todas as vidas, visíveis ou invisíveis, no centro ou na periferia, possam encontrar sentido neles. Incluir, para acrescentar às leituras que alimentaram nossa educação – muitas vezes a partir de um background literário “universal”, mas que é principalmente particularista, branco, masculino e euro-americano –, nossas vidas, nossas experiências, daqui ou de outro lugar, visíveis ou invisíveis, humanas ou não-humanas. É também fabricar juntos, confabular, tornar porosos os limites entre ficção e realidade, construir uma escrita de mundos possíveis a partir dos escritos que nos construíram ou nos uniram. Sonhando, fabricando, escrevendo mundos possíveis. – Sandrine Teixeido

Silencio insidioso: no que pode fazer sentido evocar uma memória pessoal, trago como marca no corpo e no pensamento a lembrança de uma sensação de impedimento, um longo e forte não. Nasci em Lisboa e vivi até os 14 anos durante a ditadura derrubada em abril de 1974. No caso da minha família, dos meus amigos e conhecidos, a ditadura não se manifestou por meio de repressões políticas e confinamentos, mas por um silêncio fundo e insidioso que se manifestava na sensação de impossibilidade e ausência de horizonte. Os destinos estavam desde cedo marcados, não havia o direito de escolher, de mudar, de querer. É viva a lembrança de um diálogo repetidamente escutado quando éramos crianças: eu quero! Tu queres? Mas tu não tens querer! Além das famílias, a igreja e a escola eram os outros pilares essenciais na manutenção do controle e na propagação de uma mentalidade fechada e culpabilizadora. A escola religiosa, então, nem se fala. Quem ousasse ser diferente pagava um preço alto em culpa e solidão. Esse estado de coisas matou, adoeceu e deprimiu pessoas próximas de maneira irrevogável. Ser professora é indissociável dessa memória. Sei como a sala de aula pode ser um espaço fechado e repressor. E sei também como pode ser o oposto disso, um espaço de escuta e abertura que pode gerar confiança e mudar vidas. – Madalena Vaz Pinto

Trazer à luz: Tanto no Chile como na Argentina a fotografia foi utilizada como forma de protesto pelos familiares dos desaparecidos. Estes exibiam os seus / as suas desaparecidos/as em espaços públicos, levando imagens dos seus rostos no peito ou em cartazes. Antes, era uma forma de sustentar visualmente a identidade daqueles que tinham perdido tanto os seus direitos de cidadania como a sua existência. Diante a realidade do corpo ausente, a fotografia. Em vários casos, mesmo na fotografia da carteira de identidade: o rosto olhando de frente para a câmera, com o nome completo e o número de identificação na parte inferior da borda do documento. A tríade do nome-rosto-número é uma garantia do seu ser, negada pela prática nefasta do desaparecimento. A utilização performativa da fotografia nesses atos de denúncia pública testemunha e expõe a ausência do referente10. Os projetos recentes baseiam-se na prática de protesto acima descrita, mas ao mesmo tempo a ressignificam. Através de fotomontagem, imagens compostas e projeções, a ênfase nesses exercícios está na sobrevivência, no fato de que essas “vidas ocultas” – aquelas das vítimas e dos seus enlutados – continuem a existir. Assim, podemos ler o seu significado como um trazer à luz, no sentido literal e figurado. A representação é utilizada não só como vestígio ou pegada daqueles que já não estão presentes, mas como prova material da sua presença. – Carolina Pizarro Cortés

Testmunhar: O que se passa quando alguém se apresenta como testemunha de uma prática de tortura? O que acontece quando se torna público aquilo que se encontrava silenciado e permanecia sem inscrição social? Que movimentos são disparados em quem testemunha o testemunho, esse momento de expulsão das forças da morte que se apropriavam da energia vital da vítima de tortura, voltando-a contra si mesma11? O ato de publicizar tais acontecimentos desencadeia um processo capaz de transformar os ouvintes em testemunhas e de instaurar condições para que a transmissão desse legado possa se dar não mais como marca traumática, mas como parte de uma luta. Nesse sentido, testemunhar não se limita à apresentação de um relato factual sobre a tortura. Entendendo o testemunho como um processo performativo que tanto ilumina o que se passou, como dispara novos processos de subjetivação, a experiência de devir testemunha12, ao acessar aquilo que ficara suspenso no tempo e sem lugar na história, implica tanto um trânsito do lugar de vítima para o de testemunha, como uma convocação ao reposicionamento ético dos que se tornaram testemunhas do testemunhado. Esses momentos, verdadeiramente autopoiéticos, que impactam tanto o que é possível ver e dizer, como a própria potência de produção de si, são momentos com um intenso potencial de irradiação, capazes de aumentar nossa possibilidade de agir coletivamente e de liberar a vida de sua prisão subjetiva, atada ao terror do passado.– Tania Kolker

Você está louca: Que mulher nunca ouviu essa frase? Atualmente existe um termo em inglês para essa prática: gaslighting. É uma forma de abuso psicológico, dirigido às mulheres, com o fim de manipular, controlar e distorcer a ponto de fazer a própria pessoa duvidar de sua sanidade. Essa forma de abuso é o prolongamento de práticas muito frequentes num Brasil nada distante e ainda a espreita. Até meados do século passado, antes da Reforma Psiquiátrica, muitas mulheres foram chamadas de loucas e encerradas em hospícios. Os asilos, que antes ficavam a cargo de ordens religiosas, passaram a ser instituições médicas e orientadas pela ciência. Todo um vocabulário clínico foi criado com o fim de atribuir diagnósticos às questões de ordem moral e de regulação da conduta social.  Em nome do progresso e da modernização do país, as instituições – a começar pela instituição familiar patriarcal – deveriam investir seus poderes na disciplina da população.  As mulheres que não se enquadravam nos papéis socialmente determinados eram patologizadas. O manicômio foi, portanto, parte fundamental do projeto patriarcal, eugenista e higienista que orientou o ideal de Brasil moderno do início do século XX. A historiadora Maria Clementina da Cunha,13 analisando casos de mulheres que foram internadas no início do século XX, aponta que, com frequência, alguns dos sintomas apresentados como indicadores de loucura coincidiam: independência, “hiperexcitação intelectual”, dedicação extrema às suas profissões em detrimento das “inclinações naturais”. Todavia, a autora sublinha ainda as diferenças desses dispositivos de controle em relação a marcadores como raça, classe social e sexualidade. As mulheres negras foram as mais afetadas em termos quantitativos pela instituição asilar e também em termos de “tratamentos” a elas destinados. Situação que era fundamentada nas teorias da degenerência, muito em voga no país, estando as mulheres negras triplamente vulnerabilizadas. – Diana Kolker

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Anita Sobar
Anita Sobar é artista, pesquisadora e educadora. Graduada em Belas Artes pela EBA – UFRJ, com especialização em Design Gráfico pela Escola Britânica de Artes Criativas – SP e Mestra em Estudos Contemporaneos das Artes PPGCA – UFF.

Anne Mulhall
Professora titular da Faculdade de Inglês, Drama e Filme da University College Dublin e co-diretora do Centro de Gênero, Feminismos e Sexualidades da UCD.

Bernie Masterson
Nasceu em Ballymoney, Condado de Antrim, Irlanda do Norte. Mora e trabalha em Dublin. Ela concluiu com distinção o Mestrado de Belas Artes (MFA) na Faculdade Nacional de Arte e Design (NCAD). Tem uma vasta experiência com serviços educacionais para prisões na Irlanda como professora e artista. Recebeu o Prêmio Janet Mullarney 2020 inaugural por seu trabalho em vídeo Flight.

Carolina Pizarro Cortés
Licenciada em Literatura pela Universidad Católica de Chile, Mestra em Literatura pela mesma universidade e Doutora em Filosofia pela Universidade de Konstanz, Alemanha. Fez um pós-doutorado no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Santiago do Chile. Hoje trabalha como acadêmica jornada completa naquela instituição. Entre as suas principais publicações estão os livros Nuevos cronistas de Indias. Historia y liberación en la narrativa latinoamericana contemporánea (autor, Colección IDEA, 2015), Revisitar la catástrofe: la prisión política en el Chile dictatorial (editor, Pehuén editores, 2016) e Nuevas formas del testimonio (editor, Colección IDEA – Editorial USACH, 2020, no prelo), assim como numerosos artigos em revistas acadêmicas.

Caroline Gausden
É escritora e curadora que vive em Glasgow, tem PhD em Manifestos Feministas e Prática de Arte Social pela Gray’s School of Art, Aberdeen, e atualmente trabalha como agente de desenvolvimento de programação e curadoria na Biblioteca Feminina de Glasgow. 

Chrystalleni Loizidou
Buscou significado na pesquisa acadêmica sobre a transformação do conflito em relação à história da arte e da mídia, e esforços para recuperar os bens comuns (PhD Cultural Studies com o London Consortium). Trabalhou com uma série de universidades, centros de arte e programas financiados internacionalmente, com foco crescente em tecnologia gratuita e de código aberto, até que uma criança reativou sua conexão com um círculo de educadores artísticos dedicados no Brasil e ajudou a ver o que os Situacionistas significavam com a sua rejeição do trabalho alienado. Mapeou coletivamente as iniciativas de arte-educação mais corajosas e significativas em todo o mundo, e tem se concentrado em manter um espaço e uma comunidade para brincar gratuitamente, em direção ao que Silvia Federici descreve como um reencantamento. neeii.info

Cristiana Seixas
Psicóloga, mestre em Educação, biblioterapeuta, especialista em arteterapia, focalizadora de danças circulares, consteladora familiar sistêmica. Autora do livro Vivências em biblioterapia: práticas do cuidado através da literatura, atua com linguagens sensíveis para o cuidado sistêmico. Para saber mais, acesse: www.crisseixas.com.br.

Cintya Ferreira
De Tribobó – São Gonçalo, graduanda de Cinema pela UFF. Se interessa por imagens de arquivo e experimentações sonoras.

Diana Kolker Carneiro da Cunha
Diana Kolker é curadora pedagógica no Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, onde coordena o projeto artístico-pedagógico da instituição, que inclui programas como a Casa B e o Atelier Gaia, além de compor a curadoria e a mediação dos programas expositivos. Mestra em Estudos Contemporâneos das Artes (UFF), especialista em Pedagogia da Arte (UFRGS), bacharela e licenciada em História (PUCRS).

Dias & Riedweg
Desde 1993, Maurício Dias (Rio de Janeiro, 1964) e Walter Riedweg (Lucerna, 1955) trabalham juntos em projetos em que investigam as maneiras como as psicologias privadas afetam, constroem e desconstroem o espaço público, e vice-versa. Em projetos nos quais a alteridade e a percepção são questões centrais, Dias & Riedweg frequentemente partem de processos interativos para produzir encontros e trocas em meio a grupos particulares da sociedade, que têm o seu enfoque na identidade e no envolvimento dos participantes. Dias & Riedweg integraram importantes exposições internacionais, como Conversations at the Castle, de Homi Bhabha e Mary Jane Jacob, nos Estados Unidos, L’État des Choses de Catherine David na Kunst-Werke Berlim e a Documenta de Kassel de 2007. Participaram ainda na Bienal de Veneza 1999, curados por Harald Szeemann, e na 24ª S.Paulo 1998, curados por Paulo Herkenhoff. Com obras em museus como o Centre Georges Pompidou de Paris, o MACBA de Barcelona, o KIASMA de Helsinki, Reina Sofia Madrid, no MAR, MNBA e no MAM do Rio, no MAM de São Paulo e da Bahia, no MFA Houston e no MUAC, Museu de Arte Contemporânea de Mexico, a dupla recebeu ainda os prêmios do Video Brasil, da Guggenheim de Nova York, a Bolsa Vitae de S. Paulo e da Fundação Pro Helvetia. https://vimeo.com/diasriedweg

Doutsje Nauta
Nasceu em uma noite tempestuosa em 31 de janeiro de 1953 em IJsbrechtum, Países Baixos, sendo o segundo bebê, mas a primeira menina. Revendo sua vida profissional, passou a maior parte do tempo organizando e escrevendo em institutos (semi)governamentais. A inovação tem sido o fio condutor do seu trabalho. Mora na Ilha Achill desde 1997, um lugar que, embora isolado dos grandes eventos mundiais, é parte integrante deles. Esse posicionamento parece característico de como ela se vê na sociedade. Faz parte há muito tempo do Grupo de Escritores de Achill e estuda violoncelo desde o outono de 2017.

Fábio Tremonte
Artista, educador, pesquisador e anarcotropicalista. Doutorando em artes visuais ECA|USP. Escolheu a arte pela possibilidade de não precisar se tornar um especialista. Cozinheiro de manhã, antropólogo de tarde, DJ de noite. Junta gente para fazer junto na cozinha, na escola, na pista de dança, mas isso não é tudo. Prefira escrever em portunhol. Em 2016, criou a Escola da Floresta, uma escola nômade e permeada por diversos saberes e formas de aprender e ensinar e de imaginação de outras possíveis pedagogias. Em 2017, foi curador pedagógico da Trienal de Artes Frestas – Entre pós-verdades e acontecimentos. Entre 2017 e 2018, atuou como curador da Residencia artística Barda Del Desierto, na Patagônia Argentina. Em 2020 foi curador pedagógico do Valongo Festival da Imagem. Também já participou de exposições no MAM-SP, MAR, Centro Cultural São Paulo, Paço das Artes, entre outras.

Helen O’Donoghue 
Curadora Sênior, Chefe de Engajamento e Aprendizagem no Museu Irlandês de Arte Moderna desde 1991. Recebeu recentemente uma Bolsa Fulbright e passou três meses no MoMA. Artista Plástica de formação, está comprometida com práticas socialmente engajadas e pedagogia crítica que embasam seu trabalho curatorial e de escrita.

Jéssica Barbosa
Jéssica Barbosa é atriz baiana, formada em teatro pela Escola Martins Penna e em dança pela Faculdade Angel Vianna. Estreou profissionalmente com o filme Besouro (2009), ganhando o prêmio de atriz revelação no Festival de Cinema Negro de São Paulo. Também no cinema, participou de longas como Na Quebrada, Mormaço e O Pai da Rita. No teatro, trabalhou com grandes diretores como Aderbal Freire Filho e Marco André Nunes. Dirigiu ou co-dirigiu os curtas Cicatriz (2017), A Namoradeira (2019) e (re)trato (2020). Artista residente no Museu Bispo do Rosario desde 2018, prepara o solo Em Busca de Judith.

José Santos Herceg
Graduado em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Chile e doutor em filosofia pela Universität Konstanz, Alemanha. Atualmente é pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IDEA) da Universidade de Santiago do Chile. É autor dos livros: Conflicto de Representaciones. América Latina como lugar para la filosofía (2010), Cartografía Crítica. El quehacer profesional de la filosofía en Chile (2015), Lugares espectrales. Topología testimonial de la prisión política en Chile, (2019), La Tiranía del paper: de lamercantilización a la normalización de las textualidades.

Julio Sergio Verztman
Psiquiatra, psicanalista, professor do programa de pós-graduação em teoria psicanalítica (PPGTP-UFRJ) e do mestrado profissional em atenção psicossocial (MEPPSO-IPUB-UFRJ).

Kênia Maia
Kênia Soares Maia é professora do curso de psicologia da UFT – Universidade Federal do Tocantins. Tem mestrado em Psicologia Clínica pela UFF – Universidade Federal Fluminense. Dra. em Psicologia Clínica pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – R.J.

Leandro Almeida
Com formação na área de produção cultural, educação, artes e produção audiovisual, é professor da Ong Bem Tv. Coordenou projetos sociais do Museu de Arte Contemporânea de Niterói mediando relações entre arte, cultura e comunidade, e atuou como Arte-Educador; coordena o Cineclube do Décimo na FCS/Uerj. É sócio proprietário da produtora PROVISÓRIO PERMANETE PRODUÇÕES CULTURAIS e Coordenador Técnico do Laboratório de vídeo da FCS/Uerj. Dentre outras produções autorais, hoje conduz e dirige o processo de produção do documentário Assim Falou H.J.S. É carioca e pai presente dos incríveis Nuno de 10 anos e do Jonas de 2 anos.

Lívia Moura
Trabalha com diversas linguagens artísticas participando de importantes exposições, galerias e feiras de arte contemporânea do Brasil. É autora do material didático Raiz do Afeto, voltado para a área de competências socioemocionais para o Ensino Fundamental I (2019, ed. Raiz Educação). Em 2013 co-criou a VAV- Vendo Ações Virtuosas, uma plataforma de arte contemporânea que atua nas transbordas entre economia, pedagogia e engajamento social. Em 2020 a VAV desenvolveu a moeda social “Afeto” e a “Bolsa de Valores Éticos” que serão lançadas em 2021. Atualmente cursa o doutorado em Estudos Contemporâneos das Artes na Universidade Federal Fluminense, sob a orientação do Luiz Guilherme Vergara.

Luiz Guilherme Ribeiro Barbosa
Luiz Guilherme Barbosa é professor de Português e Literaturas no Colégio Pedro II. Doutor em Teoria Literária pela UFRJ, publicou o livro A mão, o olho: Uma interpretação da poesia contemporânea (2014), e as plaquetes de poesia Postagens e antipostagens (2018) e Pacote de maldades (2019). Integra o grupo de pesquisa Litescola (CPII), sobre literatura e ensino.

Madalena Vaz Pinto
É portuguesa e mora no Brasil. Estudou Letras na PUC-Rio onde se doutorou com uma tese sobre os modernismos português e brasileiro. É professora adjunta da Uerj na FFP-Faculdade de Formação de Professores de S. Gonçalo e dos Mestrados Acadêmico e Profissional em Letras da mesma faculdade. Sua pesquisa concentra-se na literatura moderna e contemporânea e na formação de professores-leitores a partir de um trabalho conjunto de construção de cenas de leitura e invenção de outros modos de ler. É autora de textos publicados em livros e revistas da área. Organizou o livro Gonçalo M. Tavares: ensaios, aproximações, entrevista publicado pela editora Oficina Raquel.

Maria Ignês Albuquerque
Mãe de 4, Pedagoga, Designer em Sustentabilidade (Gaia Education), mulher 50+, há 25 anos concebe e realiza curadorias educativas para Museus nacionais (Museu de Arte Contemporânea de Niterói – MAC, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro- MAM e Oi Futuro) e internacionais (Metropolitan Museun of Art no “Parent Child Workshop” e no “Doing Art Together” da rede pública de ensino de Nova Iorque). Junto ao Núcleo Experimental de Educação e Arte do MAM, desenvolveu o programa Família em Trânsito. Há 10 anos incorpora a temática ambiental, sendo cofundadora e gestora do projeto Casa Museu Rancho Verde. É artista/ativista ambiental com foco em lixo marinho.

Mariana de Lima
Estuda cinema na UFF. Experimenta exercícios de montagem, fotografia e crítica na estrada entre a Cidade de Goiás e a cidade de Niterói.

Pedro Sá Moraes Carvalho
Vencedor do Prêmio Profissionais da Música de 2016 na categoria Melhor Cantor Nacional, o ator e músico tem quatro CDs lançados e dezenas de turnês internacionais no currículo. Desde 2005, transita entre a música e as artes cênicas. Dirigido por Norberto Presta, estreou em 2018 o solo A Paixão de Brutus, uma adaptação original do Julius Caesar de Shakespeare para a linguagem do teatro-canção. A pesquisa sobre essa linguagem segue se desdobrando através do espetáculo Em Busca de Judith, em que atua como dramaturgo e diretor, e numa pesquisa de doutorado em Artes da Cena na UNICAMP.

Priscila Grimberg
Designer, mulher 50+, mãe, curiosa e interessada em tudo o que caminhe para sua melhor versão. Integra o laboratório de Justiça Ambiental -UFF, o conselho de ONG´s, é cofundadora da Casa Museu Rancho Verde e entusiasta da metamorfose para uma comunidade de destino, a partir da ampla ação coletiva de atores da sociedade como forma de viabilizar sua sobrevivência no 3º milênio. Mestre em Desenvolvimento Sustentável (UFRJ), Doutoranda em Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento (UFRJ), atua há mais de 15 anos como consultora na relação entre negócios e sociedade, especialmente nos setores extrativos, de infraestrutura e habitação em periferias. Interesse especifico no enfoque territorial do desenvolvimento. 

Renata Bazilio da Silva 
É professora e geógrafa formada pela UFF, especializada em Gênero e Sexualidade pelo CLAM/ IMS/ UERJ, mestra em Cultura e Territorialidades pelo PPCULT/ IACS/ UFF. Na trajetória profissional, lecionou Geografia para o ensino Fundamental II e pré vestibular, e como geógrafa atuou no MMSG, nos projetos NACA e NEACA; no IBASE, no projeto Indicadores da Cidadania. Como resultado da pesquisa de mestrado, se fortaleceu o exercício da curadoria em arte urbana, em que busca desenvolver e contribuir à visão interdisciplinar das ciências e das práticas.

Sandrine Teixido
Autora, artista e antropóloga. Leciona antropologia na Universidade Jean Jaurès de Toulouse (França). Criou o projeto “Um conto como ferramenta” com a artista suíça Aurélien Gamboni em 2011. Publicou uma reescrita ecofeminista do conto de Edgar Allan Poe com Cambourakis Editions (publicação de fevereiro de 2011).

Tania Kolker
Psicanalista, com graduação em Medicina pela UFRJ e especialização em psicanálise e análise institucional pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise, Grupos e Instituições; mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense; coordenadora do Núcleo de Atenção Psicossocial a Afetados pela Violência de Estado – NAPAVE;pesquisadora do Observatório Nacional de Saúde Mental, Justiça e Direitos Humanos; coordenadora e terapeuta do Projeto Clínicas do Testemunho (2016- 2017); supervisora do Centro de Estudos em Reparação Psíquica ISER-RJ; terapeuta do projeto clínico do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ (até 2010); consultora da Association for the Prevention of Torture no Brasil (2007-2013).

Vukašin Nedeljković
Artista visual e ativista radicado na Irlanda. Iniciou a plataforma multidisciplinar Asylum Archive como um recurso online, destacando criticamente relatos de exílio, deslocamento, trauma e memória, complementado pela plataforma de resistência paralela recente. Fortress Europe https://www.fortresseu.com/

Willem van Goor
Nasceu em 4 de novembro de 1948 em Zwolle, Países Baixos. Após o ensino médio, estudou por cinco anos na Academia de Arte de Groningen e se especializou em pintura lírica abstrata. Desde então, seu trabalho se desenvolveu e se tornou mais diversificado, abrangendo tanto a arte botânica quanto a pintura de paisagem. Seu trabalho botânico se baseia em um amor ao longo de toda a vida pela natureza. O trabalho paisagístico, com foco em estruturas ocultas, acompanha o ritmo e os acordes da música, outra paixão que sempre existiu na sua vida, improvisando e tocando piano e órgão.


1 ARANTES, M. A. A. C., A clandestinidade, uma opção de resistência, Revista Princípios, Edição 31, NOV/DEZ/JAN, 1993-1994, p. 65 – 69 .

2 BENJAMIN, Walter. “Sobre o conceito de história”in Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política (São Paulo, Brasiliense, 1987), p. 224.

3 SARRAZAC, Jean-Pierre et al., org. Léxico do drama moderno e contemporâneo (São Paulo: Cosac Naify, 2012) p. 126-130.

4 BENJAMIN, Walter. “Sobre o conceito de história”in Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política (São Paulo, Brasiliense, 1987), p. 225

5 NUNES, Kamilla. “Embarcação”, dissertação de mestrado em artes visuais pela UDESC (Universidade Estadual de Santa Catarina), 2017

6 MORIN, Edgar e KERN, Anne B. Terra-Pâtria. Porto Alegre: Editora Sulina, 2003, p.178

7 VERWOERT, Jan. Feast: radical hospitality in Contemporary Art. SMITH, Stephanie S. (Org.). Chicago: Smart Gallery Chicago: SMART Museum of Art / Universidade de Chicago: 2013. p. 361.

8 Jan Verwoert citado na obra mencionada acima Feast: radical hospitality in contemporary art.

9 MASCELANI, Angela. Caminhos da Arte Popular: o vale do Jequitinhonha: Museu Casa do Pontal. Rio de Janeiro. 2010.

10 Ludmila da Silva explica o uso e significado destas fotografias utilizadas por familiares durante a ditadura argentina. No início, “La foto con el rostro del desaparecido pasó a ser (…) una herramienta de búsqueda, una esperanza frente a la incertidumbre. (…) [E]ra una estrategia para individualizar al ser querido de cuyo destino nada se sabía”. Depois, no contexto dos julgamentos, torna-se um recurso indicativo na busca da verdade. Finalmente, torna-se parte do protesto ativo no espaço público: “A medida que pasaron los años, la creación de símbolos y rituales acompañaron esta nueva forma de hacer política instituida por los familiares de desaparecidos y específicamente por las Madres de la Plaza de Mayo”. DA SILVA, Ludmila. “Re-velar el horror. Fotografía y memoria frente a la desaparición de personas”. Memorias, historia y derechos humanos. Isabel Piper y Belén Rojas (eds.). Santiago de Chile: Universidad de Chile, 2012. pp. 160 e 162. Un recorrido análogo es el que puede apreciarse en el caso de Chile.

11 Recorro aqui a uma das definições do verbo dizer que Laymert nos oferece em SANTOS, Laymert Garcia dos. Tempo de Ensaio. São Paulo: Companhi da Letras, 1989, p.13.

12 LOSICER, Eduardo. Potência do testemunho: Reflexões clínico-políticas. In CARDOSO, C., FELIPPE, M., VITAL BRASIL, V. Uma perspectiva clínico-política na reparação simbólica: Clínica do Testemunho do Rio de Janeiro. Brasília: Ministério da Justiça, Comissão de Anistia; Rio de Janeiro: Instituto Projetos Terapêuticos, 2015. P.31. ver em https://www.justica.gov.br/central-de-conteudo_legado1/anistia/anexos/clinica-do-testemunho-rj-on-line.pdf

13 PEREIRA CUNHA, Maria Clementina. “Loucura, gênero feminino: As mulheres do Juquery na São Paulo do início do século XX” Revista Brasileira de História (São Paulo, v.9, nº18, ago./set., 1989) 121 à 144.