Flyer, Macquinho ON “One Love”, 9 de junho 2017.

Macquinho ON: Dando voz e vez

Elielton Rocha Telto

Arte cultura plantada na favela que torna o acesso sensível e a sensibilidade acessível.

Breve histórico

O Módulo de Ação Comunitária Miguel Coelho, inaugurado em dezembro de 2008, está situado no alto da comunidade do Morro de Palácio em Niterói, dialogando geograficamente com o Museu de Arte Contemporânea (MAC) que está de frente para o mesmo. Ambos levam a assinatura sinuosa e inconfundível do gênio Oscar Niemeyer. O Módulo, por sua proximidade geográfica e afetiva com o MAC, recebera o nome de Macquinho para abrigar o projeto Arte Ação Ambiental. Esse projeto nasceu em 1999, dada a necessidade do MAC expandir seu território de diálogos com a cidade que o abriga, e se adequa aos novos conceitos museológicos da época, que tinha como desafio criar um museu que interagisse com seu público e com seu entorno.E nada melhor do que a comunidade vizinha para iniciar. O Arte Ação Ambiental assistia a 50 jovens da comunidade do Palácio com oficinas criativas que abordavam os temas de cidadania socioambiental e práticas artísticas, essa iniciativa culminou na construção do Macquinho com investimentos do BNDES e da Prefeitura Municipal de Niterói.

Um banquinho, um violão e um estúdio que desce

Em uma tarde de Sexta Feira de 2012, alguns funcionários da equipe do Macquinho resolveram pegar um banco, violão, caixa de som, pedestal e microfone e montar uma espécie de pocket show na frente do prédio. O então funcionário e músico Cristiano Oliveira mostrava todo seu talento alegrando e interagindo com o público.

No ano de 2014, o prédio do Macquinho deixa de ser apenas o prédio que abriga o Arte Ação Ambiental para se tornar a primeira Plataforma Urbana Digital da cidade de Niterói para uma nova perspectiva de empoderamento social e inclusão sociodigital da população. Agora, munido de um estúdio de som semi-profissional, o Macquinho começa a abrigar bandas e artistas de diversos gêneros musicais para gravar, ensaiar ou para momentos de imersão e laboratório de experiências áudiovisuais.

Um estúdio com essa potência e tendo tanto a dizer não poderia ficar restrito a quatro paredes, e com essa ideia de evidenciar o que era ordinário no cotidiano do estúdio, o DJ William Moreira e o coordenador das ações de arte cultura Elielton Rocha, juntamenteà equipe do Macquinho criaram o “Macquinho ON” ou seja o Macquinho com seu “microfone aberto”.

Por que conceder voz e vez?

O Macquinho ON é um projeto residente do Macquinho que abre seus microfones a artistas e bandas independentespara mostrarem suas habilidades, cada encontro-evento ocorre uma vez por mês, usualmente na 1ª sexta feira. Contando com a participação da banda residente “Paz no Mundo”,o Macquinho ON recebe em cada evento diferentes convidados. O evento é montado na frente do Macquinho, ao ar livre, com vista para o MAC e para a Baía de Guanabara. O projeto ajuda tecer redes de agenciamentos culturais e propicia oportunidades nas quais os envolvidos possam apresentar seu trabalho e sua arte, promovendo o envolvimento e divulgação destes artistas de forma independente.

O projeto, com esse novo formato, teve início no ano de 2016, e já contou com a participação de mais de 15 artistas, de diversos gêneros musicais, desde rap à tradicional orquestra Guanabara. O projeto Macquinho ON já participou de grandes eventos realizados na cidade de Niterói, como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Os participantes se apresentam de forma organizada, estabelecida de acordo com a ordem de chegada. O tempo de apresentação varia, entretanto não é estabelecido. O equipamento utilizado nas apresentações é fornecido por colaboradores do estúdio Macquinho. O evento se promove de forma independente, sem apoio financeiro, contando com apoio de músicos e amigos do projeto.

O projeto se faz importante ao aumentar o cenário da música na cidade de Niterói, divulgar os artistas e promover o estúdio, que é gratuito e aberto a todos.

Voz e vez pra que?

O Macquinho ON tem como objetivo promover um espaço de interação cultural, diversidade de gêneros musicais, e possibilitar a divulgação de artistas independentes, do Macquinho e do estúdio do Macquinho. Sendo, desta forma, uma opção de cultura e lazer para a comunidade e visitantes. O projeto, visando dar continuidade às suas atividades, expandindo e melhorando o seu raio de ação, carece de ajudas, tais como: limpeza do local, manutenção de sonorização e divulgação dos eventos.

A canção que nos descreve

A letra de Elielton Rocha “Telto” descreve bem esse projeto que entendemos como um improviso responsável, um território que abriga experiências poéticas onde podemos trocar e musicalizar o tempo todo.

Rap de Futuro
Letra :Elielton Rocha (Telto)
Arranjos e beat : DJ William Moreira

Qual foi? Sai de cima do Muro. Oi Futuro, diga oi pro seu Futuro!
1998 ideia genial, museu via de mão dupla Niemeyer social
Molecada permeando um novo espaço cultural,
Surgia MAC-Palácio, Arte Ação Ambiental
Arquiteto projetou um desenho especial e hoje somos Plataforma Urbana Digital
Trabalhando o bem comum em vários segmentos
Inclusão sócio digital visando o empoderamento
Favela vive e grita uma vez no mês, evento Macquinho ON concedendo voz e vez
Públicos no plural dão seu recado na sociedade
Tornando acesso acessível e sensível a acessibilidade
Pra sempre! Pois chegou a nossa hora
Remix de ideais tudo junto ao mesmo tempo agora
Um Niemeyer no morro é benção turística,
Bandas talentosas, oportunidades, residência artística
Som que abala além de quatro paredes, conexão efetiva e afetiva tecendo redes
Propiciar um espaço de convergências, tecnologia, linguagens e vivências
Fusão de suportes adaptáveis a fluência, digital e analógico na mesma experiência

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O mundo é polvo que te abraça com vários tentáculos
Abra a mente e as cortinas é hora do espetáculo
Original é o cria e tudo se copia, são inovações que vão da tecnologia
Melhorar a performance, aprimoramento em alto nível
Evidenciando o que outrora era quase invisível
Teclado, guitarra, batera melhorando a qualidade
Voz, baixo, abraça o abraço necessário pra abraçar a cidade
Musicalizar, bora sonorizar, experimentar, novas formas de criar de compor e cantar
Festival de Bandas, culminância de excelência, teoria musical, crescimento em evidência
Buscar seu espaço no mercado, fazer inserção, pra muitos “ganha pão”
Interação, socialização, é hora de fazer história e a trilha sonora é “Macquinho” ON
Onde quer que você esteja,onde quer que eu vá
Voo mais alto, a arte me leva só pra encontrar e se é pra te encantar
Em qualquer rima fina e imersa, do físico pro virtual e vice-versa
Não barreira entre arte e a vida, entre nós e o mundo, o futuro é ponto de partida
Confia em mim? Oi Futuro! E não será à toa que vamos potencializar conexões que impulsionam pessoas.

 

 

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Elielton Rocha
“Telto” (1984), professor de educação infantil, arte educador, poeta e coordenador de arte cultura e cidadania do Macquinho Plataforma Urbana Digital de Niterói. Atualmente leciona em uma Creche Comunitária e atua na Coordenação de ações socioculturais do Macquinho.
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1 [Nota editora N.E.: A 3ª parte do video Cuidado como método nesta edição inclui entrevistas com “Telto” e William Moreira, coordenador do estúdio.