O think piece de Tania Rivera aponta para a ressonância poética da arte no mundo e a importância de uma prática curatorial, crítica e pedagógica de dispersão e disseminação. Em dois estudos de casos internacionais, Claudia Zeiske e Nuno Sacramento mostram a vitalidade da arte contemporânea em contextos rurais. Dois estudos de casos nacionais exploram a potência da vida pública da arte: 8ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, e diferentes reflexões sobre a instalação oBichoSusPensoNaPaisaGen, de Ernesto Neto. Nestes territórios vivos surgem novos horizontes de possibilidades práticas das poéticas do cuidar e curar, como mostra o processo de José Rufino com os pacientes da doença de Alzheimer – parte de uma exposição e residência do artista no Museu Andy Warhol nos Estados Unidos –, relatado em um artigo nesta edição.
Além disso, a entrevista em vídeo com Jailson de Souza e Silva, diretor do Observatório de Favelas no Rio de Janeiro, pensa a cidade como um território criativo e pedagógico, e o ensaio fotográfico de Leonardo Guelman mostra o mundo popular e religioso do povo nordestino.
O “think piece” de Fred Coelho, refletindo sobre os temas da revista, aponta para o “como viver juntos”. Apresentamos quatro estudos de casos: Angela Carneiro nos introduz o curso de extensão Universidade das Quebradas; Roberta Condeixa explora a experiência de Juan Manuel Echavarría no seu laboratório terapêutico com os ex-guerrilheiros do narcotráfico na Colômbia; Felipe Moreno discorre sobre René Francisco e seus cursos intitulados de “pragmáticas pedagógicas”, criando com seus alunos ações coletivas fora das salas de aulas; e o coletivo argentino Ala Plástica expressa sobre seu engajamento ambiental e biorregional.
A vídeoentrevista para esta edição foi realizada com o artista Carlos Vergara que, com sua prática de se deslocar e viajar pelo mundo, reconhece a potência do artista como “um coadjuvante”. Também faz parte da revista um ensaio sonoro com o artista Guilherme Vaz, filmado na mata atlântica em Niterói, percorrida por Charles Darwin. Finalmente, o artigo de Cristina Ribas explora seu projeto “Vocabulário Político para Processos Estéticos”, uma colaboração com 30 artistas e pesquisadores na criação de novos vocabulários políticos e transversais.
O think piece de Peter Pál Pelbart abre esta cartografia associando o ser humano contemporâneo com a aranha, daí cruzam-se corpos da política de contracafetinagem no artigo de Rodrigo Nunes à vídeo-entrevista sobre reconfiguração do público de Danilo Streck, que transbordam para as corporizações moventes e comoventes do filme do coletivo ¡NoPasaran! sobre as manifestações de 2013.
Esta edição se torna especial pela diversidade geográfica (nacional e internacional) dos acontecimentos e ensaios reunidos. Ressaltamos três estudos de casos nacionais com ensaios, vídeos e depoimentos realizados a partir do projeto itinerante O Sentido do Público na Arte, graças ao Prêmio (10ª edição) Redes de Encontros nas Artes Visuais da Funarte. Três regiões distintas do Brasil, ou ecossistemas culturais, são representadas pelos encontros do projeto no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Juazeiro do Norte, Cariri.
Essa trama de aprofundamentos se tornou transcultural com a inclusão de dois estudos de caso internacionais: Glasgow Museum of Arte, na Escócia, e Biblioteca Keleketla!, em Johannesburgo, África do Sul.
Edson Sousa, em seu think piece, explora a utopia como um movimento que vai do futuro ao passado, numa correnteza contra a realidade. Em seu ensaio fotográfico Graciela Carnevale compartilha a ideia de um contrafluxo de futuro com as utopias silenciadas das experiências radicais do Grupo de Vanguarda Artística Argentino em 1968.
Dois estudos de casos nacionais exploram projetos contemporâneros inspirados nas histórias experimentais da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro nos anos 70. Em seu estudo de caso internacional, Mary Jane Jacob e Kate Zeller exploram as referências históricas de John Dewey e Jane Addams para seu projeto A prática vivenciada em Chicaco. Em Santiago, Chile, Claudia Zaldivar relata a história do Museo de La Solidaridad Salvador Allende e sua genealogia de esperança e luta.
Em seu artigo de universidades livres, Sergio Cohn esboça a história de escolas inspiradas no anarquismo no Brasil e explora paralelos contemporâneos. A vídeo-entrevista desta edição explora o projeto lendário The Model: A Model for a Qualitative Society (O Modelo: Um Modelo para uma Sociedade Qualitativa) no Moderna Museet, em Estocolmo, em 1968, e o The New Model: An Enquiry (O Novo Modelo: Uma Investigação), projeto de pesquisa que investiga o legado do The Model.
Com a colaboração de mais de noventa pessoas de diferentes continentes, contextos e territórios sócio-culturais, MESA # 5 aposta no potencial dos encontros de criarem relações de afetos, de abraçarem as diferenças e abrirem novas formas de comunicação. Especialmente alimentada pelos desdobramentos do Encontro Internacional Cuidado como Método # 2, realizado no Rio de Janeiro nos meses de setembro e outubro de 2017, esta edição representa a culminância de três anos de diálogos. Reunindo diferentes experiências de pessoas, grupos e instituições, a presente edição aprofunda os debates, visitas e festividades que integraram este encontro internacional e também registra as iniciativas de diversos grupos do trabalho na Escócia e do Projeto arte_cuidado no Brasil. Aqui podemos reconhecer as ressonâncias geradoras dessa rede internacional de colaboração em artigos, na think piece, em diálogos, intervenções e estudos de caso reunidos pela primeira vez nesta publicação.